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Socióloga finlandesa, Sanna Ryynänen, fala sobre a sua relação com a SP Escola de Teatro e a influência do Brasil em sua pesquisa

Publicado em: 22/11/2022 |

Sanna Ryynänen Foto: Maija Savolainen

A socióloga Sanna Ryynänen, professora de pedagogia social na University of Eastern Finland, na Finlândia, foi convidada para ministrar uma aula especial nesta semana sobre arte e democracia no curso técnico da SP Escola de Teatro.

A intelectual finlandesa possui graduação e mestrado na área de sociologia e doutorado em educação e pedagogia social pela University of Tampere. Um de seus principais campos de pesquisa é o teatro e as artes performativas como atos sociais e políticos, mas ela também é pesquisadora membro do grupo finlandês de teatro independente Saimaan Teatteri (Saimaa Theatre) e membro do coletivo pesquisador-artista Puhekupla (Speech Bubble). Sua especialidade são os métodos de pesquisa criativos, orientados para a ação e participativos, e é co-autora de livros didáticos sobre a temática, assim como no campo das ciências sociais, bem como em pedagogia social.

Sanna já tem uma relação estabelecida com o Brasil e também com a SP Escola de Teatro. Com seu interesse nas questões de encontros e práticas relacionais no teatro e nas artes performativas, bem como na política no teatro, em 2021, ela escreveu um artigo para a revista Lumen, da Lapland University of Applied Sciences, falando sobre o trabalho digital da Cia. Os Satyros, criada por Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez, durante a pandemia.

Confira a entrevista com as autoras do livro Eternizar em Escrita Preta, vencedoras do Prêmio Solano Trindade 2021

Intitulado (Work) communality in the COVID-19 era, em tradução livre, (Trabalho) Senso de comunidade na era COVID-19, o artigo fala sobre a utilização dos aplicativos de videoconferências (Zoom, Meets, Skype e etc) nos espaços de trabalho, onde a comunidade é o centro da discussão. A autora ressalta que nas apresentações do Satyros Digital a trupe criou uma forma de, espontaneamente, elaborar uma maneira desse encontro ocorrer e disserta como foram bem-sucedidas as empreitadas digitais do grupo ao longo destes quase 2 anos.

Para a pensadora, o teatro é enquadrado como um ato socialmente engajado não apenas do ponto de vista de seus temas, conteúdos e formas, mas também considerando a interação entre a peça/performance e o espectador e as relações resultantes, bem como os processos de trabalho em grupo e relações de poder relacionadas. Em sua tese, ela considera Os Satyros como uma possibilidade de tempo e espaço compartilhados durante a pandemia que visa promover diferentes tipos de encontros e diálogos. Dentro desse contexto, ela defende que a dimensão política central do teatro está nas situações, relacionamentos e momentos comunitários que as artes cênicas são capazes de construir.

Atores Flavio Tolezani e Rafael Losso apresentam as proposições teatrais sobre a residência artística Gagarin Way aos estudantes da SP Escola de Teatro

Nesta sua nova vinda ao Brasil, em novembro de 2022, Sanna concedeu uma entrevista exclusiva à SP Escola de Teatro para falar como surgiu sua relação com o país e quais são seus propósitos de interagir a sua área com o ensino das artes do palco.

Confira a entrevista:

Por ser uma pesquisadora na área de pedagogia social, qual é a relação do seu trabalho com o Brasil?

Sou pesquisadora na área de pedagogia social por causa do Brasil. Entre 2004 e 2006 trabalhei quase por um ano como voluntária no Projeto Axé, em Salvador, Bahia. Essa experiência me levou a conhecer a pedagogia social que não conhecia antes e também me inspirou a fazer a pesquisa de doutorado na área. O Projeto Axé também me introduziu o campo que chamo pedagogia arte-social, referendo aos meios pedagógicos que carregam em si a profunda importância das artes para a vida humana.

Você irá ministrar uma aula na SP Escola de Teatro sobre Arte e Democracia, você pode nos contar um pouco sobre como será essa experiência?

A democracia é um componente fundamental de uma sociedade igualitária, justa e humana, mas só funciona quando a democracia não é entendida somente como um modo de governar, mas como um modo de viver junto. A vitalidade da democracia requer pessoas que estejam comprometidas com a construção e o desenvolvimento de uma sociedade igualitária e justa, e que também se sintam parte da sociedade. O desenvolvimento dessas habilidades é associado, particularmente, com as humanidades e as artes. Na aula, vou discutir as ligações entre as artes e as questões da convivência na sociedade, principalmente a democracia como um modo de viver juntos. O significado das artes na vida humana e na sociedade vai muito além da experiência imediata. As artes devem ser consideradas como parte algo maior quando buscamos soluções para a atual crise da democracia. Por exemplo, as artes podem alimentar e ampliar a capacidade de empatia, e possibilitar experiências participativas de posições estigmatizadas e marginalizadas.

Para você, qual a importância da SP Escola de Teatro e sua pedagogia inovadora para o ensino das artes do palco no Brasil?

Vou continuar com o tema da democracia. Educação para democracia acontece melhor através dos processos democráticos, e sempre olhei com admiração a proposta pedagógica da SP Escola de Teatro que, para mim, é, entre outras coisas, uma tentativa de resolver a questão de como introduzir processos mais democráticos no campo do ensino das artes do palco. A importância da SP-ET deve também ser considerada além do Brasil: a sua pedagogia inovadora serve como um exemplo e uma fonte de inspiração não somente para o ensino das artes do palco mas também para o ensino acadêmico em qualquer área. Nos lembra que é possível pensar “out-of-the-box” (fora da caixa) e tornar ideais utópicos como práticas vivas do ensino.

Por Beatriz Pereira. Edição: Luiza Camargo




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