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Sobre as Sombras e o Teatro

Publicado em: 23/11/2010 |

Nem a forte chuva na Zona Leste da capital paulista abalou as estruturas do II Encontro de Teatro de Sombras, realizado, em parceria com a SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco, no Espaço Sobrevento, na segunda-feira (22). Mais do que esperado, o evento reuniu cerca de 17 companhias que se inspiram e complementam suas criações com elementos do teatro de sombra para trocar experiências com o público.
 

Lumbra, Quase Cinema, Articularte, Teatro Por Um Triz, Luzes e Lendas, Mão na Luva, Esppiral, Muita Luz e Pouco Pano, Companhia Companhia, Teatro de La Plaza, Cia. Capadócia, Atlântica, Dragão Amarelo e Trup Trolhas foram alguns dos grupos que participaram do encontro. Uns com a equipe completa, outros somente com seus representantes.
 

O encontro foi realizado em homenagem ao contador de história e bonequeiro Valter Valverde, mestre da grande maioria dos sombristas do Brasil, ator, fundador da Cia. Luzes e Lendas e integrante da Cia. Truks, com a qual atua no espetáculo “E Se as Histórias Fossem Diferentes”.
 

“Quando comecei a atuar com o teatro de sombras, poucas eram as pessoas que se interessavam por isso. Com o tempo, passaram por mim muitos interessados e artistas que buscavam entender essa técnica. Hoje, me sinto orgulhoso com o fruto do meu trabalho reconhecido e homenageado”, revela Valverde.
 

Durante a noite, esses profissionais intercalavam os bate-papos com ensinamentos e apresentações. Discutiram-se segredos e diferentes maneiras e ideias para praticar a arte do teatro de sombras.
 

Uns utilizaram bonecos feitos de couro de animais, outros montagens coloridas com garrafas pet. E as invenções não paravam por aí: entre o conta-gotas e as penas feitas de papel (personagens de uma história infantil), surgiu a famosa maleta do bonequeiro Christian Macedo Lins que, ao ser desmontada, revelava as caixas de som de uma vitrola e trazia ruídos nostálgicos para a trilha sonora do sombrista que narrava textos clássicos do teatro.
 

O mote era compartilhar, dividir conhecimentos e não negar a explicação de nenhum conceito adquirido no trabalho prático. “Quanto mais gente fizer, melhor fica”, explicou Ronaldo Robles, co-fundador da Cia. Quase Cinema, antropólogo e artista plástico que, ao lado da iluminadora, diretora e atriz Silvia Godoy, apresentou dois espetáculos de autoria do seu grupo.
 

Difundir o trabalho de sombras é também desconstruir uma estrutura, segundo Alexandre Fávero, fundador da Companhia Teatro Lumbra de Animação. “Levantam-se as luzes, jogam-se os objetos para a frente, mostram-se as ferramentas e todo o material do sombrista. Só assim o espectador aguça sua curiosidade e enxerga que, mesmo com recursos simples e trabalho artesanal, a luz, o imaginário e a sombra constituem um espetáculo maravilhoso”, concluiu.

 

Em passagem por São Paulo para realizar uma prova de mestrado, Maxlow Carvalho Furtado, da cidade do Maranhão, fez questão de participar do Encontro de Sombras. “Eu faço parte da Cia. Casemiro Coco e, quando recebi o convite, me organizei para vir e conhecer meus colegas no teatro de animação”, explicou.
 

Ana Maria Amaral, professora de Teatro de Animação na ECA/USP e diretora e dramaturga de teatro de bonecos, também participou do encontro e comentou que sentiu uma energia positiva ao entrar no espaço. “A sombra é tênue e não existe. Nós também somos tênues, porém, quando se enxerga a obstinação do Grupo Sobrevento, e a paixão de cada grupo aqui, dá para notar que o espetáculo não foi somente no palco, ele se estendeu para a plateia e, de certa forma, criou um momento de energia que se eterniza”, revelou emocionada.