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Aprendiz em Foco | Ana Carolina Marinho

Publicado em: 06/08/2012 |

Extremo leste da capital paulista, Jardim Romano. Um bairro que carrega consigo um sem-número de histórias, grande parte delas iniciadas com gotas d’água. Gotas de chuva que, aos montes, se precipitaram sobre a região, e, acumuladas, deixaram várias áreas  submersas durante quase três meses, entre dezembro de 2009 e fevereiro de 2010.

 

Percebendo a riqueza das memórias que poderiam ser extraídas dos moradores, uma natalense e seus companheiros do coletivo EstoPÔ Balaio voltaram seus olhares para o bairro. O resultado ganhou o nome de Daqui a Pouco o Peixe Pula, o segundo projeto do grupo de Ana Carolina Marinho, aprendiz de Atuação da SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco. A direção artística e pedagógica é de João Júnior.

 

Do contato com os moradores do Jardim Romano, surgiu um projeto de criação, memória e narrativa que tem como inspiração poética o relato social do bairro e como missão construir uma cena documental que retrate e redimensione estas histórias por meio do teatro. Desde então, o projeto foi contemplado em duas categorias do  Programa de Ação Cultural (Proac): artes visuais e artes cênicas. 

 

O primeiro foi conquistado graças à ação comandada por Cris Ignoto, um grafiteiro da região, que consistia em aplicar dez depoimentos de moradores nas paredes do bairro. O artista criou, ainda, uma personagem homônima, e dedicou uma parede para cada pessoa, com uma narrativa escrita ao lado do desenho. A grafitagem começou no início do ano e foi concluída no mês passado.

 

O outro Proac, de artes cênicas, surgiu de uma parceria com a Cia. Geração da Arte, criada no próprio bairro. “É um coletivo composto basicamente por adolescentes, só tem um ou outro integrante mais velho. A parceria visa a montagem de um espetáculo de teatro de rua, o plano é mapear o bairro, contando como ficaram esses lugares durante a enchente. É como um experimento, na verdade”, explica Ana Carolina.

 

E não para por aí. Por meio do Programa Valorização de Iniciativas Culturais (VAI), o EstoPÔ Balaio conseguiu um espaço para desenvolver ateliês de criação. Com isso, os moradores do bairro passaram a ter acesso a três oficinas de quatro meses, cada uma contando com um ou dois monitores da Cia. Geração da Arte.

 

Uma delas, chamada “Memória e Narrativa, Construindo Narrativas Sonoro-Literárias”, é ministrada pela própria aprendiz e pretende proporcionar um exercício de reconstrução poética e sonora dos fatos narrados pelos moradores em rodas de histórias e jogos teatrais. “A ideia é recolher ainda mais histórias que tenham a água como meio interlocutor, transformá-las em literatura e experimentos sonoros, e criar um livro a partir dessas narrativas”, comenta.

 

Ana Carolina Marinho ministrando sua oficina (Foto: Divulgação)

 

“Caminhando nas Águas – Perna de Pau” é um ateliê de pernas-de-pau, que também serve de metáfora para a suspensão dos móveis e objetos durante as enchentes. O objetivo é transformar as aulas em um experimento de rua falando sobre a suspensão do bairro. A última, “Memória Visual, as Paredes Tatuadas”, é ministrada por Ignoto, e sua proposta é permitir que os moradores também grafitem suas histórias de vida. Todos os ateliês são gratuitos e já estão acontecendo.

 

 

Trajetória artística

Daqui a Pouco o Peixe Pula é apenas o mais recente projeto da qual participa Ana Carolina. Antes de deixar Natal, sua terra de origem, para estudar na SP Escola de Teatro, participou de uma série de oficinas de teatro, especialmente com os Clowns de Shakespeare. Lá, fundou, em 2009, o Grupo de Teatro Janela.

 

Preocupada com a precariedade das políticas públicas culturais da cidade, a aprendiz montou um núcleo de jovens artistas dispostos a discutir este assunto. “Deu super certo, criamos movimentos e conseguimos nos mobilizar”, relembra, orgulhosa.

 

Em 2011, Ana Carolina desembarcou em São Paulo, onde fundou outro grupo, o EstoPÔ Balaio – que é sinônimo de confusão, de chafurdo, de bagunça. Ou seja, dizer que alguém “estoPÔ balaio” significa dizer que não se aguentou e estourou. O grupo é composto por artistas migrantes nordestinos que buscam na metrópole uma forma de reproduzir sua cultura.

 

No primeiro projeto do coletivo, os porteiros de edifícios da cidade de São Paulo ficaram no centro da pesquisa. Após acompanhar as histórias de vida desses “trabalhadores do silêncio” – como são definidos pelo grupo –, os artistas deram vida ao espetáculo “Portar(ia) Silêncio”. O EstoPÔ Balaio tem, ainda, um núcleo de pesquisa em narrativa e mito através da contação de histórias da literatura oral brasileira, chamado Chicote de Língua, que, por sua vez, deu origem aos espetáculos “Assim me Contaram, Assim vos Contei…” e “O Rio Menino”.

 

No Jardim Romano, Ana Carolina e sua trupe tem sua sede na Rua Alvarens, 145. Para conhecer mais e acompanhar os projetos do grupo, acesse os blogs oficiais: http://daquiapoucoopeixepula.blogspot.com.br/p/estopo-balaio.htmlhttp://www.peixepula.blogspot.com.br/p/quem-somos.html

 
 

Texto: Felipe Del

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