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Uma Visita ao Teatro

Publicado em: 07/06/2011 |

Os aprendizes do curso de Difusão Cultural Diálogos Psicanálise/Teatro foram ao Espaço dos Satyros assistir à peça “Hipóteses para o Amor e a Verdade”, no último domingo (5). 

 

O orientador do curso, oferecido pela SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco, Sergio Zlotnic, acompanhou o grupo e escreveu algumas palavras que expressam seu pensamento sobre o espetáculo. Confira, abaixo, seu texto na íntegra.

 

“Hipóteses para o Amor e a Verdade”. A peça escrita por Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez, e dirigida por este último, é exemplar para colocar em questão alguns aspectos do campo teatral que temos abordado neste semestre no curso Diálogos Psicanálise/Teatro, na SP Escola de Teatro. 

 

Ao discutir, entre outros temas, a cidade, os Satyros põem no palco várias personagens que aludem a um sujeito desgarrado, que busca sempre recortar suas singularidades, num embate doloroso, habitando um mundo de extrema ambiguidade. 

 

Vemos sublinhados os temas do desencontro e da solidão, costurados de uma maneira que se desdobra ora numa direção cômica, ora trágica. Fragmentada, bem à moda da contemporaneidade, a história se desenvolve em estilhaços de cenas, que se comunicam de formas nem sempre diretas. 

 

A estética dos Satyros está lá, intacta, já um estilo do grupo, que se revela nos diálogos casuais e de grande agilidade, e nos cenários incrivelmente bem resolvidos com uma aparente precariedade de recursos. Enfim, saberíamos que a peça é do grupo, mesmo que não tivéssemos a informação. 

 

Na alegria e na alegoria, essa estética lembra o movimento tropicalista dos anos 70, e é também sem dúvida tributária do Teatro Oficina, de José Celso. Ali, como aqui, o jogo teatral é uma celebração e uma busca por um ‘acontecimento vivo’, quase como um ensaio-aberto – que guarda assim a sua intensidade dionisíaca. 

 

As interações com o público obrigam que os atores se equilibrem sempre no abismo de uma improvisação, na iminência de errar – justamente o que mantém a cena viva. Nesse desafio, vale destacar a excelência das performances de, entre outros, Tiago Leal e Gustavo Ferreira que, em notável naturalidade, levam o público ao riso e às lágrimas. 

 

Nascida da observação dos ‘cidadãos comuns’ [‘pessoas anônimas’], que frequentam a Praça Roosevelt, em frente ao teatro, “Hipóteses…” resulta num grande trabalho, de um momento do grupo de evidente felicidade e inspiração.

 

Observação: a metáfora ‘na beira do abismo’ [acima] traduz com fidelidade um dos temas do curso Diálogos Psicanálise/Teatro; “Verdade e Ficção”, outro eixo de reflexão de nosso curso, também se revela na peça, na medida em que os atores ali encarnam personagens reais encontradas na praça e ficcionalizados no Espaço do Satyros 1… [dizem até que um dos “anônimos” da praça foi ‘se’ assistir no teatro… reza a lenda que ‘ele se gostou’!]. 

 

 

Fotos: Rodrigo Meneghello