EN | ES

Experimentos

Publicado em: 27/02/2018 |

Experimentar, para a SP Escola de Teatro, significa desbravar territórios desconhecidos até o limite. Se tal caminho for feito de peito aberto, sem medo dos riscos, mudanças são inevitáveis. Aí está o grande combustível da arte. É disso que ela é feita: de redescobertas, reinvenções, transformações.

E é isso, claro, que norteia o Experimento, tido sempre como um dos momentos de maior efervescência dos semestres da Escola. “Em nossa concepção, a vivência da experiência é única, sempre singular e enriquecedora. E é na experimentação que ela é adquirida em sua plenitude, da maneira visceral como tem de ser”, comenta Ivam Cabral, diretor executivo da Instituição.

Essa etapa consiste na reunião de aprendizes de todas as áreas abarcadas pelos oito Cursos Regulares (Atuação, Cenografia e Figurino, Direção, Dramaturgia, Humor, Iluminação, Sonoplastia e Técnicas de Palco) em torno de um projeto comum. Assim, por três vezes durante o semestre, esses grupos, que são chamados de núcleos de trabalho, se debruçam sobre suas próprias investigações cênicas.

Também por três vezes, eles abrem seus processos ao público – sem, no entanto, carregar o peso de uma apresentação de espetáculo ou resultado final. Essa mostra acontece, geralmente, no Território Cultural.

Os pressupostos dos Experimentos são dados pelos módulos em que estão inseridos. É importante frizar que cada semestre corresponde a um módulo para o aprendiz. Assim, semestralmente, dois módulos correm paralelamente (um sob a turma matutina, outro sob a turma vespertina). Tais módulos são divididos por cores: Verde, Azul, Vermelho e Amarelo, cada um trabalhando eixos temáticos distintos, como narratividade, performatividade, personagem e conflito, escrita, etc.

“Trata-se, então, de um momento prioritariamente prático, mas, definitivamente, não desprovido de fundamento teórico”, Ivam Cabral conclui. “Existe um método, tendo por trás uma teoria a ser ensinada, mas como isso será posto em prática ficará a cargo do trabalho realizado pelos aprendizes, sob a tutela dos formadores e coordenadores dos cursos”.

Além do eixo temático, há nos módulos outros elementos que contribuem para a condução do ensino: o operador, modo por meio do qual as técnicas e conteúdos são trabalhados, sendo geralmente um pensador; os materiais de trabalho, que funcionam como um tema e encaminham as investigações; e o artista pedagogo, produções e referências artísticas da contemporaneidade que dão início aos estudos no módulo.

Neste ano, então, começamos com o módulo Azul e seu eixo temático dedicado à a performatividade. Como operador, Elisabeth Young-Bruehl e seu conceito de criancismo; como material de trabalho, a criança e suas múltiplas representações nas Artes Visuais e, como pedagogo, a companhia teatral britânica Forced entertainment.

Paralelamente, o módulo Verde adotou como eixo temático personagem/conflito. O operador também foi Elisabeth Young-Bruehl e seu conceito de criancismo; o material de trabalho foi composto por textos que tratam do universo da criança e entrevistas e depoimentos sobre a infância, e, finalmente, o pedagogo foi o dramaturgo, escritor, roteirista e compositor inglês Philip Ridley.

Já no segundo semestre, o módulo Amarelo teve como eixo temático a narratividade. O operador foi o economista francês Thomas Piketty; o material de trabalho foi “Dinheiro e poder no Brasil”, tendo como elemento disparador a trajetória do empresário Eike Batista, e, finalmente, o pedagogo foi René Pollesch, dramaturgo e escritor alemão.

E, no módulo Vermelho, diferentemente dos outros, o eixo temático deveria ser definido por cada núcleo, assim como o artista pedagogo. Tanto o material de trabalho quanto o operador foram os mesmos do Amarelo.

Outra característica do Experimento é a distribuição da responsabilidade criativa. Dessa forma, um aprendiz de Direção não tem mais valor que um de Técnicas de Palco: ambos são igualmente responsáveis pela criação em grupo, cada um à sua maneira, mas contribuindo no mesmo nível para o nascimento de propostas e soluções compatíveis com a pesquisa do grupo.

A ousadia da proposta pedagógica da Escola, que é não hierárquica, não acumulativa e modular, é um dos principais diferenciais da Instituição, como reforça Ivam Cabral: “Essa estrutura nos coloca em um espaço único entre as escolas de teatro, uma das singularidades que mais chamam a atenção de profissionais e instituições de todo o mundo”.