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São Paulo e o PCC Pelo Viés Filosófico

Publicado em: 14/11/2012 |

Foram dados os primeiros passos para o terceiro e último Experimento do Módulo Amarelo da SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco. E eles vieram por meio de duas palestras que relacionaram pensamentos filosóficos à cidade e ao tema pesquisado neste Módulo, “São Paulo: Maio de 2006 – A Ação do PCC na Cidade”.

 

A primeira conversa foi realizada ontem (13), tendo como convidado o ator, diretor e dramaturgo português Óscar Silva, que também é assistente da Diretoria Executiva da Instituição. Ele ministrou a palestra “Perspectivas de Paul Virilio sobre a cidade”, elucidando pontos do raciocínio do filósofo francês Paul Virilio em relação à utilização da velocidade na guerra, a velocidade de informação, que é capaz de anular o indivíduo em vez de aniquilá-lo. “Quanto mais informações recebemos, menos conseguimos agir. Neste panorama, a verdade parece não existir”, observou.

 

Ao falar sobre a atual arquitetura do tempo, explicou que hoje tudo permanece em excessivo movimento e a cidade acaba por não conseguir acompanhar esse ritmo. Aplicando as perspectivas de “um filósofo (Virilio) que olhou para o mundo contemporâneo” à atuação do PCC, concluiu que “a sensação é de que o PCC consegue manipular mais o tempo que o espaço”, pois, ainda que muitos líderes estejam presos, conseguem criar mecanismos para uma organização conjunta.

 

O diretor executivo da SP Escola de Teatro, Ivam Cabral, corrobora com essa observação do palestrante sobre Paul Virilio: “Antigamente, há cerca de 10 anos, por exemplo, as diferenças de fusos horários do planeta atrapalhavam as relações humanas, sejam elas sociais, econômicas. Hoje, com a internet, isso não é mais um problema. Na crise americana de 2008, por exemplo, pessoas enriqueciam ou perdiam todo seu dinheiro em apenas 5 minutos, sentadas em suas casas, no Brasil, em Londres ou Tóquio”, pontua.

 

Ao final da conversa, Joaquim Gama, coordenador pedagógico da Escola, falou sobre o que espera que a discussão proporcione: “Muito mais que a aceitação dessas ideias, nos interessa as perspectivas de questionamento que podem surgir. Como criar mecanismos e formas de se apropriar desse material?”, questionou.

 

Para aprofundar um pouco mais os conceitos de Virilio, a Instituição recebeu, na manhã de hoje (14), Diego Vicentin, sociólogo e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Na palestra “As Relações entre o Pensamento Crítico de Paul Virilio e a Ação do PCC em Maio de 2006”, ele ressaltou que a obra do filósofo entrou em sua pesquisa – relativa ao desenvolvimento e evolução das tecnologias móveis de comunicação – justamente pela questão da velocidade.

 

Segundo Vincentin, o pensador detectou que o homem, e principalmente a sociedade ocidental, vem perdendo cada vez mais a relação com o espaço. Se antes existia uma forte relação de produção de sentido com ele, hoje, o que tem importância é o tempo. “Habitamos o tempo do transporte que ultrapassa o espaço e tenta se aproximar da velocidade da luz”, diz.

 

A produção de sentido no mundo contemporâneo também foi abordada. Nossa realidade, de acordo com Virilio, passou a ser mediada, ou seja, “enxergamos” o mundo de forma indireta. Isso nos leva, consequentemente, à crise da narrativa e da unidade: “Não é possível existir uma narrativa hegemônica, que dê conta do real”, afirma Vincentin.

 

Adentrando o universo de São Paulo e o PCC, Vicentin falou sobre a forma como o grupo utiliza a velocidade e como isso lhe confere poder. “O mais veloz passa a ser o mais forte”. Assim, a mobilidade é um dos maiores aliados dos criminosos durante os ataques.

 

Já próximo do fim da conversa, o convidado, junto a Óscar Silva, respondeu a perguntas do público, que abordou assuntos como o tempo do teatro e da arte.

 

“O Diego traz uma contribuição bastante interessante. Agradeço por instaurar essa crise em nós. Podemos nos colocar de várias formas em relação ao que foi dito aqui, mas devemos olhar para as coisas além dos fatos e pensar em como dar tratamento poético para isso”, disse Joaquim Gama.

 

Os aprendizes do Módulo Amarelo compartilham com o público essa etapa do Experimento no próximo dia 8 de dezembro.

 

 

Texto: Felipe Del