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Teatro Experimental do Negro (TEN) debatido na Escola

Publicado em: 13/04/2015 |

Há quase um ano, no dia 12 de abril de 2014, o Teatro Experimental do Negro (TEN) foi discutido a fundo na SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco, com uma mesa de discussão promovida pela Instituição em homenagem ao centenário de Abdias Nascimento (1914-2011). 

 

Os convidados ao debate foram: o historiador, pesquisador e aprendiz de Dramaturgia da Escola, Christian Fernando dos Santos Moura; a escritora, mestre em Direito e em Ciências Sociais e doutora em Psicologia, Elisa Larkin do Nascimento; o ator e bailarino Haroldo Costa; e o bailarino e coreógrafo Rui Moreira.

 

(Foto: André Stefano)

 

O Teatro Experimental do Negro (TEN) foi fundado e dirigido pelo político, ativista e ator Abdias do Nascimento, em 1944, no Rio de Janeiro, tornando-se pioneiro em levar ao palco um elenco de atores negros e/ou mestiços, fazendo parte da formação do teatro moderno brasileiro, ao lado de grupos como o Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), em São Paulo, e Os Comediantes, no Rio de Janeiro.

 

O objetivo do grupo era a valorização do negro com um trabalho de cidadania, propiciando a conscientização social, além da alfabetização, na medida em que o elenco era recrutado no universo operário, entre as empregadas domésticas, favelados sem profissão e alguns funcionários públicos.

 

O início de seus trabalhos foi uma colaboração com o Teatro do Estudante do Brasil (TEB), na peça “Palmares”, de Stella Leonardos. Porém, ao investir num espetáculo próprio, deparou-se com a dificuldade de encontrar algum texto brasileiro que correspondesse aos seus objetivos, ou seja, com personagens negros. Dessa forma, Abdias do Nascimento recorreu a um texto de Eugene O’Neill, “O Imperador Jones”, que retrata a situação do negro após a abolição da escravatura. O espetáculo estreou em 1945, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, com boa recepção da crítica e elogios ao ator Aguinaldo Camargo. 

 

Diante da ausência de novos autores, foi encenada outra peça de Eugene O’Neill, “Todos os filhos de Deus têm asas”, com a participação da atriz Ruth de Souza, que passa ser integrante da companhia. 

 

Na tentativa de criar uma dramaturgia brasileira que servisse aos seus objetivos, o Teatro Experimental do Negro (TEN) recebeu o texto “O filho pródigo”, de Lucio Cardoso, que chegou à cena em 1947, com cenários de Tomás Santa Rosa, e protagonizado por Ruth de Souza e Aguinaldo Camargo. Nesse mesmo ano, atuaram em “Terras do sem fim”, de Jorge Amado, adaptação de Graça Mello, com direção de Zigmunt Turkov, montagem em parceria com Os Comediantes. 

 

Em 1949, foi encenado o primeiro texto escrito especialmente para o grupo: “Filhos de santo”, de José de Morais Pinho, com elementos da cultura religiosa negra e alguma crítica social. Em 1950, foi a vez de “Aruanda”, de Joaquim Ribeiro, que conta a lenda do amor entre Rosa Mulata e o Deus Gangazuma.

 

Apesar de ter uma ideologia de conscientização, o grupo não chegou a ser um teatro popular nem popularizou sua plateia, na medida em que se apresentava quase sempre no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Para ir além do seu lado teatral, Abdias do Nascimento promoveu um concurso de beleza para negras e um concurso de artes plásticas com o tema Cristo Negro. Em 1945, realizou a Convenção Nacional do Negro e, em 1950, o 1º Congresso do Negro Brasileiro. Em 1955, promoveu a Semana do Negro. Editou, ainda, o jornal Quilombo. 

 

A existência do Teatro Experimental do Negro (TEN) incentivou a criação de outras companhias negras, como o Teatro Popular Brasileiro, de Solano Trindade, no Rio de Janeiro. Em São Paulo, Geraldo Campos de Oliveira, que fizera parte do grupo fundador, criou outro Teatro Experimental do Negro, que se manteve em atividade durante mais de 15 anos. 

 

Mesmo com o empenho de seu diretor artístico e elenco, o Teatro Experimental do Negro (TEN) não chegou a ter uma grande popularidade junto à população negra, mas serviu, até o encerramento de suas atividades, em 1961, para a criação de uma dramaturgia negra e o surgimento de novos atores e grupos negros.

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