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Artistas, instituições e seus processos formativos

Publicado em: 20/08/2013 |

Começou ontem (19), no Teatro Sérgio Cardoso, o Performativo, Formativo: Processos da Cena, uma série de debates, workshops, mesa-redonda e discussões a partir do evento Biblioteca do Corpo, idealizado pelo coreógrafo e mestre Ismael Ivo, em parceria entre o Sesc, a Secretaria de Estado da Cultura e a SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco.

 

O evento, pensado como programa de formação para jovens artistas de várias procedências, foi aberto às 15h com uma entrevista pública com o curador Ismael Ivo. No encontro, realizado na Sala Paschoal Carlos Magno e mediado por Cássia Navas, Ismael falou sobre sua trajetória, apontando fatores importantes como sua aproximação com a dança e seu primeiro contato com manifestações artísticas, ainda na Vila Ema, zona lesta de São Paulo, bairro onde nasceu. Curiosamente, segundo ele, o que mais chamou sua atenção, durante a infância, foi o circo.

 

Mais tarde, às 19h30, a sala foi ocupada novamente para uma mesa-redonda sobre processos de formação, da qual participaram as bailarinas, professoras e coreógrafas Iracity Cardoso, Dudude Herrmann e Regina Miranda; Ivam Cabral, diretor executivo da SP Escola de Teatro; Renata Bittencourt, coordenadora da Unidade de Formação Cultural (UFC), da Secretaria de Estado da Cultura, e Rosana Paulo da Cunha, gerente de ação cultural do Sesc São Paulo. Na plateia, chamava atenção a presença da reconhecida bailarina e atriz Ana Botafogo.

 

Também mediado por Cássia Navas, o debate começou com Rosana comentando a experiência do Sesc com o Biblioteca do Corpo e o trabalho com Ismael Ivo, que neste ano foi levado ao Impulstanz – Festival Internacional de Dança de Viena. “É um festival que dá total importância ao processo, ao acesso, e à estrutura, principalmente. Foi muito bom conhecer o ambiente e ver o público respondendo daquela forma”, disse.

 

Renata foi a próxima a falar sobre o “projeto que foi entregue de presente por Ismael”, comentando alguns conceitos que norteiam as ações da Secretaria de Cultura, como democratização da cultura, democracia cultural, diversidade, busca para aliar o crescimento técnico, artístico e pessoal, e combinação entre herança e voz. “O Biblioteca do Corpo é um exemplo desses princípios. É algo que eu espero que possa inspirar outros programas e artistas que tem trabalhado na interface com a Secretaria.”

 

Já Dudude voltou ao seu passado para construir seu depoimento. Traçando um panorama do que já viveu na dança – dos anos 1970, quando passou a integrar o TransForma Centro de Dança Contemporânea, até o momento em que viu “No Sacre”, espetáculo com coreografia de Ismael Ivo apresentado em Viena e em São Paulo, como parte do Biblioteca do Corpo –, a artista expressou seu fascínio por experimentações. “Não sou purista, sou misturada demais. Me interesso pela expansão de fronteiras”. E, ao final, aproveitou para saudar o momento: “Acho que o que tece a vida são bons encontros”.

 

Da esq. p/ a dir.: Iracity, Dudude, Rosana, Renata, Regina, Ivam e, de pé, Cássia (Foto: Fernando Vilhegas)

 

A conversa continuou com o depoimento de Regina Miranda, que também lembrou de sua formação, seu ingresso na arte e alguns de seus atuais projetos – que perpassam as barreiras entre os bairros do Rio de Janeiro –, destacando a ruptura causada em sua trajetória ao conhecer o sistema Laban, no Laban Institute, em NY, que ofereceu a ela um novo horizonte e onde ela ministra aulas até hoje. “Sempre me coloco, acho importante, distribuo coisas e estabeleço diálogos nem sempre confortáveis. Acho essencial que exista o confronto de ideias, é algo que autonomiza as pessoas, e tem sido produtivo dentro desse meu percurso”, concluiu.

