EN | ES

Vera Holtz por Analu Ribeiro

Publicado em: 23/05/2013 |

*Introdução do livro “Vera Holtz: O Gosto da Vera”, lançado em 2006 pela Coleção Aplauso da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo (para ler a obra, na íntegra, clique aqui
 
Vera-rá-rá-rá-rá-rá! 
Quando só o que faltava para terminar este livro era o título, tive uma luz: O Gosto da Vera. Ela adorou, e mais ainda quando contei a origem da minha inspiração. Acontece que meu pai, o jornalista José Hamilton Ribeiro, publicou nos anos 60 um livro lindo e emocionante, “O Gosto da Guerra”, no qual conta sua experiência como repórter enviado especial da revista Realidade para a guerra do Vietnã. 
 
No meio da cobertura, ele pisou numa mina terrestre e foi para os ares. A explosão levou com ela parte de sua perna esquerda. Transferido para um hospital americano em Chicago, enquanto se recuperava do acidente junto com outros sobreviventes da mesma guerra, ele escreveu o livro, relançado em 2004 pela Editora Objetiva. Graças a Deus, e à torcida dos amigos e da família – eu era pequenininha, tinha dois anos de idade –, sua recuperação foi total. Ele continua na ativa, exercendo sua profissão com a bravura de sempre, e espero que não se incomode com o meu trocadilho. Mais ainda: que dê risada e, quem sabe até, se sinta homenageado. Em um país de memória curta como o Brasil, e que não tem – ou não tinha, até agora – especial vocação para publicar biografias, a busca era árida para quem, como eu, adora entrar em detalhes da vida e da trajetória das pessoas que eu admiro mais. 
 
Quando ouvi falar da Coleção Aplauso, e quase imediatamente corri a encontrar nas livrarias uma porção de livros com as histórias desse, daquele e daquele outro artista, junto com a pressa de ler tudo o que caía na minha mão me deu uma vontade danada de participar. 
Pensei na Vera, amiga querida, antídoto contra o baixo-astral, bacana, bagunceira, barulhenta, engraçada, divina-maravilhosa e uma atriz daquelas, de talento gigantesco, destemido, indomável. Ela também se animou com a ideia, topou correndo. 
 
Nossos dias de entrevista foram incríveis. São Pedro ajudou com o céu azul sem falhas, banhado por um sol fresco de outono que deixava o Rio de Janeiro ainda mais lindo, se é que isso é possível. O Jardim Botânico colaborou com a paisagem bucólica e suas ruas antigas, que eu fazia questão de cruzar a pé. E a Vera entrou com o relato, com a graça, com o sorriso que estava sempre me esperando do outro lado da sua porta. 
 
Na sua memória restaram apenas as partes boas, é só do que ela se lembra. Achei estranho no começo – como vamos escrever uma biografia só com histórias divertidas? Eu sei, e qualquer um sabe: a tragédia vende muito mais. Mas o livro é a história dela, e a história dela é feita de muito riso, de muita alegria, de muita família, de muito amigo, de muita paixão, de muito porre, de muito carnaval. Foi uma delícia ouvir, um prazer escrever e uma vitória publicar. Minha satisfação vai ser completa quando você terminar de ler e concordar comigo: Essa mulher tem gosto de festa!