“Um grande dramaturgo é aquele que faz a gente redescobrir as palavras”, disse Matteo Bonfitto, formador convidado de Dramaturgia da SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco, enquanto aprendizes se preparavam para mostrar o resultado de um exercício inusitado proposto por ele, nesta terça-feira (16/8).
“Aflamou”, “nhec nhec”, “bau bau”, “oca oca”, “mil mil”, “aflar”, “beng beng beng” e “uuuuuu” foram os vocábulos que Bonfitto selecionou para esta proposta de exercício curiosa. A ideia é que os aprendizes sugerissem uma solução, em forma de cena, na qual essas palavras ganhassem um sentido, baseados na questão “quando produzo dramaturgia, de que modo busco entrelaçar a informação com a experiência?”
A sala de Dramaturgia, antes silenciosa e concentrada, tornou-se um pequeno palco com cenas engraçadas e, em meio a um ensaio improvisado, Dione Carlos, aprendiz do curso, até brincou. “Essa aula é boa porque trabalha minha imaginação e circulação.”
Após a sequência de cenas apresentadas, Bonfitto passou, então, a usar algumas situações como exemplos. “A sonoridade foi explorada de maneira previsível nas cenas? Para vocês, os gestos e a corporeidade dão conta de definir uma palavra?”, questionou.
Para o diretor, essa proposta faria com a turma repensasse o significado cultural das palavras, passando, então, a estabelecer um sentido para estas conotações por meio de suas sonoridades, musicalidades e, por fim, materialidades.
Lara Hassum e Paulo Rocco sorrindo com as onomatopeias do exercício
Em sua segunda semana de aula, Cristina Maluli, aprendiz do curso, revelou que a aula e o exercício foram muito interessantes. “O Bonfitto deu conta de ampliar nosso olhar sobre a nossa própria escrita, trazendo novos caminhos para criar e nos aprofundar em nosso trabalho.”
Para Alex Araújo, dialogar com os textos que outros aprendizes produziram no semestre passado é o grande mérito das aulas. “Ele traz uma visão de ator e diretor e, ainda, com um embasamento teórico diferente daquele que lidamos. Ele trabalha a performatividade da palavra, do movimento, da fala, isto é, do ator/performer.”
Marici Salomão, coordenadora do curso, conta que Bonfitto foi convidado para lecionar a fim de colocar em discussão o teatro de grupo, a performatividade e a relação do teatro com a cidade. “Ele é um artista e pesquisador de ponta na área da performatividade. Mais que isso, tem o mérito de ser fundador de um grupo atuante na contemporaneidade e, sobretudo, é um jovem artista com um trabalho de alcance mundial”, explicou.
Do Mundo para a SP Escola de Teatro
Bonfitto é ator, diretor, e pesquisador teatral. Cursou a Escola de Arte Dramática da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Fez graduação no Departamento de Arte, Música e Espetáculo (DAMS), da Università Degli Studi di Bologna, Itália. É Mestre em Artes, pela ECA/USP, e Ph.D., pela Royal Holloway University of London, Inglaterra.
Entre 2002 e 2006, Bonfitto desenvolveu pesquisa teórico-prática sobre o trabalho do ator no teatro de Peter Brook. Atualmente, além do trabalho artístico no teatro profissional, apresentado no Brasil e no exterior, é professor do Departamento de Artes Cênicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Como autor, publicou inúmeros artigos sobre esse tema, bem como os livros “O Ator Compositor” (Ed. Perspectiva, 2002) e “A Cinética do Invisível” (Ed. Perspectiva, 2009). Em 2010, foi convidado a desenvolver uma pesquisa junto ao The Graduate Center (CUNY), em Nova York.
Texto: Renata Forato