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Regina Ricca fala sobre Alberto Guzik

Publicado em: 09/06/2011 |

Na vida perdemos pessoas que amamos – mas algumas perdas nos parecem mais reais. Elas acontecem e pronto. Vêm as saudades, as lembranças estão sempre lá, vívidas, mas junto vem a compreensão de que elas não existem mais – estão acomodadas agora apenas na nossa memória.
Com outras, essa sensação curiosamente se inverte. Ou seja, temos a impressão de que essa pessoa vai nos ligar, que vamos nos encontrar na saída de um cinema ou teatro, que vamos marcar um jantar naquele restaurante que adoramos ir. Essa modalidade de ‘defesa’ da perda eu ainda não havia experimentado, até a morte do Guza. Passado um ano de sua morte, pra mim, a gente não tem se visto muito porque ele está enfiado lá na Praça ensaiando uma nova peça ou está em cartaz com outra à noite e ralando de dia na implantação da SP Escola de Teatro.
 

Sei, claro, que ele não está mais aqui (ainda não enlouqueci totalmente). Até porque, cada vez que passo em frente ao prédio onde ele morava, encontro amigos que ele amava, ou vejo uma peça que sei que ele iria adorar, sinto um imenso nó na garganta.
 

Foram anos de convivência e afeto – mais de 20. Estivemos juntos em momentos cruciais das nossas vidas, compartilhamos dias felizes de viagens por aí, ele pegou minha filha no colo, ele me ensinou tantas coisas, me abriu tantas janelas de conhecimento. Sinto muita dificuldade de falar sobre o Guza, de ajudar a descrevê-lo para que sua figura não caia no esquecimento. Acho, sinceramente, isso muito difícil. Ele foi um agente importante de transformação cultural desta cidade. Como crítico teatral, como romancista, como dramaturgo, diretor e ator, mas especialmente como livre pensador da cultura nacional e universal.
 

Com a sua morte, nós, os amigos mais próximos, perdemos um cara que amávamos, o amigo com voz e gargalhada tonitruantes, o sujeito generoso e delicado sempre pronto para oferecer uma palavra afetuosa (só para quem ele gostava, é bom deixar claro!). Mas a perda maior se dá no terreno do saber, do tudo que ele, com sua vigorosa energia, teria ainda a dizer, a escrever, a atuar, a ousar e, especialmente, a nos ajudar a engrandecer o pensamento com suas provocativas reflexões.