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Christiane Riera por Lucianno Maza

Publicado em: 14/05/2012 |

Christiane Riera (Foto: Acervo pessoal)

 

Quando conheci Christiane Riera, a primeira coisa que pensei foi: “Quem é essa loira gata surfista?”.

Não estranharia se, de fato, a encontrasse numa praia de surf da Califórnia… Mas então ela me contou que surfava na mesma praia que eu: a do teatro.

Nos apresentamos em um festival há dois anos, e ela, generosamente, disse que me lia no Caderno Teatral e gostava muito. Ela não precisava ter dito isso, tinha acabado de ser contratada pelo maior jornal do País e eu era – e continuo sendo – só um crítico da internet, como muitos pensam. Só que a Chris era desse tipo raro de pessoa que sabe que dar um pouco de alegria ao outro não tira a nossa, ao contrário: só multiplica. Ela me deu essa alegria, que se transformou em honra quando pude conhecer melhor seu pensamento sobre teatro, sua cultura e sua forma leve e nada leviana de refletir a cena, seja numa conversa despojada ou em suas críticas escritas.

Mesmo com o veículo espezinhando sua produção com cortes (de desejo, de estilo e, principalmente, de tamanho), Chris conseguia expor em poucas linhas questões a se pensar e, em uma de suas últimas publicações, provocou um verdadeiro rebuliço de artistas ressentidos com sua resenha de uma determinada comédia – gênero no qual ela também se especializara. Sei que a intenção da Chris não era essa e que seu conteúdo foi obrigado a ser retalhado pelo tamanho disponível na página, mas fazia tempo que não via artistas tão envolvidos – positiva ou negativamente – com a crítica teatral no Brasil. Sim, sem querer, Chris Riera provocou uma turba virtual a favor do gênero que estudou nos Estados Unidos e, apesar do saco que deve ter sido, ela fez um grande bem, pois o caso não só levantou argumentos sobre o gênero e a crítica teatral, como expôs para os mais espertos a precariedade de espaço das publicações tradicionais para tal exercício imprescindível para o teatro.

A Chris, ao lado da Maria Eugênia de Menezes e da Gabriela Mellão, é  pra mim uma das grandes pensadoras do jornalismo teatral na nova geração brasileira, seja como críticas ou repórteres opinativas (sim, porque jornalismo cultural pode carregar, sim, opinião).

Sou muito grato por ser contemporâneo da Chris, por ter conversado com ela sobre teatro, dado umas boas risadas e por ter recebido seus olhos sobre meu trabalho como crítico e também como artista – ela me deu outra alegria quando fez questão de comprar meu livro de peças (que ela já tinha lido) para presentear um sobrinho.

Como amigo e colega, sinto uma dor profunda por tê-la perdido na última sexta-feira e não ter me despedido com o mesmo sorriso que ela me recebeu alguns anos atrás.

Que suas ondas sejam sempre perfeitas, minha crítica teatral “californiana” linda.

Daqui, continuarei tentando me equilibrar sobre a prancha.
 

 

Acesse os verbetes de Christiane Riera e Lucianno Maza na Teatropédia.

 

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