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Rubens Ewald Filho por Vilmar Ledesma

Publicado em: 30/03/2012 |

“A vida só tem de previsível a sua imprevisibilidade.” A frase do filme “Ratatouille” vem faceira quando sento para escrever sobre o Rubens Ewald Filho. Faço as contas e percebo que o conheço há quase 25 anos. 

 

Em setembro de 1988, começava como jornalista no Diário do Sul, em Porto Alegre. Rubens apareceu na cidade para participar de um festival de cinema e fui entrevistá-lo. O mercado de vídeo (VHS) também engatinhava e o sempre pioneiro Rubens escrevia para jornais e revistas, e fazia os famosos guias de filmes que criaram escola. 

 

Lembro que me surpreendi com a amabilidade daquele homem grandão. Não fazia ideia, mas, um ano depois, eu já morava em São Paulo, trabalhava numa revista e uma das minhas primeiras entrevistas lá foi com… Sim, com ele, o crítico de cinema mais conhecido do País, que lançava o “Dicionário dos Cineastas”, o primeiro livro do gênero no Brasil. E Rubens lembrava da entrevista de Porto Alegre. 

 

Pouco tempo depois, tive a honra de ser um de seus colaboradores. E, mais tarde, voltamos a nos encontrar na HBO, onde foi diretor e formou uma daquelas equipes de sonho que conjugam trabalho e diversão com semelhante intensidade. 

 

Rubens é crítico de cinema e dos bons. Mas o que mais me chama a atenção é que, antes de ser crítico, ele é fã de cinema e não abre mão disso. É homem de gestos largos e fala idem, sempre com histórias deliciosas; fala com paixão das coisas que gosta. Em seu estilo de escrever, criou uma ponte entre o crítico e o fã. “No Brasil, os críticos mantinham a postura de não falar a linguagem do público”. Tirei essas aspas de uma de nossas primeiras entrevistas.

 

Guardo com carinho essas duas matérias e, graças a elas, pude checar as datas e perceber que 25 anos se passaram, desde então. E falando a linguagem do público ele se tornou o Homem do Oscar, por muitos anos, na TV Globo e, nos últimos tempos, na TNT. Rubens respira cinema 24 horas por dia, e até sonha com filmes. Uma de suas marcas registradas é a paixão por Debbie Reynolds, que vem desde a adolescência. 

 

Sabe quando você transforma hobby de infância em profissão? Com esse cara, aconteceu assim. Menino retraído, nascido em Santos, dentro de uma família repressora. Usava, desde cedo, cinema e literatura como válvulas de escape, uma espécie de ilha de sonhos particular. Anotava os filmes que assistia e o hábito de infância continua; seus “caderninhos” também ficaram famosos. Em setembro de 1988, os caderninhos registravam 9.514 filmes, em agosto de 1994, 14.052. Quantos serão hoje?

 

Homem de várias atividades, Rubens trabalhou sob a direção de Walter Hugo Khouri. Pena que o filme “Amor Estranho Amor” não existe nas locadoras. É aquele que Xuxa confiscou. Para a televisão, escreveu novelas: “Éramos Seis”, em parceria com Silvio de Abreu, Drácula e Gina. No mercado editorial, foi um dos responsáveis pela Coleção Aplauso, da Imprensa Oficial de São Paulo, que transformou a história de centenas de artistas brasileiros em livros. 

 

São tantas atividades que ainda nem cheguei ao teatro, e olha que, aos 18 anos, Rubens integrava um grupo de Santos, o Teffi. Numa volta aos palcos, bem ao estilo Hollywood dos filmes que ele adora, em 2007, dirigiu “Querido Mundo”, comédia de Miguel Falabella e Maria Carmen Barbosa, que ficou anos em cartaz. Logo vieram dois espetáculos que ele encenou e produziu com Os Satyros, “Hamlet Gasshô” e “O Amante de Lady Chatterley”. 

 

Meu amigo segue crítico de cinema, apresentador de televisão, blogueiro e cada vez mais íntimo dos palcos, em montar a cena e dirigir atores. E, como a vida só tem de previsível a sua imprevisibilidade, não se surpreenda se, logo, logo, ele aparecer com novidades. 

 

 

Vilmar Ledesma é jornalista.

 

Veja o verbete de Rubens Ewald Filho na Teatropédia.

 

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