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Em intercâmbio artístico, aprendizes da SP Escola de Teatro montam texto tcheco na Polônia

Publicado em: 15/12/2014 |

“Dzién dobry”. Desmistificando uma suposta frieza que só existe de verdade no clima, essas palavras, que significam “bom dia”, estão entre as mais ouvidas por Aline Negra Silva e Felipe de Oliveira nas ruas de Gniezno, cidade localizada no centro-oeste da Polônia. 

 

Brasileiros, claro, e aprendizes egressos da SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco, eles estão no país por meio de um intercâmbio artístico promovido pela Escola em parceria com o Teatr Fredry.

 

O edital no qual a dupla foi selecionada foi lançado em julho, abrindo duas vagas para aprendizes regulares ou egressos interessados em participar da montagem de um espetáculo com a equipe do teatro polonês, sob direção artística de Lukasz Gajdzis. 

 

Assim, Aline, que estudou Direção na Escola, e Felipe, que cursou Cenografia e Figurino, estão vivendo essa experiência única desde outubro. O texto trabalhado por eles é “A confissão de um masoquista ou Labirinto do mundo e o paraíso do chicote”, do dramaturgo checo Roman Sikora. A peça foi selecionada pela instituição polonesa, assim como os atores e técnicos locais, e estreará nesta sexta-feira (19).

 

“Os artistas com quem estamos trabalhando são muito receptivos e abertos a novas experiências com o teatro e as demais linguagens artísticas, como a dança e o vídeo, que eu proponho experienciar na cena. Estão sendo verdadeiros parceiros e procuram nos auxiliar o máximo possível, enquanto nós também colaboramos para que o desenvolvimento do projeto flua de forma produtiva e qualitativa”, comenta Aline. 

 

Na trama da peça, que está sendo encenada pela primeira vez, um homem identificado apenas como Senhor M. decide contar sua história à plateia, revelando como seu descontentamento com a comunidade sadomasoquista o levou a ter uma ideia que mudaria sua vida para sempre. 

 

Segundo a diretora, no processo eles lidaram com questões universais, “para problematizar algumas questões pertinentes não somente aos poloneses, mas a todos que se permitem viver nesta sociedade capitalista e fadada ao ‘fracasso’ do apego materialista, egoísta, workaholic e sem fim”. Ela ressalta, no entanto, que o tema é abordado de maneira direta, sem moralismo e com bom humor.

 

Durante o processo de criação – que preza pela experimentação e em que, como na proposta da Escola, todos os artistas são compreendidos como sujeitos criativos e criadores – ganhou força a metáfora de um cavalo, que trabalha pesado durante horas, dias, meses e anos para ser “livre”, mas de quê? No nosso caso, para sermos livres a fim de consumirmos aquilo que desejamos, num ciclo infinito.

 

Sobre seu ofício, Felipe, que está passando por sua primeira experiência internacional como cenógrafo e figurinista, observa que “o intercâmbio funciona como um complemento aos conhecimentos aprendidos em aula e uma oportunidade de desenvolvimento e aperfeiçoamento artístico”. Além de ser uma fonte rica de trocas de conhecimentos técnicos e artísticos, ele revela que o intercâmbio “também proporciona entender como o trabalho na área de teatro – mais especificamente o trabalho de cenografia e figurino – funciona em uma companhia de teatro não brasileira, percebendo as diferenças e similaridades desses processos”.

 

Sede do Teatr Fredry

 

A vivência adquirida na Escola também foi de grande valia para seu crescimento, ele revela. “Estudar na SP Escola de Teatro ampliou os meus horizontes e ofereceu a possibilidade de enriquecer as minhas referências e os meus conhecimentos artísticos e profissionais. E a experiência de ter passado por tantos experimentos, acredito eu, nos prepara de forma bastante dinâmica para a descoberta de novas soluções e aprendizados.”

 

Apaixonado assumido por viagens, Felipe parafraseia Fernando Pessoa para definir a sensação que tem ao conhecer novo lugares e culturas: “As viagens são os viajantes. O que vemos não é o que vemos, senão o que somos”.

 

Com a data de estreia batendo à porta, Aline espera que o espectador também possa desfrutar desse encontro entre brasileiros e poloneses. “Que ao final deste processo o espetáculo, com toda as suas discussões, possa ser experienciado pelo espectador de uma forma lúdica. Vamos aglutinar algumas linguagens que talvez ainda não tenham sido trabalhadas antes pelos atores do projeto, como a dança e o vídeo”, adianta.

 

Brasil e Polônia alinhados

Se você não pode pegar um avião e ir até a Polônia para presenciar a montagem inédita desta peça de Roman Sikora, nem tudo está perdido. Isso porque, enquanto a dupla Aline/Felipe trabalha na Polônia, aqui no Brasil, a mais de 10 mil quilômetros de distância, uma versão da peça está sendo desenvolvida com aprendizes atuais e egressos da Escola. 

 

A montagem, que também faz parte do intercâmbio, estreará na mesma data da encenação polonesa e será apresentada ao público do Brasil na Sede Roosevelt da Escola, nos dias 19, 20 e 21 de dezembro. 

 

Com adaptação e direção de Adriana Lobo Martins, formam o elenco Gabriel Cândido, Rita Couto e Tom Paranhos, também aprendizes da Instituição (regulares ou egressos), assim como os demais membros da equipe.

 

O projeto

A encenação de “A confissão de um masoquista” faz parte do projeto de intercâmbio promovido pela SP Escola de Teatro em parceria com o Teatr Fredry, em Gniezno (Polônia). Dois aprendizes do curso de Direção e dois aprendizes do curso de Cenografia e Figurino foram selecionados para desenvolver a montagem desse texto em ambos os países, com a perspectiva de estrearem no mesmo dia.  

 

Enquanto uma dupla trabalha com a equipe do teatro local polonês, orientada pelo diretor artístico Lukasz Gajdzis, a dupla brasileira desenvolveu uma versão da peça com aprendizes atuais e egressos da Escola, que será apresentada ao público do Brasil.

 

“Na certeza de que não há, no mundo, escola que faça isso, observamos nossa Escola e nossos aprendizes crescendo mutuamente, subindo degraus e vislumbrando novos horizontes. Seguramente, as oportunidades que estamos gerando darão frutos lindos”, comenta Ivam Cabral, diretor executivo da Escola.

 

Ficha técnica (montagem brasileira)

“A Confissão de um Masoquista

ou Labirinto do Mundo e o Paraíso do Chicote”

De Roman Sikora

Adaptação e Direção: Adriana Lobo Martins 

Adereços: Clau Carmo, Márcia Pires 

Cenografia e Figurinos: Márcia Pires 

Cenotécnicos: Antonio Augusto, Cezar Renzi, Letícia Madeira, Thays do Valle

Elenco: Gabriel Cândido, Rita Couto, Tom Paranhos 

Iluminação: Anderson Vital 

Sonoplastia: Renato Navarro 

Tradução: Marcio Aquiles

 

Serviço

“A Confissão de um Masoquista

ou Labirinto do Mundo e o Paraíso do Chicote”

Quando: 19, 20 e 21 de dezembro (sexta e sábado, às 21h; domingo, às 19h)

Onde: SP Escola de Teatro – Sede Roosevelt 

Praça Roosevelt, 210 – Centro

Tel.: (11) 3775-8600

Grátis

 

Texto: Felipe Del

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