Capa da Revista Antro Positivo (Divulgação)
Rapidamente, a notícia do lançamento de uma de uma nova revista eletrônica sobre teatro e política cultural invadiu as redes sociais. Publicada no último sábado (15), a revista Antro Positivo é uma realização da companhia Antro Exposto, com edição de Ruy Filho e Patrícia Cividanes.
“Feita a quatro mãos, mas estruturada por multidões”, como cita Ruy Filho, a publicação é online e conta, já na primeira edição, com 152 páginas e textos provenientes de uma “orgia entre mais de 120 colaboradores e entusiastas.”
A seguir, confira entrevista que Ruy Filho concedeu à SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco.
• Qual o objetivo da revista?
O principal foco da Antro Positivo é abrir caminho para discussões mais profundas sobre aspectos do teatro atual. Para isso foi fundamental abrigarmos também as questões relacionadas a política cultural. Na reunião desses dois vértices principais, surgiram outros, como as campanhas, sempre tratando de questões pertencentes ao fazer teatral de forma bem-humorada, e também o desejo de apresentar o teatro a quem ainda o desconhece. É com esse mesmo intuito que buscamos os colaboradores estrangeiros, para que possamos nos aproximar das outras culturas e criadores. A revista ainda visa buscar espaço para reflexões mais filosóficas sobre o teatro, seja em artigos retóricos, seja em provocações como Cenografia Impossível. Espaços para apresentações de jovens artistas ou já consagrados, cuja inquietação articula a cena contemporânea, compositores que voltam seus olhos à cena… Enfim, a Antro Positivo é, sobretudo, um veículo para o encontro, debate e descoberta.
• O que incentivou vocês a organizarem este projeto? De onde surgiu esta ideia?
A ideia surgiu 2 anos atrás de um incômodo vivenciado dentro da rotina de trabalhos da Cia. de Teatro Antro Exposto, a de que, hoje, dá-se mais importância ao produto do que ao artista. Mais importam aos meios de comunicação e a mídia em geral, e podemos arriscar falar até mesmo do público e dos próprios artistas, os trabalhos realizados, a competência de uma peça ou sucesso/reconhecimento, mesmo que sejam um equívoco completo. Incomodava o fato de perceber que perdíamos, quase sempre, a chance de reconhecer o artista, de saber o que o levou à necessidade de criar, de dizer, de se expor. Produtos – peças, espetáculos, leituras, textos -, podem dar errado, mas há algo genuíno nos motivos que os levaram existir, mesmo nas buscas mais comerciais. Por isso a proposta em criar um espaço onde nosso olhar fosse atrás daqueles que reconhecemos inquietos. Para conhece-los, para provoca-los, para descobrirmos, através deles, um pouco mais de nossa época e de nós mesmos. São os artistas que refletem os tempos e não os produtos. E parece que nos esquecemos disso muito rapidamente.
• Quem participa?
A organização da revista passa pelos dois editores: Ruy Filho e Patrícia Cividanes. Somos os responsáveis pelas pautas, organização estética, design (pela Patrícia), narrativa e textual (por mim), de quase todos os materiais. Somamos ao processo também o coletivo “Diálogos”, formado para acompanhar com resenhas críticas o Satyrianas 2010, como uma intervenção dialética com os artistas, e que agora, passa a se consolidar como experimento crítico de maneira mais concreta. A cada edição, convidados serão agregados, à partir das necessidades próprias das matérias. Resenhistas, fotógrafos, compositores, intelectuais, acadêmicos, artistas de todas as linguagens e estilos. A revista é aberta para toda e qualquer potencialidade teatral. Isso nos interessa. Feita a quatro mãos, mas estrutura por multidões.
• Para quem é voltado?
Sobretudo a todos os amantes do universo cultural e da política cultural. De estudantes à profissionais, de amadores à teóricos. Para nós, o importante é traduzir o desejo dos encontros em realidade. É evidente que o público em geral também tem seu espaço, por essa razão, os contos, as poesias, artes gráficas e artistas plásticos, por exemplo, são fundamentais para dar pluralidade ao interesse dos leitores.
• Qual será a periodicidade?
Trimestral, com publicações sempre próximas ao dia 15 dos meses de outubro, janeiro, abril e julho.
• A publicação será só virtual?
Em princípio, ela será digital. Três aspectos fundamentais foram idealizados desde o início: acessibilidade, visto que o meio nos permite potencializar o acesso livre; democratização, possibilitando que qualquer localidade provida de um sistema capaz de entrar na web possa chegar até a revista, sem condicionar à isso questões como classe, condição financeira e cultural; e sustentabilidade de sua produção sem descaracterizações de suas ideologias por imposições mercadológicas.
É evidente que, em algum momento, passaremos a ter publicações impressas. Trabalhamos também para que isso ocorra, assim como a ampliação de plataformas e outros mecanismos de introdução social dos materiais. Mas é fundamental, nesse primeiro instante, o enraizamento das diretrizes editoriais, para que possamos, posteriormente, ampliar suas capacidades seguros de seus valores.
Entrevista: Renata Forato