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Bravíssimo | Luís Alberto de Abreu por Adélia Nicolete

Publicado em: 07/08/2014 |

Introdução do livro ‘Até a última sílaba’, de Adélia Nicolete, para a Coleção Aplauso da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo (para ler a obra, na íntegra, clique aqui)

 

Conheci Luís Alberto de Abreu no final da década de 80, num curso de dramaturgia que ele oferecia nas Oficinas Culturais Três Rios, em São Paulo. Uma série de fatores fez com que eu desistisse das aulas e tornasse a encontrá-lo somente em 1996, dessa vez em Santo André. Fui sua aluna por alguns anos e posso dizer que, mais do que elaborar textos de teatro, suas aulas nos tornam pessoas melhores. Estudos de psicologia, mitologia, trajetórias heróicas fazem-nos refletir sobre o mundo, sobre a nossa própria vida, nosso próprio caminho.

 

Nas conversas que tivemos para este livro me convenci ainda mais da sua extrema coerência. Abreu é do tipo que age conforme o que proclama. Pode parecer meio tolo dizer isso, mas, hoje em dia, quantas pessoas se comportam assim? A maioria de nós fala muitas coisas sábias e profundas, mas, na hora de agir, faz justamente o contrário do que apregoa. Ele traz o conhecimento mítico para a própria vida, para o relacionamento familiar, para a compreensão do outro e do mundo.

 

Pode-se dizer que é uma pessoa muito séria. À primeira vista parece bravo. Neste depoimento vamos descobrir que talvez isso se deva à sua timidez – ou à descendência de garimpeiros e de um lobisomem! No decorrer do convívio, porém, ele vai se mostrando afável e engraçado, embora sempre mantenha a fera nas entrelinhas. A mesma fera que o impele a novos trabalhos, a não se deitar sobre os possíveis louros, a não dar crédito exagerado aos elogios. Conforme diz, só ele sabe o quanto penou para escrever um texto e nenhum louvor garante que o próximo trabalho será fácil.

 

Nas entrevistas não falou, mas Abreu adora cuidar de flores – orquídeas, mais especificamente. E é um ótimo cozinheiro: comida italiana, árabe e japonesa estão entre as suas especialidades. Estrutura um prato como estrutura suas peças: separa todos os ingredientes primeiro, coloca em ordem de entrada na panela e só depois é que começa o preparo. Nessa hora ele também não abre mão da invenção, acrescentando outros sabores, não se contentando com a mera reprodução de uma receita… 

 

Abreu coloca amor e capricho em tudo o que se mete a fazer. Diz que herdou isso do pai. Da mãe, brava como o quê, herdou o prazer de ouvir e contar histórias – reais ou fantásticas, pouco importa. Talvez venha daí a facilidade pra contar enredos de livros, peças e filmes com tanta riqueza de detalhes que parece estarmos lendo ou assistindo junto com ele. 

 

Achei que seria fácil conseguir entrevistá-lo. Não foi. A agenda – sempre lotada de cursos, palestras, reuniões, novos textos – direcionou nossas conversas aos intervalos entre as diversas atividades ou ao fim de noite. Os filhos, curiosos, queriam saber por que o pai estava gravando tudo aquilo do seminário dos padres, de ensaios com gente pelada, dos momentos em que pensou em desistir da dramaturgia. Queriam saber sobre o momento em que entrariam no livro. Afinal, são quatro filhos – cada um esperando a sua vez de entrar em cena! E nesses momentos Abreu se emociona, a mesma emoção com que fala do convívio com o pai, da morte da mãe; com que fala dos amigos e das inúmeras experiências agradáveis que o teatro lhe proporcionou ao longo da vida.

 

Muito me ajudaram outras fontes de informação, tais como notícias de jornais e revistas, leitura de suas peças e a tese de doutoramento elaborada por Rubens Brito a respeito de sua obra. Amigos e ex-alunos mandaram várias perguntas via internet – Elaine, Ana Régis e Alex, em especial; as reuniões constantes com os amigos ofereciam outras versões de alguns fatos, e os irmãos do entrevistado serviram de fiéis da balança em relação aos acontecimentos anteriores a seu nascimento. Portanto, agradeço a todo mundo que entrou na dança junto conosco pra fazer este livro acontecer.

 

Que ele seja prazeroso a todos como foi para mim escrevê-lo. Prazeroso como a leitura dos textos de Luís Alberto de Abreu e a convivência diária com ele.

 

Sim, convivência diária. Ia me esquecendo de dizer! De ex-aluna de dramaturgia me transformei em esposa há alguns anos…

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