Qual o caminho para o ensino das artes? Como transmitir conhecimentos para a atual geração? E o que essa geração pode ensinar? Como parar para responder a essas questões em um mundo tão veloz e agitado? Interrogações como essas fizeram parte de todo o dia de ontem (30), durante os colóquios 2013 na SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco. Às portas do ano letivo, que se inicia neste sábado (2), os coordenadores e formadores dos Cursos Regulares recebem pensadores das artes em geral para debater essas questões.
O primeiro encontro norteou os conceitos de pedagogia do teatro. A convidada para o tema foi Maria Lúcia de Souza Barros Pupo, professora titular da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP). Focada nos temas de teatro contemporâneo ligado ao ensino das artes do palco, ela percorreu a noção geral de pedagogia e os seus desdobramentos. O coordenador pedagógico da Escola, Joaquim Gama, apresentou a profissional e reconheceu a importância de seu trabalho: “Se a pensamos pedagogia hoje, devemos aos trabalhos da Maria Lúcia. Ela foi minha orientadora do Mestrado e essa possibilidade de troca tem valor inestimável”, iniciou.
Durante toda a tarde, o corpo docente e Maria Lúcia levantaram questões sobre as relações entre os oito cursos e o funcionamento de cada um deles, além dos aspectos sociais e artísticos que desejam alcançar. “Para começar, vocês precisam refletir sobre a finalidade do ensino do teatro e quais as modalidades para cumprir esse papel. Dentro disso, acredito que o desenvolvimento de profissionais éticos precisa estar atrelado à formação estética desses artistas”, explicou a professora.
Mária Lúcia também trouxe uma proposta específica para a Escola, a fim de inquietar coordenadores e formadores: “Afirmo que a pedagogia da cena não é ferramenta apenas das áreas que criam, como Atuação e Dramaturgia. Eu me refiro a todo profissional envolvido com o palco, inclusive com as técnicas, como Cenografia e Figurino e Técnicas de Palco. É possível misturar ensino com criação, onde o artista cria, aprende, e também ensina”, finalizou.
À noite, a conversa seguinte trouxe Juremir Machado da Silva, em um diálogo descontraído com todos. O pesquisador, escritor, jornalista, tradutor e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) refletiu sobre o trabalho do filósofo francês Gilles Lipovetsky, do qual é amigo pessoal e tradutor de suas obras.
Juremir Machado durante Colóqui (Foto: Arquivo SP Escola de Teatro)
O material norteador foi extraído de fragmentos do livro “A Sociedade Pós-Moralista”. Nele, Lipovetsky explora o conceito de hipermodernidade, perda de valores morais, sociais e políticos, e de uma cultura de bem-estar que une, paradoxalmente, consciência ambiental e consumismo. Nesse panorama, Juremir traçou uma linha entre os conceitos de moral no passado e atualmente, baseado nas obras do filósofo. “Podemos distinguir a moral em dois tempos: a Moral Sacrificial e Pós-Moral, em que a primeira era um dever imposto pela religião, e a segunda, uma moral racional e laica”, explicou.
Entre outros assuntos, Juremir também falou sobre a polêmica envolvendo a família nuclear e seus outros arranjos. “Diferentemente de como muitos pensam, a união homem-mulher não está para acabar. Antigamente, os jovens queriam sair de suas casas, tamanha repressão sexual e moral que sofriam ali. Atualmente, estamos num possível retorno aos laços do casamento, uma vez que antes era ‘até que a morte nos separe’ e, hoje, se não der certo, o casal se separa”, finalizou.
E, nesta quinta-feira (31), os temas foram “Teatro Performativo ou a Performance Art na Quarta Parede”, com a professora da ECA Narahan Dib Fracalanza e “As Intersecções entre o Teatro e a Performance”, com a diretora Beth Lopes.
Texto: Leandro Nunes
