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Silvana Garcia por Maria Tuca Fanchin

Publicado em: 30/03/2012 |

O que falar sobre Silvana Garcia?

 

Até o nome já me intimida de tão elegante: Silvana Garcia. Pra não fazer feio, voltei-me para os arquivos que tenho sobre ela, assisti a entrevistas no youtube, essas coisas. Mas, então, eu me dei conta que mais do que falar sobre a Silvana ensaísta, teórica, pesquisadora, eu poderia falar aqui da relação que tenho com ela, de atriz e diretora.

 

Essa relação começou na Escola de Arte Dramática (EAD), quando ela abriu um curso, uma série de encontros extra-curriculares, para os alunos interessados em conhecer textos de teatro contemporâneos. Desde então, construímos, juntas, duas pequenas obras. “Lesão Cerebral” e “Há um Crocodilo Dentro de Mim”. Dividir um espaço de criação com a Silvana, é participar de um universo lúdico, leve, delicado; cheio de referências malucas e aparentemente desconexas. 

 

A Silvana provoca o tempo todo, faz perguntas mais do que dá respostas. Sempre procura descobrir o que nos move, onde é que bate a inquietação. Há sempre um espaço de escuta sensível. Ao trabalhar com a Silvana, eu pude perceber que, sempre que um ensaio dá “errado” (quando cito essa palavra eu considero a importância dos erros cometidos em sala de ensaio, ou seja, quase sempre são melhores que os “acertos”, pois apontam novos caminhos), quando um ensaio não atinge o lugar que ela havia vislumbrado para nós, ela vai embora pra casa pensando em descobrir o melhor caminho pra direcionar o trabalho de atriz. Como ela pode se comunicar melhor, se fazer entender. Ela se responsabiliza. E eu acho isso lindo numa direção: a capacidade de fazer escolhas e de ser gentil em relação às escolhas alheias.

 

Às vezes, é muito difícil mostrar ideias de cenas pra ela, porque, quando se está conectado com o teatro que se faz, em diferentes lugares do mundo, como é o caso dela, é muito fácil se entediar. É preciso provar pra ela que é necessário que a sua proposta tome corpo. E, geralmente, ela não se convence, o que torna impossível a acomodação. A gente está sempre buscando chegar a algum lugar estético, conceitual, uma raison d’être, e nunca chega, porque chegar mesmo é o que menos importa.

 

Por fim, porque é preciso um fim, ao conviver com Silvana Garcia, eu descobri que, por trás do leque espanhol, existe uma mulher sensível, atenta, engajada e divertida. Que por trás da sua ironia mordaz, há uma artista que sofre, que se emociona, que se questiona. Uma mulher muito elegante.

 

 

Maria Tuca Fanchin é atriz e produtora.

 

Veja o verbete de Silvana Garcia na Teatropédia.

 

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