EN | ES

Papo de Teatro com Paulo Marcello

Publicado em: 12/03/2012 |

Paulo Marcello é ator

 

 

Como surgiu o seu amor pelo teatro?

Comecei a fazer teatro ainda adolescente, em uma escolinha de arte. Quanto tinha 17 anos, meu irmão, que fazia teatro na ECA/USP, me convidou para fazer um teste numa montagem com texto e direção do Miroel Silveira, uma criação do Teatro Laboratório da ECA. Entrei para interpretar apenas um mensageiro e acabei fazendo o papel de Dionísio. Minha paixão foi total e imediata, a partir daquele momento sabia que teria de fazer teatro pelo resto da vida.

 

Lembra da primeira peça a que assistiu? Como foi?

A primeira peça a que assisti foi “Morte e Vida Severina”, ainda criança, levado por meus pais.

 

Um espetáculo que mudou o seu modo de ver o teatro.

Em 1996, quando Grotowski esteve no Brasil, a Cia. Razões Inversas foi convidada a participar de uma troca de experiências com ele. Foi um encontro de três dias. No primeiro, pudemos assistir a uma apresentação de “Action” apenas para os membros da companhia. No segundo, fizemos uma apresentação do nosso trabalho e, no terceiro, passamos uma noite inteira falando sobre teatro e bebendo vinho com ele e com o Thomas Richards. Eu havia assistido à filmagem de “Action”, achado interessante, mas não tinha captado toda sua dimensão. Ao assistir essa performance/espetáculo ao vivo transformei o meu modo de ver teatro, tanto na perspectiva da construção narrativa quanto na da atuação dos intérpretes.

 

Um espetáculo que mudou a sua vida.

O primeiro espetáculo que fiz, “Prometeu Libertado”, de Miroel Silveira. Mudou minha vida, porque descobri a paixão pelo teatro.

 

Você teve algum padrinho no teatro? Se sim, quem?

Alguns. O primeiro foi Miroel Silveira, que dirigiu e escreveu o primeiro espetáculo que fiz. Também a Cristiane Paoli Quito. Fizemos uma montagem de “Escorial”, de Michel de Ghelderode, em 1986, que participou de diversos festivais e foi muito premiada, com a qual ganhei o prêmio de Melhor Ator no Festival de Teatro do Sesc de 1987. Porém, mais do que padrinho, meu mestre é o Marcio Aurelio, com quem venho trabalhando nos últimos 21 anos. Continuo admirando e aprendendo com o trabalho deste que considero um dos maiores encenadores de nossa época.

 

Já saiu no meio de um espetáculo? Por quê? 

Já. Porque me fazia gostar um pouco menos do teatro.

 

Teatro ou cinema? Por quê?

Adoro cinema, mas minha paixão é o teatro.

 

Já assistiu mais de uma vez a um mesmo espetáculo? E por quê?

Alguns por gosto, outros por obrigação. Recentemente, assisti diversas vezes ao “Luis Antônio – Gabriela”. Gosto muito da linguagem não realista, com uma estrutura narrativa extremamente contemporânea, que me emociona a cada vez que assisto.

 

Qual dramaturgo brasileiro você mais admira? E estrangeiro? Explique.

Todo texto é pretexto para nossas montagens. Na companhia, sempre pensamos no que queremos dizer naquele momento e usamos os textos com toda a liberdade. Nosso texto é o espetáculo. Claro que tenho uma admiração especial pelo Newton Moreno. A poesia dos seus textos é encantadora.

 

Qual companhia brasileira você mais admira?

A Cia. Razões Inversas.

 

Existe um artista ou grupo de teatro do qual você acompanhe todos os trabalhos?

Assiti a todos os trabalhos dos Fofos Encenam. Além de pessoas queridas, eles têm um trabalho de altíssima qualidade, uma pesquisa sólida que resulta em belíssimos espetáculos.

 

Qual gênero teatral você mais aprecia?

Gosto tanto da tragédia quanto da comédia, mas prefiro o épico ao dramático.

 

Em qual lugar da plateia você gosta de sentar? Por quê? Qual o pior lugar em que você já se sentou em um teatro?

Gosto de sentar do meio para trás da plateia, para ter uma visão mais ampla do espetáculo. O pior lugar, num espetáculo muito ruim, é aquele que te deixa sem possibilidade de sair da sala. Se o espetáculo for bom, vale sentar no chão, se pendurar num poste, ficar em qualquer lugar.

 

Fale sobre o melhor e o pior espaço teatral que você já foi ou já trabalhou?

Um dos lugares onde fomos melhor recebidos e que tem um charme todo especial é o Teatro Poeira, no Rio. Nossa temporada de “Agreste” lá foi uma delícia. O pior espaço foi um cinema antigo, que havia sido transformado em igreja e depois abandonado. Estava caindo aos pedaços, imundo, com um palco de estrutura metálica e tábuas de compensado empenadas que afundavam quando caminhávamos. A acústica era impossível. Havíamos acabado de chegar de Berlim e fomos direto para o Festival de Resende. Difícil de esquecer…

 

Existe peça ruim ou o encenador é que se equivocou?

Muitas vezes um excelente encenador, com um ótimo texto e ótimos atores, fazem um péssimo espetáculo. Não existe fórmula que garanta o sucesso de uma montagem.

 

Como seria, onde se passaria e com quem seria o espetáculo dos seus sonhos?

O espetáculo dos meus sonhos sempre é o atual. Mas confesso que ter participado da criação de um espetáculo como “Agreste” é a realização de um sonho. Um dia, no meio de uma apresentação, percebi que estava realizando exatamente aquilo que sonhava quando comecei a fazer teatro, mais de duas décadas atrás.

 

Cite um ator que surpreendeu suas expectativas.

São dois: Ferruccio Soleri em “Arlecchino Servitore de Due Patroni”, na montagem do Piccolo Teatro di Milano, e o Mario Biagini, em “Action”.

 

O que não é teatro?

Stand-up comedy. É show, não é teatro.

 

A ideia de que tudo é válido na arte cabe no teatro?

Os limites do que é arte e do que é válido são ditados pelo público e pelos artistas, e mudam de acordo com a época e as práticas teatrais. O que não é considerado válido hoje, pode ser amanhã.

 

Na era da tecnologia, qual é o futuro do teatro?

Continuar sendo teatro. O cinema e a televisão não acabaram com o teatro como se temia no passado porque são meios diferentes. Mesmo com as transformações que a tecnologia propicia, o teatro continua vivo e apaixonante.

 

Em sua biblioteca não podem faltar quais peças de teatro?

As que emprestei.

 

Cite um diretor (a), um autor (a) e um ator/atriz que você admira.

Marcio Aurelio

 

O teatro está vivo?

Muito.