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Cléo De Páris encena peça ao vivo direto de seu Instagram

Publicado em: 28/04/2020 |

Desde que o distanciamento social começou, a atriz e coordenadora do Programa Kairós na SP Escola de Teatro, Cléo De Páris, tem encenado a live “Desamparos” todas as terças-feiras, às 22h, em seu perfil no Instagram direto de sua cidade natal, Barão de Cotegipe, no Rio Grande do Sul.

Abordando textos autoriais e de convidados, que por um acaso, dialogam com os tempos em que vivemos, a apresentação tem duração de 20 minutos e direção do ator e amigo Fabio Penna.

Confira nosso bate-papo abaixo:

SP Escola de Teatro – Como surgiu a ideia de fazer a live e do que se trata?
CLÉO DE PÁRIS – A ideia surgiu um pouco do encontro com Fábio Penna, com quem fui casada por 7 anos, e agora é meu grande amigo; um pouco pela perda do meu blog no início do ano e um pouco pelo reencontro com minha essência, minhas raízes, aqui em Barão de Cotegipe, cidade onde nasci e que brinco ser a minha Macondo. Penna passou uns dias na minha casa em São Paulo, pois estava fazendo um filme e as locações eram próximas de onde eu moro, então, estourou a pandemia e ele ficou impossibilitado de voltar pra sua casa, pois os pais são grupo de risco. Eu precisava vir pro sul pra um tratamento dentário, meu irmão ligou, viu as passagens e viemos pra cá. A pandemia se agravou e ficamos impossibilitados de retornar. Sigo trabalhando na SP Escola de Teatro, daqui, em home office, cumprindo expediente diário, fazendo muitas reuniões online, pesquisando possibilidades de auxílio aos estudantes e à noite ou fins de semana, conseguimos preparar o espetáculo. Sim, porque o que era uma live, começou a tomar corpo de um espetáculo mesmo, com roteiro, ensaios, iluminação e até a divulgação! Mandamos mensagens de Whatsapp um pouco antes de iniciar, é o segundo sinal! O terceiro sinal é o sino da cidadezinha que toca 10 badaladas, quando entro em cena. Na verdade, quem nos deu essa chave foi  Ivam Cabral, quando assistiu e mandou áudios dizendo que tínhamos um espetáculo e não uma live, foi lindo!

LEIA TAMBÉM:
>> Diretor da SP Escola de Teatro, Ivam Cabral encena peça ao vivo no Instagram

SP ESCOLA DE TEATRO – De onde veio a inspiração para o conteúdo do texto? A apresentação é em algum improviso ou a dramaturgia é pré-definida?
CLÉO DE PÁRIS –A inspiração veio dos meus textos, denominados Desamparos. Eu alimentei por muitos anos um blog chamado Pueril, onde escrevia textos bastante aclamados por muita gente. Tinha uns oitenta Desamparos, sobrou uns vinte… Eu encontrei eles um pouco antes de vir, em e-mails que havia enviado pra pessoas que gostavam de determinado texto e pediam ou que eu enviava pra mim mesma, lá sei eu porquê. Como muitos amigos e leitores me incentivam a publicar esse trabalho há anos, pensei: vou levar os que restaram pra analisar melhor. Quando peguei esse material, me pareceu um tesouro… se tornaram mesmo sagrados pra mim, por terem restado, por obra do acaso. Então uma noite, quando estávamos isolados em um casarão, por 14 dias, pra não expor a cidade e minha família (caso tivéssemos trazido o vírus de São Paulo), bebíamos um vinho e eu peguei os Desamparos. Lemos e pensamos em fazer uma live. Começamos a utilizar os recursos que tínhamos na casa, velas, móveis, jardim, um abajur que eu trouxe na mala pra ler. Sem perceber, criamos uma peça. Mesmo sendo leituras, há um ritual claramente teatral, cinematográfico, por vezes. Temos um roteiro fixo, escolhemos os textos juntos (agora leio textos clássicos também e de outras pessoas que conheço, eventualmente), ensaiamos a luz e a movimentação e há um espaço de improviso, de liberdade pra mim.

SP ESCOLA DE TEATRO – Como vem sendo essa experiência de um novo fazer teatral e a transformação positiva que ele causou, ou não?
CLÉO DE PÁRIS –
Estamos brincando e tirando humor de tudo que podemos, neste período tão triste. Brincamos com a ideia de quarentena com ex-casados, brincamos pelo casarão com velas, livros, figurinos, minhas bonecas de infância, meus escritos. O Penna é ótimo diretor e entende bastante de cinema, então tudo se encaixou pra esse novo formato de atuação. Eu sou uma atriz que adora ser dirigida e embarco fácil nas proposições dele e ele me ouve muito também. Ainda não sabemos exatamente o que essa transformação trará de positivo, mas, como independe de nós, estamos fazendo tudo que podemos com nossos corpos e almas, um dia de cada vez, pra que a arte que mora em nós esteja pulsante. Descobrimos que a troca com o público é possível mesmo estando separados por uma tela e milhares de quilômetros. Eu sinto o calor humano de cada espectador que entra para assistir ao espetáculo, e tenho sempre o nervosismo e a alegria de uma estreia. Todas as terças-feiras, sou uma atriz em dia de estreia. Uma estreia por semana! É assim que sinto e sinto alegria.

CULTURA EM CASA

Assim como outros equipamentos, a SP Escola de Teatro criou uma programação especial na internet para oferecer ao seus seguidores. Assim, está disponível uma série de conteúdos multimídia, como vídeos de espetáculos e de palestras e bate-papos de nomes como as atrizes Fernanda Montenegro, Nathalia Timberg e Denise Fraga, a monja Coen, a escritora Adélia Prado e o pastor Henrique Vieira, além de cursos gratuitos a distância.

O acervo ainda inclui filmes produzidos pela Escola Livre de Audiovisual (ELA) – iniciativa da Associação dos Artistas Amigos da Praça (Adaap), gestora da SP Escola de Teatro – em parceria com instituições internacionais, com a Universidade das Artes de Estocolmo (Suécia).




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