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Douglas Irvine: um escocês entre nós

Publicado em: 05/08/2013 |

Douglas Irvine (à esq.), durante sua palestra a formadores e coordenadores da Escola, com tradução consecutiva do assistente de Diretoria Óscar Silva (Foto: SP Escola de Teatro/Arquivo)

Na semana que passou, às vésperas do retorno às aulas aqui na SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco, coordenadores e formadores participaram de diversas reuniões com artistas, dramaturgos e pesquisadores das artes do palco, que falaram sobre suas respectivas trajetórias, a fim de inspirá-los neste próximo semestre.

Nesta nova jornada que se iniciou no sábado (3), os módulos serão o Vermelho (matutino) e Amarelo (vespertino). No primeiro, o eixo trabalhado será a Narratividade. O operador será o antropólogo carioca Eduardo Viveiros de Castro; o material à disposição dos aprendizes será a obra do cartunista Laerte Coutinho e Hagoromo. O artista pedagogo é Ishin Há.

Já o módulo Vermelho terá como eixo investigações teatrais, a serem definidas pelos próprios aprendizes do núcleo. O operador será o termo grego Parresia, desenvolvido pelo filósofo francês Michel Foucault; o pedagogo se dividirá entre Íon; Coriolano; Galileu; “Morte de Danton”; “Inimigo do povo”; “Rei Lear”; “Édipo”; “Insulto ao público”; Itaminda (Guerreiro de Tupã); “Pato selvagem”; “O tartufo”; “Ubu”; Mandarin; “Auto da compadecida”; “O pagador de promessas”. O material também será definido pelo núcleo.

Assim, formadores e coordenadores puderam ouvir profissionais como o cartunista Laerte Coutinho; o dramaturgo Luís Alberto de Abreu; a semioticista Christine Greiner; o professor Cassiano Sydow Quilici; o antropólogo Pedro Cesarino, e a atriz, diretora e pesquisadora Alice K.

Além deles, na sexta-feira (2), o diretor escocês Douglas Irvine conversou com o corpo docente da Escola, ao qual contou sua história como diretor artístico, há mais de 21 anos, da companhia Visible Fictions. Além deste encontro, Irvine também irá acompanhar, de perto, durante todo mês de agosto, o trabalho da Pedagogia e da Diretoria, para entender como a Escola funciona e como se dá o processo de formação do aprendiz.

O principal objetivo deste intercâmbio é criar laços com artistas e trocar conhecimentos e experiências que reverberarão no futuro, entre Brasil e Escócia. No mês passado, Irvine esteve acompanhando o trabalho desenvolvido no Teatro Oficina, de José Celso Martinez Corrêa, e, em junho, cumpriu residência no Teatro Vila Velha, em Salvador. A seguir, a entrevista que ele concedeu ao portal da Escola:

No que vai consistir sua residência aqui na Escola?
Estou aqui para estabelecer conexões culturais, estreitar os laços de amizade entre Escócia e Brasil, conversar com os formadores e aprendizes para ensinar, aprender e dividir conhecimentos e práticas com cada um, para entender o sistema de ensino na SP Escola de Teatro e investigar os caminhos pelos quais a organização conduz, gerencia e produz seu trabalho. Acima de tudo, espero ajudar no que eu puder, enquanto estiver por aqui.

Quais são suas expectativas em relação à sua residência aqui?
Para ser honesto, não sei muito bem o que esperar! Estou aqui no Brasil há dois meses – um no Teatro Vila Velha, em Salvador, e outro passei pelo Teatro Oficina, aqui em São Paulo. Ambas companhias me mostraram diferentes modelos de operação, caminhos de trabalho, estilos de liderança e me deram muita inspiração e novos pensamentos. A estada aqui na SP Escola de Teatro acho que será algo parecido.

Quanto tempo ficará?
Estarei por aqui até o final de agosto.

Por que escolheu a SP Escola de Teatro pra fazer sua residência?
Eu queria obter o máximo de experiência teatral aqui no Brasil, durante minha estada. Os outros lugares que visitei, em Salvador e em São Paulo, eram muito diferentes entre si: um era um prédio de teatro, com programa de visitação e encenações em salas fechadas; o outro, uma companhia de teatro dedicada à criação de um trabalho próprio, exclusivo. Estar aqui na SP Escola de Teatro me dá uma outra noção de como as coisas são feitas no Brasil a partir de uma perspectiva muito diferente, com uma missão muito diferente e diferentes estratégias de alcançá-la.

O que conhece do teatro brasileiro? Admira algum ator, encenador?
Esta é uma das razões pelas quais estou aqui – descobrir mais sobre o teatro brasileiro. Desde que eu cheguei, estou impressionado pelo trabalho que vi dos diretores Márcio Meirelles (Teatro Vila Velha) e Zé Celso (Teatro Oficina) – e alguns dos atores dessas companhias foram particularmente emocionantes. Eu fiquei fascinado em aprender sobre a vida e a influência de Cacilda Becker na última produção do Teatro Oficina. Eu também me diverti com produções dos Satyros e dos Parlapatões.

Quais as principais semelhanças e as principais diferenças entre o teatro brasileiro e o teatro escocês?
Essa é uma boa pergunta… E difícil de responder! A forma como o trabalho é apoiado financeiramente parece ser muito diferente entre os dois países – e eu tenho ficado muito impressionado com a desenvoltura, determinação e criatividade dos profissionais de teatro daqui – antes mesmo de começar a fazer uma produção real! Parece haver um desejo de ambos os países de questionar a própria forma de fazer teatro, para ser tão ousada quanto possível e para encontrar maneiras de celebrar a teatralidade. Isso é extremamente excitante! Pelo que vi do trabalho contemporâneo aqui, a ligação direta dos artistas com o público parece ser muito forte – talvez mais do que na Escócia – embora eu entenda que o papel que o dramaturgo tem dentro da criação de trabalho é, talvez, algo em que o teatro escocês pareça focar mais.

 

Texto: Esther Chaya Levenstein

 

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