Os aprendizes dos módulos Vermelho e Amarelo da SP Escola de Teatro tiveram, na última sexta-feira (18), a oportunidade de conversar com a atriz veterana Nathalia Timberg, que soma mais de 60 anos de carreira no teatro, na televisão e no cinema. O bate-papo, que fez parte do Território Cultural Expandido, foi mediado pelo cenógrafo J.C. Serroni, coordenador dos Cursos Regulares de Cenografia e Figurino e Técnicas de Palco.

Nathalia Timberg no bate-papo com aprendizes na SP Escola de Teatro. Foto: Bruno Galvincio
Nascida no Rio de Janeiro, filha de pai polonês e mãe belga, Timberg se formou na década de 1940, na então Universidade do Brasil (hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro), em sua Escola de Belas Artes. No entanto, sua estreia como atriz começou bem cedo, por volta dos cinco anos, quando ela atuou no filme “O Grito da Mocidade”, dirigido por Raul Roulien, a convite do diretor teatral curitibano Olavo de Barros.
Nathalia estudou na França com Jean-Louis Barrault, no curso de formação de atores “Education par les Jeux Dramatiques”, na década de 1950. Aos 25 anos, entrou para a Companhia Dramática Nacional e, dois anos mais tarde, para o célebre Teatro Brasileiro de Comédia (TBC). Sua estreia na TV ocorreu em 1956 na emissora Tupi e, desde então, passou pelas TVs Excelsior, Cultura e Globo. Em toda sua trajetória, acumula mais de 60 peças de teatro, 60 novelas e 11 filmes.
Um dos trabalhos mais importantes para a convidada foi a montagem do diretor polonês Zbigniew Marian Ziembiński para “Senhora dos Afogados”, de Nelson Rodrigues, que estreou em 1954, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. A peça também marcou a estreia profissional da atriz. “Nesse momento, Nelson Rodrigues não era cultuado como é hoje. Era um novo dramaturgo enfrentando uma sociedade que rejeitava a crueza de sua abordagem na dramaturgia, por mais que estivesse apresentando um teatro arrojado e com formas novas. Ele entrou em cena, discutiu e brigou com a plateia. Metade do público aplaudia, metade do público vaiava. Foi uma guerra”, comentou.
Antes mesmo de começar o bate-papo, Nathalia agradeceu o convite e disse que a SP Escola de Teatro é a escola de seus sonhos. “Sonhamos que todos estejam aqui por uma necessidade de usar essa forma de comunicação [o teatro], que é extremamente complexa e, ao mesmo tempo, fascinante. E que responde a esse anseio de discutir o homem, o mundo em que nós vivemos. Acho que esta escola é a única no país que eu conheço que se preocupa com isso. Eu fico muito emocionada por estar aqui, porque eu acho que é um lugar onde realmente se aborta o teatro como ele deve ser abordado. A escola para mim não é um lugar em que você vá ler apostila, e sim um lugar que vai orientar a sua pesquisa pessoal. Eu acho que isso faz toda a diferença”.
A atriz destaca que existe uma diferença entre fazer teatro e fazer um espetáculo. “Há uma visão mais profunda do que seja fazer teatro e o prazer de se exibir no palco. Tem gente que procura o nosso ofício simplesmente por vaidade e existem aqueles que vêm por uma necessidade de expressão. Estes escolheram o veículo mais complicado, porque o teatro engloba praticamente todas as outras atividades, inteligentes ou não, do ser humano. E também engloba a necessidade de se comunicar com um instrumento altamente instável, pois é muito difícil estabelecer regras absolutas em relação a ele e à maneira de usá-lo”, esclarece.
Quando questionada por Serroni sobre as mudanças no teatro desde os anos de 1957, a veterana afirma que o Brasil vive uma nova realidade. “A formação das pessoas mudou para pior. É por isso que nós estamos com tantos problemas no teatro. O nível de interesse da nossa gente desceu muito. Não só pelas consequências de todas as dificuldades, problemas, crises, mas também por causa da formação. Hoje temos uma geração de pessoas que não entendem a nossa língua. O que você pode esperar do tipo de interesse que essa geração pode desenvolver?”, indaga.
Outro tema discutido no encontro foi a televisão e o problema da qualidade de conteúdo nesse meio. “A televisão é o veículo é o mais forte de que se dispõe atualmente no mundo, o que comunica com o maior número de gente neste país. Portanto, os nossos intelectuais deveriam se preocupar muito com o que se faz na televisão. Nós tivemos bons autores escrevendo para a TV, como o [Gianfrancesco] Guarnieri e o Lauro César Muniz. Tem gente que nós respeitamos no passado e no presente. É possível fazer uma televisão muito interessante. Nós já vimos isso. Temos agora que brigar pela qualidade, porque a cabeça do público se faz diante daquela coisa. É uma responsabilidade enorme”, provoca .
O conselho final de Nathalia Timberg aos futuros profissionais dos palcos é a necessidade de estudar a língua portuguesa. “A palavra é a base do nosso trabalho. Gente, a nossa língua tão maravilhosa está sendo esquecida. O ator é um intérprete. Trazer um texto para a nossa embocadura é conseguir dizê-lo bem, e não conseguir dizê-lo como você fala em seu cotidiano. Dias Gomes é um, o Machado de Assis é outro e o Plínio Marcos é outro. Nós temos que ter nossa embocadura preparada para saber dizer bem todos eles. Só podemos fazer isso se estudarmos a nossa língua”, conclui.