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Personagens e Teatro Criando Forma

Publicado em: 02/12/2010 |

Composta por embalagens de brigadeiros, balas coloridas, folhas, retalhos e até luvas plásticas, uma exposição ocupa o térreo da SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco desde quarta-feira (30). A mostra reúne figurinos desenvolvidos por aprendizes do curso de Difusão Cultural “Figurino e Teatro: um Ato Criador”.

 

Ministrado pelo diretor, cenógrafo e figurinista José de Anchieta, o curso, foi criado com o intuito de levar o participante a adquirir conhecimento teórico e prático da área de criação e da História da Roupa, sua sociologia e sua antropologia em todas as etapas da vida humana, desenvolvendo, assim, a expansão do ato criador.

 

Durante o curso, Anchieta repassou ensinamentos adquiridos desde o início da sua trajetória na década de 60 e abordou temas como história da indumentária, modelagens de época, desenho de figurino, tecelagem, criação, confecção e produção de figurinos.

 

Em seus trabalhos no teatro, Anchieta realizou a concepção de cenário e figurinos para os espetáculos “Em Família”, de Oduvaldo Vianna Filho; “Bodas de Sangue”, de Federico García Lorca; “O Doente Imaginário” e “Scapino”, de Molière; “Sonho de uma Noite de Verão” e “A Megera Domada”, ambas de William Shakespeare; “O Marido Vai à Caça”, de Georges Feydeau; a ópera “O Homem que Confundiu seu Chapéu com a sua Mulher”, de M. Neiman; e o musical “José e Seu Manto Technicolor”, de A. Loyd Weber.

Para Natália Greco, a metodologia e o trabalho de Anchieta são fantásticos. “Só tenho elogios a ele, como artista, como professor e como pessoa. Ele consegue ser múltiplo e dar liberdade para cada um criar e seguir seu caminho como preferir”, afirma.

 

“Primeiramente quero dar meus parabéns à Escola pela escolha do mestre, porque ele é um artista no sentido completo da palavra. Um professor que estimula, elogia e compartilha sua maneira maravilhosa de olhar o mundo e o próximo para criar”, revela Mônica Rosseto.

 

Enquanto ajudava sua colega a pintar sua personagem, Stephanie Fortes, maquiadora de teatro e atriz, revela que esse professor ensina mais do que figurino. “Ele conversa com a maquiagem, a atuação e a cenografia e unifica todas as artes do palco para culminar no ‘fazer teatro’. Ele ensina que é importante para um figurinista pensar no macro, tudo para que o público saia da sala de espetáculos e não diga que o figurino é lindo mas sim que a peça é maravilhosa”, conclui.

 

Abaixo, confira o texto que esse elogiado professor escreveu em homenagem aos seus alunos.

 

Figurino e teatro – Um Ato Criador

 

O Desenho é a voz, a fala e a escrita de todo figurinista, melhor dizendo, de todo artista visual. É através desta ferramenta que se expressa o ato criador. Não falo isto como um axioma, mas como uma proposta de caminho para a formação de criadores de figurino para teatro.
 

A ênfase deste curso foi a defesa da importância do conhecimento de desenho para uma comunicação mais clara e imediata com todos os segmentos do teatro: o diretor, o produtor, o elenco, o maquiador, o cenógrafo, etc.
 

Durante os três meses de duração deste curso, discutimos: Os primórdios da humanidade e a sua vestimenta, a Idade Média, o Renascimento, o Barroco, o Rococó, o Período Vitoriano, “Les Annés Folles” ou “La Belle Époque”, o Art Nouveau, Art Déco, primeira e segunda Guerra Mundial, a década de 1940 até os dias de hoje.
 

Em paralelo aos estudos destes períodos, vimos também os figurinos para teatro desde a Comédia Del´arte, Moliére, Shakespeare, Antoine, o realismo do Duque germânico Georg II Saxe de Meiningen, Berthold Brecht e tantos outros ilustres teóricos e dramaturgos da Europa, Estados Unidos e Brasil.
 

Propus como encerramento do curso, Anton Tchekov e o seu belíssimo e curto texto, escrito em 1866, “Os Malefícios do Tabaco”, onde o senhor Nioukhine, um tabagista inveterado, por ordem de sua esposa, vai proferir uma palestra sobre os malefícios do tabaco. Durante a palestra, ele aborda os mais variados temas como a sua família, os seus negócios, dedicando apenas as últimas palavras ao tema do perigo do tabaco, pela chegada inesperada de sua esposa ao local da palestra.
 

Aos alunos, solicitei uma investigação sobre as personagens que formariam a plateia desse estranho palestrante. Cada qual criou um desenho para a personagem escolhida, aleatoriamente. Por último, os desenhos foram transpostos para escala natural, o que resultou em excelentes criações.
À esta turma, reservo os melhores méritos pelo esforço, uma vez que grande parte da classe no início era renitente ao ato de desenhar.
 

Parabéns a todos. Deixo aqui expresso o meu contentamento e admiração pelo aproveitamento deste grupo. Esta pequena exposição é o resultado final deste curso. 
 

JOSÉ DE ANCHIETA