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‘Sonata fantasma bandeirante’, de Francisco Carlos, aborda conflito entre branco e índio

Publicado em: 28/02/2014 |

A residência cumprida no ano passado pelo dramaturgo e encenador amazonense radicado em São Paulo, Francisco Carlos, na SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco, como previsto, deu origem ao seu principal objetivo: o espetáculo “Sonata fantasma bandeirante”, que tem previsão de estreia para o dia 15 de março, na Sede Roosevelt da Escola.

 

O projeto, fruto de uma parceria entre a SP Escola Teatro, a Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária/USP e o Instituto de Psicologia/USP, promoveu, a partir de agosto, um ciclo de conferências que tinha como objetivo “formar um corpo teórico, um mosaico de ideias e linguagens desenvolvidos no processo dramatúrgico-cênico da residência”, como explica o diretor artístico do projeto. Os encontros contaram com a participação de nomes como a diretora teatral, escritora e pesquisadora Ingrid Koudela, e o cientista social guarani Emerson Oliveira, entre outros.

 

Movido pela temática central o conflito entre o branco (especialmente os bandeirantes) e os índios, parte fundamental da história de São Paulo, a pesquisa atentou para “400 anos de uma história que é muito cara a São Paulo, mas que também é repleta de controvérsias”, segundo Francisco.

 

Para criar a peça, o programa teve, além das palestras, laboratórios e ensaios, dos quais também participaram aprendizes da Escola. 

 

“Ser ou não ser paulista?” é a questão central lançada pela obra. Logo serão divulgadas mais informações sobre a estreia. Leia abaixo um trecho do texto:

 

“Pai nosso que estais no céu, santificado seja o teu nome manchado, perdoa os meus santos pecados e prometo que continuarei confessando para sempre matando e limpando meus santos pecados e meus assassinatos assassinando e suplicando perdão sempre e sempre e sempre na hora de minha morte e depois no além.

 

Eu vim me confessar meu capelão, eu tenho pecados medonhos, eu matei milhares e milhares de índios, eu genocídio, me conceda teu perdão meu homem santo, preciso descansar minha consciência num canto do céu ou do inferno.”

 

O início

O projeto da residência teatral surgiu a partir de dois convites feitos a Francisco Carlos: um por Ivam Cabral, diretor executivo da Escola, e outro por Danilo Silva Guimarães, professor doutor do Departamento de Psicologia Experimental do Instituto de Psicologia da USP.

 

Em 2011, Francisco Carlos promoveu um ciclo de estudos e debates teatrais chamado “Relatos Canibais”, que colocava em pauta temas como guerra e o canibalismo tupinambá e seus desdobramentos em nossas poéticas-políticas dramatúrgicas e cênicas. Danilo passou a frequentar os encontros semanais e convidou para que os artistas se aproximassem de seu departamento na USP. Ali, foi criado um grupo de estudos e difusão de ideias com foco centrado sobre as subjetividades indígenas.

 

Mais tarde, no primeiro semestre de 2013, eles planejaram fazer no segundo semestre, como forma de compartilhar com o público as pesquisas do grupo, a micro residência teatral “Sonata Fantasma Bandeirante”. Nessa ocasião, Ivam Cabral o convidou para mais uma residência, também no segundo semestre. “Topei na hora porque eu e Ivam, juntos, já realizamos algumas aventuras no teatro das quais, segundo Ivam, até deus duvida. Assim, tivemos a ideia de juntar as duas residências e as duas instituições num projeto único e o que era pra ser uma micro residência ampliou-se em grande escala”, observa.