O SAGRADO É O QUE MINHA RAZÃO NÃO ALCANÇA
testemunhei Rubens Corrêa (1931-1996) em cena em três ocasiões
a primeira foi em “Artaud!”
no porão do Teatro Ipanema
espaço mítico fundado por ele e pelo diretor Ivan de Albuquerque
(parceiros de uma vida inteira de realizações mágicas / sagradas
neste palco de epifanias, como a montagem antológica de “Hoje É Dia de Rock”, em 1971)
estive diante dele também em “4x Beckett” (direção de Gerald Thomas)
e em “O Futuro Dura Muito Tempo”
(com a brilhante Wanda Lacerda
último espetáculo do encenador Márcio Vianna
obra de arte na qual
pela primeira vez em minha vida
um ator gritou não fora
mas dentro de minha cabeça
(atuação como atualização do daimon…)
sei (de ler tudo a respeito)
de outras atuações de Rubens Corrêa
que se inscreveram de modo incontornável na história do teatro brasileiro:
em “O Assalto”, de José Vicente;
em “O Arquiteto e o Imperador da Assíria”, de Fernando Arrabal;
em “Prometeu Acorrentado”, de Ésquilo;
em “Diário de um Louco”, de Nikolai Gogol.
tive a graça de ser aluno de Rubens Corrêa em 1993
não me lembro de suas frases
mas me lembro de sua presença
da quantidade absurda de energia que ele manipulava
quando falava
silenciava
nos olhava
imobilizava e se movia
o brilho febril de seu olhar
misto de euforia
e
desespero
Georg Büchner escreveu em “Woyzeck” que
cada ser humano é um abismo e a gente tem vertigens quando se debruça sobre um deles
nunca sentiu-se tanto
em toda a história do teatro brasileiro
o perigo e o fascínio da vertigem
quanto quando nos debruçamos sobre os abismos
cavados a cada obra em altíssimas e variadas intensidades
pelo gênio / mago
Rubens Corrêa
(o ator como presentificação do mistério infinito…
Veja os verbetes de Roberto Alvim e Rubens Corrêa na Teatropédia.
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