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Russos, Alemães e Brasileiros na Abertura do Colóquio “O Que É Pedagogia do Teatro?”

Publicado em: 24/04/2013 |

Afinal, o que é pedagogia do teatro? Foi para responder a esta pergunta, que teve início ontem (23), na Sede Roosevelt da SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco, o colóquio, cujo título é a própria questão acima.

Numa realização dos departamentos de Pedagogia e Extensão Cultural da Escola, o colóquio será composto por 13 mesas. A de abertura reuniu a curadora do evento, Prof.ª Dr.ª Ingrid Dormien Koudela, livre-docente da ECA-USP; a Prof.ª Dr.ª Maria Thais, pesquisadora e diretora teatral, além de mestre e doutora em Artes pela ECA/USP, e Ivam Cabral, diretor executivo da SP Escola de Teatro, além de ator, diretor, dramaturgo, doutorando em Pedagogia do Teatro e mestre em Artes Cênicas pela ECA/USP. O tema foi “Olhares Sobre a Pedagogia do Teatro”.

Após as boas-vindas ao encontro, a cargo do coordenador pedagógico da Escola, Joaquim Gama, Ingrid Koudela assumiu a palavra e falou de como se originou a ideia do colóquio. Em seguida, traçou um breve currículo de Maria Thais e Ivam Cabral e passou a palavra a cada um deles.

Especialista em teatro russo, coube, então, a Maria Thais falar da pedagogia do teatro, inserida na chamada escola russa, a partir do estabelecimento da metodologia de Stanislavski. “É preciso entender que o método de Stanislavski passou a existir a partir da negação que ele fez a tudo o que havia em termos de teatro na Rússia, até então. A partir daí, criou-se uma tradição. E a pedagogia, pra mim, é a transmissão, via tradição, de algo que é criado na relação mestre/discípulo”, começou Maria Thais.

A pesquisadora e diretora ainda discorreu sobre a importância de se experimentar aquilo que é ensinado, transmitido pelos chamados mestres das artes do palco. “Não adianta só ficar na teoria. A parte teórica é apenas o início, uma fase do estudo. Depois, faz-se absolutamente necessária a experimentação, sentir na carne aquilo que foi aprendido e apreendido”, observou.

Ivam Cabral assumiu, então, a palavra para contar sobre o projeto pedagógico da SP Escola de Teatro. “Sou o quinto filho de uma família de seis irmãos. Meu pai era pedreiro e minha mãe, costureira. Daí que me lembro de, aos domingos, depois da missa e antes do almoço, irmos (eu, meu pai e meus irmãos) passear numa ponte que meu pai havia construído na cidade. Essa ponte ligava o hospital que atendia à população de Rio Claro, no Paraná, onde eu morava, à cidade propriamente dita. Só com o tempo eu fui entender a importância daquele trabalho artesanal do meu pai. E, mais tarde, na hora de fazer teatro, eu mesmo compreendi que havia herdado aquele dom de desenvolver projetos artesanalmente. Aqui na Escola, também somos artesãos, de uma certa forma. Tudo é ensinado com foco na experimentação. Optamos por um ensino não acumulativo para que o aprendiz que esteja ingressando na Escola em um determinado semestre possa cursar qualquer um dos nossos quatro módulos”, afirmou Ivam.





Os participantes da mesa (da esq. para a dir.) Maria Thais, Ingrid Koudela e Ivam Cabral lançaram 
“Olhares Sobre a Pedagogia do Teatro”

Para encerrar as colocações individuais dos membros da mesa e antes de passar para as perguntas feitas pelo público, Ingrid Koudela voltou a ter a palavra para discorrer sobre sua especialidade: o teatro de Brecht. Ela virou seu foco às chamadas peças didáticas do dramaturgo e pesquisador alemão. “Essas peças didáticas são muito interessantes porque elas permitem, na verdade, pedem, que se introduzam elementos nelas. Não são obras fechadas. Pelo contrário. Elas pedem complementos. São muito interessantes, principalmente, para serem trabalhadas com estudantes de teatro”, disse.

Com a sessão de perguntas abertas ao público, Ingrid observou: “Agora, nossa intenção, como revela o nome desse colóquio, “O que é Pedagogia do Teatro?”, escrito com uma interrogação; não é responder a perguntas, mas levantá-las, para que elas sejam elucidadas nas próximas mesas, no decorrer desse evento”. Dentre as “questões” feitas, veio a da formadora do curso de Humor da Escola, Daniela Biancardi, que falou da importância da própria SP Escola de Teatro para a cidade de São Paulo. “Assim como a cidade pulsa, a Escola pulsa. É interessante ver como os aprendizes chegam aqui, suas histórias e, depois, sentir como os devolvemos para a cidade. Não é um trabalho fácil, mas extremamente prazeroso, recompensador. Acredito que uma instituição voltada à formação das artes do palco deve, sim, sempre, levar em consideração o contexto onde ela está inserida, seu site specific”, concluiu.

Sob aplausos, a primeira mesa foi encerrada. A próxima acontecerá no dia 14 de maio, às 19h, e trará para o debate Marici Salomão, coordenadora do curso de Dramaturgia da SP Escola de Teatro; a Prof.ª Dr.ª Rosa Iavelberg, da Feusp; o Prof. Dr. Pedro Paulo Salles, da ECA/USP, e Janete Andrade, da Fundação Cultural de Curitiba. Eles se debruçarão sobre o assunto: “Linguagens da Arte – I”. O evento é aberto ao público, com entrada gratuita. Todos estão convidados!

 






Texto: Majô Levenstein