Com suas portas fechadas, a sede da SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco parecia vazia, no final da tarde do último sábado (23), mas, ao subir as escadas de acesso ao primeiro andar do prédio, era possível escutar vozes que vinham de uma sala central.
O som aumentava conforme a proximidade e, antes de abrir as portas, além das vozes ressoantes, ouvia-se um burburinho de gente, risadas e alguns instrumentos de percussão fazendo algazarra no espaço que, dividido por cerca de 50 aprendizes, além de coordenadores e formadores de diferentes Cursos Regulares, abrigava a primeira vigília literária realizada na SP Escola de Teatro.
Ler ininterruptamente o maior número possível de páginas do livro “Viva o Povo Brasileiro”, assinado por João Ubaldo Ribeiro era o objetivo da vigília, afinal, neste semestre, os aprendizes do Módulo Amarelo focam seus estudos nos pressupostos e elementos que se relacionam ao teatro narrativo, tendo essa publicação como objeto de reflexão e apoio.
Aprendizes do Módulo Amarelo durante a vigília (Foto: Arquivo SP Escola de Teatro)
Um amontoado de colchonetes, edredons e travesseiros esquentava os participantes da vigília na noite fria. Apelidada de “Sopa do Holândes”, em homenagem a uma das personagens da história de João Ubaldo, uma grande panela de sopa quente, entre outros acepipes, matava a fome dos participantes da leitura, que durou até as 7h30 da manhã do domingo (24).
Sentados com seus livros nas mãos, aprendizes, formadores e coordenadores da Escola acompanhavam a leitura contínua do texto, feita por duas pessoas que ora liam, outrora interpretavam, trechos deste clássico da literatura nacional.
Em um espaço aberto para todos aqueles que tivessem vontade de colocar a voz para fora, até a equipe de Produção da SP Escola de Teatro entrou na brincadeira, e Gustavo Ferreira e Ricardo Pettine utilizaram suas facetas de atores para participar da leitura ao lado dos aprendizes e corpo docente da Instituição.
Em contraplano Gustavo Ferreira durante a vigília (Foto: Arquivo SP Escola de Teatro)
“Estou aqui desde as 17h. Depois que organizei tudo, fiquei para acompanhar a vigília e já li duas vezes”, explicou Ferreira que, ao lado do coordenador pedagógico Joaquim Gama, se preparava para iniciar sua terceira leitura.
A formadora de Sonoplastia Cíntia Campolina, além de participar da leitura, ajudou alguns de seus aprendizes na realização de uma sonoplastia improvisada para a leitura. Incansavelmente, a aprendiz Luana Hansen acompanhava cada trecho da leitura e, vez ou outra, até se jogava no chão para dar ênfase a sua sonoplastia/performance.
A sala se manteve aberta para a entrada de novos participantes e, entre idas e vindas, cerca de 80 pessoas participaram da vigília, entre elas, o coordenador do curso de Atuação, Francisco Medeiros, Raul Barretto, coordenador do curso de Humor, e formadores, como Filipe Brancalião, de Atuação.
Ao todo, este grupo conseguiu se manter em pé durante 14 horas de leitura ininterrupta e, exatamente, às 7h30 da manhã, como em uma comemoração de terreiro, um coro alegre finalizou a vigília fechando o livro na página 402.
A mesa do lanche com os aprendizes ao fundo (Imagem: Arquivo SP Escola de Teatro)
O aprendiz Lui Seixas, de Iluminação, observou o fragmento do livro que fechou a vigília. “O fim foi feito em coro. Com a leitura de um trecho fantástico que narra a fé, a luta, a resistência de nosso Nêgo Lelé; de nós nesta vivência/vigília, de nós fazedores de teatro, de nosso povo brasileiro… Viva!”
“Foi muito bom! Valeu muito por tudo, principalmente o final!”, declarou o aprendiz Lucas França que, provavelmente, logo entrará no coro daqueles que propuseram uma segunda vigília para terminar a leitura completa do livro.
Texto: Renata Forato
