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Rubens Corrêa por Roberto Alvim

Publicado em: 29/03/2012 |

O SAGRADO É O QUE MINHA RAZÃO NÃO ALCANÇA

 

testemunhei Rubens Corrêa (1931-1996) em cena em três ocasiões

a primeira foi em “Artaud!”

no porão do Teatro Ipanema 

espaço mítico fundado por ele e pelo diretor Ivan de Albuquerque

(parceiros de uma vida inteira de realizações mágicas / sagradas 

       neste palco de epifanias, como a montagem antológica de “Hoje É Dia de Rock”, em 1971) 

 

estive diante dele também em “4x Beckett” (direção de Gerald Thomas)

e em “O Futuro Dura Muito Tempo”

(com a brilhante Wanda Lacerda 

                                último espetáculo do encenador Márcio Vianna 

                                                                      obra de arte na qual

pela primeira vez em minha vida

um ator gritou não fora

mas dentro de minha cabeça

(atuação como atualização do daimon…)

 

 

sei (de ler tudo a respeito) 

de outras atuações de Rubens Corrêa 

que se inscreveram de modo incontornável na história do teatro brasileiro: 

em “O Assalto”, de José Vicente; 

em “O Arquiteto e o Imperador da Assíria”, de Fernando Arrabal; 

em “Prometeu Acorrentado”, de Ésquilo;

em “Diário de um Louco”, de Nikolai Gogol.

 

tive a graça de ser aluno de Rubens Corrêa em 1993 

não me lembro de suas frases 

mas me lembro de sua presença

da quantidade absurda de energia que ele manipulava 

quando falava

silenciava

nos olhava

imobilizava e se movia 

o brilho febril de seu olhar

misto de euforia 

desespero

   

Georg Büchner escreveu em “Woyzeck” que

              cada ser humano é um abismo e a gente tem vertigens quando se debruça sobre um deles

 

nunca sentiu-se tanto 

em toda a história do teatro brasileiro

o perigo e o fascínio da vertigem 

quanto quando nos debruçamos sobre os abismos 

cavados a cada obra em altíssimas e variadas intensidades 

pelo gênio / mago

Rubens Corrêa

(o ator como presentificação do mistério infinito…

 

 

Veja os verbetes de Roberto Alvim e Rubens Corrêa na Teatropédia.

 

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