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As Últimas Horas do Bufão

Publicado em: 22/11/2011 |

Imagine suas últimas 24 horas de vida. O que passaria pela sua cabeça ao sentir o final se aproximando? Na de Estrofo, personagem do exercício cênico decorrente do projeto “O Último Dia”, criado por aprendizes do Módulo Vermelho da SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco, a única preocupação é como sua imagem vai ficar marcada para a posterioridade.

 

No monólogo, o bufão Estrofo, em seu último dia de vida, se esforça para esclarecer relações mal resolvidas e superar a ansiedade do final desconhecido. Para tanto, cuida com carinho de seu perfil nas redes sociais e trata de tentar passar uma imagem positiva.

 

 

 

Para a preparação do projeto, o grupo pesquisou uma grande variedade de temas. “Fui atrás de mais informações sobre o bufão, o teatro do absurdo, surrealismo, a influência das redes sociais na sociedade contemporânea, a preocupação exagerada com a imagem e, principalmente, sobre a obra dos dramaturgos e escritores Samuel Beckett e Fernando Arrabal, que são as maiores referências para o nosso trabalho”, observa Fernando Mangarielo, de Direção, que também contou com a colaboração da colega de curso, Juliana Caldas, para este Experimento.

 

O aprendiz de Humor Giba Freitas, que interpreta Estrofo, explica que a personagem “é um ser sem passado que vive o momento. Ao receber a anunciação que seria seu último dia, se prepara para preservar a forma como ele é visto, mas, tudo que tenta realizar, não consegue fazer de maneira clara. No instante decisivo, algum imprevisto acontece e as coisas dão errado”.

 

Segundo Freitas, fazer um monólogo destaca ainda mais a importância que cada área de uma montagem tem, pois todas trabalham juntas para completar o trabalho do ator no palco. Assim, ele afirma que todos os elementos devem dialogar e, por isso, tornam-se mais evidentes na cena.

 

“Quando entrei no projeto, encarei como um desafio pessoal, pois, no palco, me guio muito pelos outros atores. Não dialogar com alguém em cena me proporcionou um grande crescimento como ator. Agora, tive que interagir e estar ainda mais sintonizado com todas as áreas da montagem, foi um bom aprendizado”, afirma Freitas.

 

A aprendiz Angela Belei, que, ao lado de Cristina Maluli é responsável pela dramaturgia final, também ressalta essa questão, e completa comentando que, ao receberem o roteiro pronto e já com conceitos inseridos, fizeram recortes para as cenas e acrescentaram improvisos.

 

“É uma dramaturgia surrealista que segue nas entrelinhas e beira o absurdo o tempo inteiro. A peça só tem fala no final, então, trabalhamos muito no gestual do ator. Prestamos atenção nos personagens externos, que são os responsáveis por criar um conflito com o Estrofo, e os transformamos em alguns objetos com os quais o ator vai lidar. Foi mais um trabalho de dramaturgismo, ‘linkando’ os elementos da cena”, diz Angela.

 

A função crítica do bufão, característica original dessa personagem, também é outro ponto importante no exercício cênico do grupo. Além da preocupação com a imagem, Freitas salienta que a dificuldade das relações humanas – principalmente familiares –, a compulsão por sexo e a necessidade de demonstrar virilidade ao outro são outras críticas exploradas pelo grupo.

 

“O espetáculo é diferente, não uma comédia rasgada. Procuramos o riso em outro lugar; em alguns momentos deve ser um riso mais vergonhoso, tímido. O bufão chega para criticar a sociedade, cutucar a ferida, passando pelo grotesco e pelo fantástico”, finaliza Freitas.

 

Para saber onde e quando as apresentações de “O Último Dia” e dos demais grupos do Módulo Vermelho serão realizadas, clique aqui.

 

 

Ficha técnica

Direção: Fernando Mangarielo e Juliana Caldas (colaboração)

Dramaturgia: Angela Belei e Cristina Maluli

Cenário e Figurino: Maísa Donnini

Técnica de Palco: Vania Almeida

Iluminação: Kuka Batista e Rafael Souza Lopes

Sonoplastia: Sabrina Teixeira e Marcio Mendes

Humor: Giba Freitas

 
 

Texto: Felipe Del

 

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