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Aprendiz em Foco | Thaís Oliveira

Publicado em: 14/02/2013 |

A palhaça entra no quarto com seu colega de aventura, Eduardo Chagas. Olha e sente o ambiente, observa atentamente cada expressão daquelas crianças que a fitam por debaixo de sua maquiagem de clown. No instante seguinte, mais à vontade com o espaço, as convida para o jogo. Que comece, então.

 

Esse é o caminho das missões protagonizadas por Thaís Oliveira, aprendiz de Atuação da SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco, em seu trabalho com o grupo de palhaços Esparatrapo, que faz dos hospitais seu palco.

 

Aos 26 anos, Thaís vê sua vida indo cada vez mais na direção que sempre desejou que seguisse. Lá atrás, na infância vivida em Bauru e Osasco, repleta de mudanças e da pressão por uma formação tradicional, ela já pensava em fazer arte, seja como fosse. O sonho de ser atriz apareceu cedo, logo aos 8 anos, quando atuou como protagonista na peça escolar “Rita Não Grita”. “Sempre quis ser atriz, mas achava algo muito distante dentro dessa perspectiva de vida capitalista”, comenta.

 

Se o teatro estava longe, Thaís recorreu à área de Web Design, com a qual podia ao menos colocar em prática sua criatividade. Trabalhou com isso por algum tempo, até que as artes cênicas a convocaram para uma viagem sem volta: aos 22, após assistir ao espetáculo de um colega, conheceu o Programa Teatro Vocacional da Prefeitura de São Paulo. 

 

Lá, percebeu que “ser ator é muito mais do que interpretar na televisão, é ser artista”, e que era certamente o que queria para sua vida. Também conheceu Filipe Brancalião, formador de Atuação da SP Escola de Teatro. Após breve passagem pela Escola de Atores Indac, Thaís foi convidada pelo tutor e os demais integrantes da Cia. Humbalada para ser sonoplasta no grupo, onde posteriormente fez produção e até atuou.

 

Em meio a isso tudo, arriscou encarar o processo seletivo para o curso Formação em Palhaço para Jovens, dos Doutores da Alegria, cuja idade limite é 23 anos. Depois de estudar palhaço com Bete Dorgam, teve grande interesse em se aprofundar na área. Era sua última chance de ingressar no curso. E a agarrou. “Busquei o palhaço para ter base como atriz. Para mim, todo ator deveria passar por essa formação”, afirma.

 

Cada vez mais fascinada pelo universo do palhaço, Thaís começou a acompanhar os artistas do grupo nas visitas aos hospitais e ficou emocionada com o poder do palhaço, cuja máscara, para ela, tem a capacidade de trazer grande reflexão aos ambientes que visita, principalmente hospitalares.

 

Thaís e Eduardo Chagas (Foto: Ana Cariane)

 

Sendo assim, a artista “se convidou” para conhecer o trabalho de dois grupos que atuam nesse espaço: o Operação do Riso e o Esparatrapo. Em meados de 2011, após participar de visitas, passou a integrar o elenco do Esparatrapo, grupo que “vem se profissionalizando e entendendo seu papel artístico”.

 

No ano passado, fez mais um curso dos Doutores, fazendo visitas hospitalares ao lado de Dagoberto Feliz. Em encontros como esse e a oficina com o americano Michael Christensen – primeiro ator a entrar vestido de palhaço no hospital –, foi despertada uma questão que até hoje permanece na mente de Thaís: “Por que o palhaço no hospital?”. E a resposta, para ela, é: “Acredito que a máscara do palhaço chega para questionar as relações que são criadas no ambiente hospitalar”.

 

E, a partir dessa reflexão, ela também adota uma opinião um tanto polêmica em relação ao trabalho de levar alegria a leitos de hospitais: ela não concorda com o trabalho voluntário que muitas vezes é realizado nesse setor, por dificultar a profissionalização da classe e, consequentemente, levar aos pacientes trabalhos menos consistentes e sem repertório. 

 

“A coisa que mais mexe comigo é quando consigo fazer um jogo e a criança olha no meu olho e entra junto. Somos seres que pretendem tirá-las da rotina e é preciso, acima de tudo, de muito respeito para lidar com isso”, observa.

 

Atualmente, Thaís divide seu tempo com o trabalho no Esparatrapo, frilas esporádicos com produção de espetáculos e a SP Escola de Teatro. Recentemente, também esteve no elenco do curta-metragem “O Pacote”, que integra o 63º Festival Internacional de Cinema de Berlim, realizado de 7 a 17 de fevereiro. 

 

“A SP é um lugar de discussão que não tive oportunidade de encontrar em outros espaços. A Escola nos faz tentar entender e filosofar sobre nosso ofício, além de nos permitir ir para a ação. A relação com outras áreas também é muito importante, e a monitoria que fiz como contrapartida da Bolsa-Oportunidade me ajudou muito, pois tenho interesse em atuar como arte-educadora no futuro”, avalia a aprendiz.

 

Na correria de seu dia a dia, diversas dúvidas e tensões a fazem refletir sobre seu próprio papel como pessoa e como artista. Ainda que sorridente, Thaís diz ter sido sempre uma pessoa em crise. Mas isso está longe de ser um problema, afinal, como ela diz, “a crise gera movimento”.

 

 

Texto: Felipe Del

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