 

Repleta de experiência na área, Iracity Cardoso, que recentemente assumiu a diretoria do Balé da Cidade de São Paulo, tomou a palavra para relembrar os anos 1970 e sua vivência com o Ballet Stagium, com a qual “levou a dança aos lugares mais impossíveis”. “Quero parabenizar essa troca que vocês estão fazendo. Tenho certeza que esse projeto também vai abrir a porta para muitos bailarinos profissionais. Sobretudo neste em que vocês puderam ir, ver como as coisas acontecem lá fora e inclusive conviver com outras nacionalidades, o que é importantíssimo: essa troca de conhecimento, cultural, da maneira de vida.”

 

Para arrematar a etapa de depoimentos, Ivam Cabral deu a sua contribuição falando sobre o projeto da SP Escola de Teatro, de seu embrião até a atual situação, sua estrutura e a forma como ela dialoga com seu entorno e com a contemporaneidade. “Falo com grande alegria, para contar que talvez a escola dos sonhos da dança exista na SP Escola de Teatro, que hoje não só é a maior escola de teatro da América Latina, que trabalha com os maiores profissionais de teatro do Brasil, e ainda exporta seu sistema pedagógico, por exemplo, para A Universidade de Teatro e Cinema de Estocolmo (conhecida pela sigla SADA)”, afirmou.

 

Ismael, Renata e Ivam (Foto: Fernando Vilhegas)

 

Ao final desses depoimento, Cássia encaminhou o encontro às perguntas do público e fez uma provocação para que Ismael Ivo expusesse suas impressões sobre a mesa. “Me deliciei com a riqueza desses depoimentos cheios de vida e experiência. Estou maravilhado vendo o nível das instituições que estão apoiando e abrindo portas. O objetivo da Biblioteca do Corpo, que eu chamo de ‘período de contaminação artística’ é dar exatamente a perspectiva de uma educação progressiva, séria, com qualidade e abrir portas de novos caminhos”, respondeu o curador.

 

Ana Botafogo, que acompanhou atenta toda a conversa, também deu sua palavra: “Em se tratando de uma Biblioteca, realmente foram livros que a gente ouviu aqui. Acho isso muito importante para esses jovens bailarinos, terem visto alguns depoimentos, além da brilhante explanação sobre o ‘fazer’, o ‘querer’ apoiar das instituições, e, principalmente, o depoimento dos artistas, que serve muito de estímulo”.

 

O Performativo, Formativo: Processos da Cena tem continuidade hoje (20). Às 11h, aconteceu uma discussão, a partir de registros multimídia, sobre o processo de criação do espetáculo “No Sacre”, estreado em 13/08/2013 (Viena) e 17/08/2013 (São Paulo), com os 10 bolsistas brasileiros participantes da Biblioteca do Corpo 2013. Às 15h30, é a vez dos bolsistas darem os seus depoimentos sobre o projeto. Ambas as atividades são gratuitas e abertas ao público.

 

E, amanhã (21), será realizado o Workshop de Ismael Ivo, com os 10 bolsistas brasileiros participantes da Biblioteca do Corpo 2013 e 20 vagas abertas para o público, com inscrição feita previamente.

 

 

Serviço

Performativo, Formativo: Processos da Cena

Terça-feira (20), às 11h: Discussão, a partir de registros multimídia, sobre o processo de criação do espetáculo “No Sacre”, estreado em 13/08/2013 (Viena) e 17/08/2013 (São Paulo), com os 10 bolsistas brasileiros participantes da Biblioteca do Corpo 2013. Mediação: Cássia Navas. 

Local: Sala Paschoal Carlos Magno | Teatro Sérgio Cardoso

 

Às 15h30: Depoimentos dos dez bolsistas participantes da Biblioteca do Corpo 2013. Mediação: Cleo Regina

Local: Sala Paschoal Carlos Magno |Teatro Sérgio Cardoso

 

 

Texto: Felipe Del

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