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Paroni Coordena Discussão Teatral na Escola

Publicado em: 12/04/2013 |

A partir de amanhã(12), a biblioteca da Sede Roosevelt da SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco servirá, às sextas-feiras, de espaço para férteis discussões teatrais conduzidas pelo diretor Maurício Paroni de Castro.

 

Intitulado “Chá e Cadernos”, o evento tem como disparador, em sua edição inaugural, o tema “Suspensão de Descrença”, conceito que “se refere à vontade de um leitor ou espectador, de aceitar como verdadeiras as premissas de um trabalho de ficção, mesmo que elas sejam fantásticas, impossíveis ou contraditórias”, como define o poeta Luciano de Samósata, no livro “Uma História Verdadeira”. 

 

Paroni explica que o termo (suspension of disbelief) foi cunhado por Samuel Taylor Coleridge, em um de seus escritos de 1817. “É um termo que designa a vontade por parte do leitor ou espectador para suspender as suas faculdades críticas, a fim de ignorar as inconsistências e desfrutar de uma obra de ficção secundária. Não significa a abolição total da lógica e da coerência, mas a sua adaptação ao tipo de trabalho para o qual ela é aplicada.”

 

Segundo Paroni, os encontros servirão para o tráfico de conhecimento e de aprendizado do “aparentemente proibido”. “O espaço promoverá troca de conhecimento fora de um âmbito mais hierárquico. Eu mesmo vivi isso na biblioteca da escola Paolo Grassi (Piccolo Teatro de Milão) como o catalisador essencial de meu aprendizado na época. Kantor me dizia para sempre incentivar esse ‘contrabando’. Não costumo transmitir isso em sala de aula, por conta do necessário respeito à ordem e hierarquia. Nem posso, pela natureza do ensino técnico do artesanato teatral, que requer muita disciplina e hierarquia organizativa”, afirma.

 

Um terreno informal de reflexão como esse, de acordo com o coordenador, é propício para a descoberta de novos caminhos na arte. “A cultura renovada sempre está ligada aos locais informais de troca de informação. E não é só o boca a boca dos espetáculos, mas a própria personalidade artística dos realizadores. O local onde se realiza troca de conhecimento que desenvolve a forma e a revolução está quase sempre fora do âmbito justa e necessariamente mais hierárquico: é o espaço onde as pessoas falam sobre a vida, onde há troca de informação e da sociabilidade”.

 

Práticas semelhantes a essa já podiam ser encontradas há tempos na História. Na Londres do século 18, por exemplo, cafés funcionavam como endereço para correspondências dos leitores. O costume se espalhou por toda Europa e fez com que a revista britânica The Economist atribuísse a eles a alcunha de “a internet da era iluminista”.

 

“Os cafés na Europa eram tantos, que os contatos entre os milhares de seus frequentadores só podiam ser feitos por meio de jornais. Foi a partir dessa necessidade que muitos deles levavam para as residências os debates que aconteciam nesses locais”, conta Paroni.

 

Sobre Maurício Paroni de Castro
Nascido em 1961, cursou Direito e Filosofia na USP. Residiu em Milão por 15 anos, onde diplomou-se na “Scuola D’Arte Drammatica ‘Piccolo Teatro’ di Milano”, hoje “Paolo Grassi”, onde foi professor residente de 1985 a 1999. Desde 1998, está artisticamente associado à companhia escocesa “Suspect Culture”.

 

Foi professor residente na Universidade Statale di Pavia (Itália), da Volda Universitat, (Noruega) e da Royal Scottish Academy of Music and Drama (Escócia). Teve como professores, entre outros: Tadeusz Kantor, Thierry Salmon, Josef Svoboda, Eckhardt Schall, Martin Esslin, Iva Hutchison Formigoni, Enrico Job, Hubert Westkemper, Luca Ronconi, Massimo Castri, Vannio Vanni, Gigi Saccomandi, Ettore Capriolo, Lorenzo Arruga e Heiner Muller, com quem trabalhou como ator no espetáculo “Shakespeare Cocktail”, em 1988.

 

Dirigiu mais de 40 espetáculos (por dez anos, foi diretor estável no Centro di ricerca per il teatro, de Milão) entre a Itália, o Reino Unido e o Brasil. Trabalhou em Portugal, Noruega e República Tcheca. Colaborou com o jornal Folha de São Paulo, com artigos sobre teatro, tendo entrevistado personalidades como Dario Fo e Giorgio Strehler, entre outros.

 

Dirige e elabora dramaturgias e é autor de “Aqui Ninguém é Inocente”, livro sobre os métodos de dramaturgia empregados na parceria de sua companhia Atelier de Manufactura Suspeita e a de Ziza Brisola, Companhia Linhas Aéreas. 

 

 

Serviço
Chá e Cadernos 
Com Maurício Paroni de Castro
Quando: Sexta-feira (12), às 19h
Onde: SP Escola de Teatro – Sede Roosevelt
Praça Roosevelt, 210 – Centro
Tel.: (11) 3775-8600
Grátis

 

 

Texto: Felipe Del