Na clareza de que corpo é identidade e, também, memória, que corpo é este que, construído social e historicamente pode narrar quem é o povo brasileiro hoje? Com esta indagação o Grupo 6 entrou em cena durante a abertura do processo de trabalho dos aprendizes do Módulo Amarelo (Matutino), na última terça-feira (8).
Corpo relato. Corpo dilatado. Corpo violado. Corpo social. Corpo atado. Corpo livre. Corpo desejo. Corpo repulsa. Corpo nutre. Corpo aparente. Corpo estrangeiro. Corpo no espelho. Ex-corpo. In-corpo. O foco da abertura desse processo de trabalho escrito a seis mãos – por Juliana Pena, Afonso Lima e Piterson Filipe – não era a miscigenação racial do povo brasileiro, e sim a mistura daquilo que transforma esse povo e modifica sua estrutura física e sua identidade cultural.
A energia e coragem dos atores André Mendes, Fabíola Nabbout, Caroline Duarte, Tâmara Vasconcelos, Caíque Oliveira e Cláudia Bartholo em cena, além do aproveitamento do espaço cênico disponibilizado pela Escola, deram ênfase à cena com direção de Eduardo Gutierrez e Rafael Bicudo.
Repleta de traquitanas e gambiarras feitas por Francisco George, Aiane Toledo, Beatriz Rinaldini, Aline Delouya e Géssika Alvarenga, da equipe de Cenografia e Figurino e Técnicas de Palco do núcleo, vez ou outra, a plateia foi surpreendida com um bombardeio de informações e, também de cabeças de bonecas.
A sonoplastia ficou por conta dos aprendizes Jose Queiroz, David de Souza e Rodrigo Roman, que se desdobravam entre batucadas em tambores e microfones para colocar a música e a voz de uma atriz em alto e bom som, enquanto os iluminadores Igor Sully Cordioli, Rodrigo de Oliveira e Thatiana Moraes acompanhavam o ritmo frenético da cena.
Lilian Prado Lattari, aprendiz de Direção da Escola, conta que os espectadores ficaram muito bem acomodados apesar de reduzir o espaço cênico. “Eles estavam fazendo aquilo pra alguém, acho que alguns grupos se esqueceram um pouco disso e, infelizmente, em algumas apresentações, eu não consegui ver a cena direito devido ao modo como a plateia foi configurada”, explica.
André Mendes em cena (Foto: Renata Forato)
“Achei que ficou claro o tema, o que norteou o trabalho foi o resultado do processo em sala de aula que surgiu de uma necessidade dos atores em falar sobre o corpo. O elenco estava bem preparado e a ideia bastante amadurecida. Também foi uma ótima sacada da direção abrir as janelas e usar aquela outra parte do prédio, assim, utilizaram muito bem o espaço”, observa.
A aprendiz de Cenografia e Figurino Aline Guimarães também estava presente na abertura de processo do Grupo 6 e revelou que, devido ao enorme número de pessoas na fila, pensou que não iria conseguir assistir a cena. “A fila estava gigantesca, mas, quando eu entrei, já sabia que iria ser bom”, revela.
“Fiquei bem surpresa porque o texto, os atores e a sonoplastia estavam incríveis. Esses elementos conseguiram se conversar e estava tudo bem afinado. Também me identifiquei bastante com o texto. Eu me senti presente na cena, assim como os atores. Muito boa a linguagem com que eles trabalharam, mostrando outro lado do Brasil que realmente existe e é preocupante, mas ninguém dá muita importância: na hora de vender a imagem do Brasil para fora, o que conta é sempre a bunda”, conclui Aline.
Texto: Renata Forato