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Bravíssimo | Regina Braga por Marta Góes

Publicado em: 30/10/2014 |

Prólogo do livro “Talento é um aprendizado”, de Marta Góes, para a Coleção Aplauso da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo (para ler a obra, na íntegra, clique aqui)

 

Regina Braga entrou na minha vida primeiro em áudio, depois em visual. Era dela a voz amável que respondia três ou quatro vezes por dia aos meus telefonemas para sua casa, querendo falar com Celso Nunes, então seu marido. Coisa de repórter aflita – ou chatinha, dependendo do ponto de vista. E Regina teve a generosidade de optar pela primeira hipótese. Grotowski, o deus da linguagem corporal, mencionado neste livro, ia chegar ao Brasil, convidado, é claro, por Ruth Escobar, e eu precisava desesperadamente aprender alguma coisa sobre ele. Na redação da Última Hora-SP, onde eu trabalhava, sabia-se apenas que ele era importante e precisava ser entrevistado. Mas meu editor, Mário Prata, tinha a solução: um amigo dele, diretor de uma de suas peças, tinha trabalhado com Grotowski na Europa. Era só telefonar. 

 

E foi o que eu fiz, incansavelmente, durante três ou quatro dias, até que Grotowski chegou e eu, embaraçada com a minha ignorância, fui à entrevista. Descobri lá que isso não era um acontecimento assim tão raro na vida dos repórteres. Mas isso é outra história. 

 

Meses mais tarde, fui, então como namorada do Prata, à casa de Regina, um apartamento na Rua Ministro Godoy em Perdizes, e descobri que ela era linda e tinha dois filhos irresistíveis, o Gabriel e a Nina, àquela altura de bochechas rosadas, fraldas e chupeta. Só depois é que eu a vi no palco, em Coriolano, e me enchi de admiração. Adorei pensar que eu conhecia aquela moça bacanérrima. 

 

Nesses trinta e alguns anos que se passaram até agora, fomos amigas. Minhas lembranças dela incluem desde noites de estreias e de entregas de prêmios até queijadinhas minúsculas e gelatinas vermelhas das festas de aniversário de criança que ela fazia. E como uma de suas irmãs, a Bia, e um dos meus irmãos, Leco, casaram-se e tiveram dois filhos, Mário e João, nós brincávamos de contar que a história era assim:… e aí, ficamos amigas e tivemos dois sobrinhos.

 

Foi emocionante assistir à sua vida e à sua carreira, vê-la recompensada e reconhecida, como ela merece. Ouvi-la contar sua história, sentada na cadeira do cenário de Um Porto para Elizabeth Bishop, guardada em sua casa, mobilizou-me profundamente. Percebi como ela deixou mais leves em seu relato os momentos difíceis e me dei conta da maturidade de seus aprendizados profissionais e existenciais. Em geral vemos aspectos dispersos das pessoas próximas, temos memórias caleidoscópicas. Vê-las em seu conjunto e numa narrativa organizada permite outra compreensão, e senti uma grande admiração pela Regina. Ouvir seu depoimento foi um dos muitos privilégios que ela me proporcionou.

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