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Um Espetáculo em Quatro Atos

Publicado em: 27/01/2011 |

Inspirado na cultura brasileira dos anos 60, o espetáculo “Ópera dos Vivos – Estudo Teatral em 4 Atos”, da Companhia do Latão, estreiou no Sesc Belenzinho, espaço cultural na zona leste de São Paulo que, depois de cinco anos de obras, reabriu na primeira semana de janeiro deste ano.

 

Essa montagem marca os 14 anos de carreira da companhia paulistana dirigida pelo dramaturgo Sérgio de Carvalho. A peça é dividida em quatro atos: “Sociedade Mortuária”, “Tempo Morto – Um Filme Sobre o Golpe”, “Privilégio dos Mortos” e “Morrer de Pé”.

 

O espetáculo prioriza as linguagens do teatro, do cinema, da música e da televisão e busca a reflexão sobre a cultura brasileira nos anos 60 em contraste com os dias atuais. O trabalho é resultado de uma pesquisa que também engloba personalidades marcantes na trajetória da cultura do País como Glauber Rocha, Roberto Marinho e Augusto Boal.

 

Com 3h30 de duração, a trama inclui um show, um filme, uma gravação de TV e uma peça e a sonoplastia que sublinha todo esse enredo e estabelece relação entre as personagens, seu modo de narrar e seus assuntos, é assinada por Martin Eikmeier, que também responde pela direção musical do espetáculo e é formador do curso de Sonoplastia da SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco.

 

Segundo Eikmeier, as referências para a composição do trabalho musical do espetáculo transitam por gêneros diversos. “No primeiro módulo a música ressalta a simplicidade do mundo no campo e a ingenuidade de suas personagens, característica fundamental para explicar a relação que estabelecem com o mundo à sua volta e a urgência em modificar sua condição por uma luta que deve ser abastecida, sobretudo, pela educação”, revela.

 

Já na segunda parte do espetáculo, toda a simplicidade do primeiro ato dá lugar à densidade. A equipe optou por usar a orquestra, que conforme o diretor musical é um instrumento que permite a execução de contrastes eloqüentes, fundamentais para a visão quase que expressionista que o filme conduz sobre o golpe militar. “O filme enquadra situações em alto relevo na chave do absurdo, ainda que pautadas por episódios reais. Neste momento, a música precisava potencializar esta disposição e a referência fundamental foi a música orquestral da primeira metade do século XX”, conta.

 

No show, a referência foi a música tropicalista. Os arranjos neste módulo buscaram a linguagem pop com o uso da guitarra, do baixo, da bateria e do piano que compõe a banda fictícia “Os Intactos”.  Eikmeier revela que melodia e harmonia esforçam-se, no espírito da música feita para a indústria, para impregnar os ouvidos do público, convidando-os a cantar junto e esta contradição é provocativa e produtiva ao mesmo tempo, pois obriga o espectador a tomar partido da lógica da encenação.

 

“O módulo da TV tem uma inclinação ao grotesco e à comédia, que a música não poderia desprezar”, revela Eikmeier.  “Ouvimos algumas canções que são executadas no contexto do universo narrado, nestas usei, sobretudo, a linguagem da música de propaganda, aquela que se ouvia ao menos até a década de 80. Melodias infantilizadas que se esforçam para encaixar uma divisão melódica ao conteúdo da letra. Mas há também uma grande quantidade de música instrumental que resgata alguns temas do filme e da peça camponesa”, conclui.

 

“Ópera dos Vivos – Estudo Teatral em 4 Atos” fica em cartaz no Sesc Belenzinho até o dia 13/03, aos sábados e domingos, sempre às 19h.

 

Serviço:
Sesc Belenzinho
Endereço: Rua Padre Adelino, 1.000 | Belém
São Paulo/SP
Informações: (11) 2076-9700 | 0800 11 8220 ou [email protected]