No final da tarde de 23 de setembro de 2011, os aprendizes da SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco davam início a uma vigília literária que atravessaria a noite e acabaria apenas na manhã seguinte, um domingo.
Ler ininterruptamente o maior número possível de páginas do livro “Viva o povo brasileiro”, de João Ubaldo Ribeiro, era o objetivo, afinal, durante todo aquele semestre, os aprendizes do módulo Amarelo focaram seus estudos nos pressupostos e elementos que se relacionam ao teatro narrativo, tendo essa obra como objeto de reflexão e apoio.
Naquela noite, um amontoado de colchonetes, edredons e travesseiros esquentaram os participantes da vigília. Apelidada de “sopa do holandês”, em homenagem a uma das personagens da história, uma grande panela de sopa quente, entre outros aperitivos, foram servidos aos aprendizes, formadores e coordenadores da Escola.
Alguns permaneciam sentados, enquanto outros preferiam deitar ou até mesmo ficar em pé por algum tempo, com seus livros nas mãos, acompanhando a leitura contínua do texto, que era feita por duas pessoas.
A vigília (Foto: Arquivo SP Escola de Teatro)
Ao todo, o grupo conseguiu ficar acordado durante 14 horas de leitura ininterrupta e, exatamente às 7h30 da manhã, um coro alegre finalizou a vigília, fechando o livro na página 402 desta obra-prima da literatura brasileira.
O escritor e acadêmico João Ubaldo Ribeiro morreu hoje (18), no Rio de Janeiro, aos 73 anos. Certa vez, ele disse, em uma entrevista, que “a arte é uma forma de conhecimento”. João conheceu muito, de muitas coisas. Conheceu o Brasil e nossa realidade como ninguém. E partiu deixando uma trajetória única e imortal, contribuição inestimável para que nós mesmos nos conheçamos melhor.
