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Denise Stoklos e Maria Alice Vergueiro Recepcionam Aprendizes

Publicado em: 04/02/2013 |

O pátio está lotado pelos aprendizes e as gotas de chuva começam a cair suavemente na Sede Brás da SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco. É sábado (2), o primeiro dia de aula de 2013 e, para muitos, o primeiro dia na Escola. Convidada para ministrar a aula inaugural, Denise Stoklos está a caminho. 

 

Antes dela, porém, uma surpresa: a atriz Maria Alice Vergueiro sobe ao tablado. Veterana dos palcos, Maria Alice traz na bagagem mais de 50 anos de teatro, com passagens pelos grupos Teatro Oficina Uzyna Uzona, Teatro do Ornitorrinco, o qual ajudou a fundar, além de ter sido dirigida por nomes como Gerald Thomas e Augusto Boal. Há alguns anos, fez sua estreia nas redes sociais, protagonizando o vídeo “Tapa na Pantera”, que se tornou hit no YouTube.

 

O diretor executivo da Instituição, Ivam Cabral, então, anuncia que a artista será a homenageada do 1º Prêmio SP Escola de Teatro, uma iniciativa criada “para reconhecer, anualmente, um profissional do teatro”. A escolha foi feita em reuniões que envolveram os coordenadores pedagógicos e a diretoria da Escola.

 

Ivam Cabral e Joaquim Gama acompanham o encontro (Foto: Arquivo SP Escola de Teatro)

 

Além da reverência, ao longo deste ano, Maria Alice atuará como pedagoga residente, conduzindo trabalhos e atividades junto aos aprendizes.

 

Ao tomar para a si a palavra, depois de uma calorosa salva de palmas, a “dama indigna”, de quase 80 anos de vida e dotada de alma tão jovem quanto poderia ser, confessa: “tudo o que eu queria era ficar no meio da moçada”, despertando sorrisos no público, que a ouve propor a criação de um espetáculo, como resultado das experimentações.

 

Carismática, ela olha no fundo dos olhos de cada um daqueles que a observam atentamente, reconhecendo a si própria nos olhares curiosos e relembrando, com nostalgia, seus vinte e poucos anos, quando começava a construir sua carreira teatral. 

 

“Sinto que estou…”, ela começa a falar, em tom baixo e voz trêmula, para continuar, depois de um momento de silêncio: “…começando uma coisa nova; e estou comovida. Vamos nos divertir, moçada!”. E os jovens aprendizes vão à loucura. 

 

Com o fim do depoimento emocionado, ecoam mais palmas. 

 

Ao cessar o coro de aplausos e vozes, sobe Denise Stoklos, que logo de cara já desfia elogios aos seus conhecidos, que hoje fazem parte da Escola, especialmente a Francisco Medeiros e J. C. Serroni, respectivamente, coordenador de Atuação e coordenador dos cursos de Cenografia e Figurino e Técnicas de Palco. Faz questão, ainda, de enaltecer Maria Alice, com quem já trabalhou.

 

Denise é 15 anos mais nova que Maria Alice. Mas não fica devendo nada em experiência: tem 45 anos de teatro. Ela fala sobre o seu tipo de teatro, aquele com o qual ganhou notoriedade e que a permitiu trabalhar de forma independente, “sem patrão” e com “liberdade de escolhas”.

 

“Teatro essencial” foi o nome criado pela artista. Esse gênero, de acordo com ela, seria universal, por se tratar daquilo que faz parte do “ser”, que prioriza o ator e seus recursos naturais, principalmente os gestos. “Qualquer exercício de teatro é para que a gente exploda, deve ser feito livremente. O gesto do ator essencial é aquele que vem da gravidade”, fala. 

 

Esse seu método foi reconhecido como existente e legítimo ao ganhar um ensaio completo, oportunidade surgida quando foi convidada a dar aulas na New York University (NYU), um dos principais centros de estudos das artes performáticas.

 

Em sua luta pela liberdade e amor, diz que o importante é criar, e que pensando dessa maneira não existe nada que não seja possível. Com base em seus ideais, Denise critica o teatro que não pretende modificar nada e ninguém, apenas entreter, sendo antagônico, então, ao seu teatro essencial.

 

Francisco Medeiros, Maria Alice Vergueiro e Denise Stoklos (Foto: Arquivo SP Escola de Teatro)

 

“Só você pode conhecer o seu corpo, e todos são bons para o teatro, todos têm repertório único. Cada indivíduo é um teatro essencial”, explica.

 

Durante a conversa, Denise cita Maria Alice mais de uma vez. E, mais de uma vez, em trocas de olhares ou palavras, as duas travam diálogos. 

 

Ao final, Denise arremata: “É um privilégio ter sido convidada para estar aqui. Uma maravilha poder falar pra gente que teve seu chamamento do teatro e está atendendo a isso. Tive um prazer incrível em poder falar sobre o meu teatro essencial, que é uma das possibilidades teatrais, para uma plateia tão atenta. Parabéns à Escola!”.

 

 

Texto: Felipe Del

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