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Escola Sedia Lançamento de “Do Teatro”

Publicado em: 22/08/2012 |

Todo mundo levou um baita susto!!! Mas no melhor dos sentidos. Quando o ator, diretor e pesquisador teatral Diego Moschkovich tomou para si a palavra para falar sobre a tradução do russo para o português do livro “Do Teatro”, primeira e única obra publicada em vida pelo ator, diretor, pedagogo e pesquisador Vsévolod Meyerhold, o comentário era um só: “Mas ele é tão jovem!”. Sim. Com apenas 27 anos, Diego encarou a empreitada nada fácil. E a executou com maestria. O resultado de sua dedicação de quase três anos está materializado em “Do Teatro” (288 págs., Editora Iluminuras, R$ 47), livro que foi lançado oficialmente na noite de ontem (21), na Sede Roosevelt da SP Escola de Teatro– Centro de Formação das Artes do Palco.

O evento foi marcado, inicialmente, pela palestra “O Legado de Meyerhold e os Desafios de uma Tradução Voltada à Prática Teatral”, com Moschkovich, seguida de bate-papo com o tradutor e sessão de autógrafos.

E diante de um auditório lotado, com direito a algumas pessoas de pé, Moschkovich passou a dissertar sobre a trajetória de Meyerhold, do teatro russo, da ligação do primeiro com Stanislávski e das dificuldades de se traduzir um texto de sua língua original para o português, além da importância disso. “Acredito que esse livro irá abrir a oportunidade de se divulgar o que faltava para o aluno de teatro, que não tinha acesso à tradução em francês ou em outro idioma. E trata-se de uma obra necessária a pessoas que estão começando nas artes do palco”, observou Moschkovich.

De acordo com o tradutor, Meyerhold foi uma das peças principais da grande reforma teatral do século 20, que tirou o teatro de status de puro entretenimento para analisá-lo dentro de uma perspectiva artístico/científica. O problema era que ele acreditava que o teatro era um dos ofícios a serem transmitidos oralmente, de mestre para discípulo. “Daí que muito do seu material, de suas anotações, foram feitas de maneira dispersa. Por isso, ao ler o livro, vocês vão notar que ele foi feito não como uma tese de mestrado, mas sim em forma de monólogo”, contou.

Em “Do Teatro”, pode-se observar claramente as pesquisas daquilo que formaria a “base fértil” para o desenvolvimento de quase todas as ideias, amadurecidas e concretizadas nos trabalhos posteriores de Meyerhold. A obra aborda a formulação de conceitos fundamentais da arte teatral a partir da análise de uma experiência histórica bastante concreta, e, por outro lado, descreve um período importante para a história do teatro, com base nas formulações teóricas sobre o fazer dessa arte. Béatrice Picon-Vallin é quem assina o prefácio desta edição com uma precisão enorme: trata-se, realmente, de um livro único

 

Diego Moschkovich, durante a palestra “O Legado de Meyerhold e os Desafios de uma Tradução Voltada à Prática Teatral”: plateia lotada, na Sede Roosevelt da SP Escola de Teatro (Foto: Helio Dusk)


Depois de uma explanação de quase uma hora, que encantou a todos, foi a vez de Moschkovich responder às questões da plateia. O primeiro a perguntar foi o coordenador do curso de Sonoplastia da SP Escola de Teatro,
Raul Teixeira, que pediu para o tradutor falar sobre qual a principal diferença de se ter o texto de Meyerhold traduzido diretamente do russo para o português e suas outras edições. “A principal questão vem do fato de que, com essa ponte direta entre os idiomas, é possível, mais do que traduzir, adaptar certos conceitos e expressões usadas por Meyerhold para o nosso idioma, nossa cultura. Por exemplo, para o termo Balagan, que eram aquelas feiras de variedades, com mulher barbada, gêmeos siameses, não encontrei um referencial brasileiro, já que nunca tivemos essa tradição, tão comum na Europa e na Ásia. Por isso, preferi manter a palavra original”, respondeu.

De fato, o nome de Meyerhold é um dos que continuam envoltos em sombras até os dias de hoje, apesar dos incontáveis esforços de inúmeros pesquisadores de garimpar o precioso arquivo, chamado pelo cineasta Serguei Eisenstein, seu discípulo, de “meu tesouro”. O assassinato de Meyerhold, em 1940 (inscrito no Partido Comunista, ele foi condenado à morte por Stálin, tido como inimigo do povo), e o massacre da Segunda Guerra Mundial fizeram com que o nome do diretor só voltasse a aparecer na imprensa soviética em 1956, criando um vácuo de 16 anos na transmissão viva dos ensinamentos práticos desse mestre. Finalmente, “Do Teatro” chega agora para ajudar a cobrir ainda mais esse “vazio”.

“É um orgulho para nós, aqui da Escola, fazer essa parceria com a Editora Iluminuras para o lançamento desse livro, tão importante para o nosso ofício”, disse Ivam Cabral, diretor executivo da SP Escola de Teatro, fazendo coro com Samuel Leon, editor da Iluminuras, que também compõe o Conselho da Associação dos Artistas Amigos da Praça, Organização Social de Cultura, responsável pela gestão da SP Escola de Teatro.




 

Texto: Majô Levenstein

 

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