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Ser/Representar

Publicado em: 25/06/2012 |

Por Vicente Concilio
Especial para o portal da SP Escola de Teatro

No texto a seguir, Vicente Concilio, ator e professor da área de Teatro-Educação do Departamento de Artes Cênicas da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), fala sobre jogos cênicos. Ele esteve no sábado (23), na sede Brás da SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco, para acompanhar de perto o terceiro e último Experimento do Módulo Azul.

Um tema evidente e relevante aos criadores dos experimentos apresentados no último sábado trata da função dos atores e atrizes em trabalhos de cunho mais performativo.
O gesto primordial do artista que veste a máscara é um dos impasses eternos da arte de interpretar. Por um lado, a máscara é um artifício que esconde a face do ator e materializa em objeto o desejo de ser outro. Por outro, ela é um código que deveria libertar voz, gesto e emoção do humano em busca da verdade na cena, e não simbolizar o que há de artificial no trabalho da atuação.

Para os criadores que possuem interesse explícito em esgarçar os limites da linguagem e da função social do teatro a partir de fricções com a arte da performance, há o desafio de perseguir novas e instigantes estratégias para compreender a presença do homem na relação espetacular. Trata-se de explorar novos jogos de construção cênica, a partir dos enlaces entre arte e vida, ou ficção e realidade. A opção por transitar entre esses campos reflete-se na cena, no trato dos artistas com o material organizado para a situação espetacular e nos níveis de interação desses artistas com o público.

Nesse âmbito, é instigante questionar, na medida em que o artista resolver explicitar fatos de sua vida, suas memórias e traumas, como é que essa matéria-prima vai provocar discussões acerca do homem e da condição contemporânea.

Ao flertar com a arte da performance e sua condição de radicalidade, sobretudo  na exposição de questões privadas, os artistas da cena correm um risco evidente de reduzir a arte a um espaço de simples exibição narcísica de fatos íntimos. Que questões éticas devem ser levadas em consideração quando um ator ou atriz resolve embarcar nas zonas fronteiriças entre o teatral e o performativo? Que estruturas internas e que dispositivos técnicos devem ser elaborados e testados pelo artista que vê nesse campo um terreno fértil para a eterna busca de sentidos e atualidade para o teatro?

Na dita “sociedade do espetáculo”, na qual o noticiário jornalístico se confunde com teledramaturgia e, em contrapartida, há a ficcionalização do real nos infames reality shows, não há espaço para furtar-se desse questionamento, sob o risco da cena, em nome da verdade e da busca pela presença do real na ficção, seguir reforçando o fetiche da superexposição das intimidades.

 

 

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