Conheci a Christiane na banca de qualificação do mestrado do Leonardo Moreira. Nem me lembro que ano era. A empatia foi imediata e, ao final, já fazíamos planos para um curso que ela daria no Programa de Artes Cênicas da USP, que eu coordenava na época. Não nos encontramos mais até 2010, quando ela apareceu para uma reunião na Ilustrada, logo depois de ter sido selecionada, entre 80 pretendentes, para a vaga de segundo crítico do caderno. Quando a editora Sylvia Colombo, que fizera a seleção, me contou da sua escolha, não relacionei a pessoa ao nome. De modo que, só quando ela chegou, toda linda, com tranças e boina, para a reunião, é que caiu a ficha de que a nova crítica era aquela simpática pesquisadora que eu já conhecia.
Christiane Riera (Foto: Acervo pessoal)
A partir daquele dia, mantivemos uma relação próxima de trocas constantes de impressões sobre os espetáculos que víamos e das agruras da atividade de crítica, tanto pelo que implica em lidar com a vaidade dos criadores, quanto pelas limitações de espaço que o jornal impunha de modo crescente. Foram dois anos de muitas conversas, mais rarefeitas desde que se anunciou a terrível doença que a colheu e implicou no seu retraimento das situações de convívio social.
Os momentos de contato mais intenso aconteceram em reuniões na casa de Lenise Pinheiro, que nos arregimentava, e a demais jornalistas afeitos ao teatro na Folha, para discutirmos um possível caderno semanal de teatro. Foram vários encontros regados a vinho, em que desenvolvemos uma verdadeira camaradagem de equipe. Conspirávamos por uma boa causa e a cada um desses encontros estreitávamos nossa amizade. Ao final, o caderno não saiu, mas conquistamos uma página semanal: pequena vitória que compartilhamos.
A última vez que a vi, ali mesmo na casa de Lenise, já se insinuavam os primeiros sinais da doença, mas ela ainda mantinha a esfuziante alegria que lhe era característica e a todos sensibilizava. A tristeza que senti com sua morte, tão prematura e desnaturada, se soma à frustração de não termos levado adiante os planos de convívio acadêmico na USP, onde leciono e ela realizava o seu Pós-Doutorado no Programa de Áudio-Visual.
Mais do que uma profissional e pesquisadora plena de potenciais, Christiane era uma pessoa cuja gentileza e suavidade encantavam, na mesma proporção em que seu caráter firme inspirava confiança e consideração. Sua saída de cena intempestivamente deixa um buraco impreenchível e uma saudade danada.
Acesse os verbetes de Christiane Riera e Luiz Fernando Ramos na Teatropédia.
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