Em 2003, quando fui ver a primeira peça de Sérgio Roveri no teatro, sabia que ia me divertir. Conhecia o humor do jornalista, com quem convivi por vários anos na redação do Jornal da Tarde, e tinha a certeza de que seria um texto engraçado. A peça era “Vozes Urbanas”, cujos atores se revezavam no palco em quatro histórias ambientadas numa cidade grande, podia ser São Paulo ou qualquer outra. Quando acabou, pensei: isso é humor ou é dor? As duas coisas. Eram textos carregados de humor. Mas a sombra dessas personagens projetava uma solidão, talvez por estarem num lugar ao qual não pertenciam.
A vida em cena. É esse cotidiano das pessoas simples que está presente no trabalho de um dos dramaturgos mais interessantes da última década da cena paulista.
Roveri, como bom repórter que sempre foi, é um observador atento da natureza humana, percebe suas fraquezas, suas amarguras, seus abismos e, em alguns casos, relativiza tudo isso com o humor e a força dos personagens, como nas comédias “Andaime” e “A Vida que Pedi, Adeus”.
Prostitutas, travestis, operários, escroques, pais que lidam com as perdas dos filhos, anônimos, um mundo de pessoas trágicas e cômicas. Gente invisível, como os dois limpadores de janela (“Andaime”), ou carregada de poesia em “Abre as Asas Sobre Nós” (que lhe rendeu o prêmio Shell); a dor de pais e mães (“Horário de Visita”, “A Noite do Aquário”, “Ensaio para um Adeus Inesperado”); o encontro de dois homens numa ponte, um deles marcado pela tragédia (“Encontro das Águas”). O dia-a-dia de todas essas personagens foi costurado com diálogos precisos e sensíveis, peças de um mosaico que o dramaturgo sempre soube encaixar.
Parabéns ao amigo Sérgio e a todos os autores, diretores, atores, cenógrafos, iluminadores, fotógrafos, figurinistas, artistas profissionais e amadores, aos da tragédia e aos da comédia. Todos vocês fazem do teatro um verdadeiro espetáculo.
Bárbara Oliveira é jornalista
Veja o verbete de Sérgio Roveri na Teatropédia.
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