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Papo de Teatro com Otávio Martins

Publicado em: 24/09/2012 |

Otávio Martins é ator

Como surgiu o seu amor pelo teatro?
Ainda na adolescência, quando fiz uma versão amadora para “O Muro”, de Jean-Paul Sartre.

Lembra da primeira peça a que assistiu? 
A primeira que vi foi “Fedra”, com a Fernanda Montenegro, mas a que me fez enlouquecer foi “Eletra Com Creta”, do Gerald Thomas. Eu não sabia que dava pra sair do mundo daquele jeito. Foi ali que eu fui picado.

Um espetáculo que mudou a sua vida foi…
“A Noite Antes da Floresta”, de Bernard-Marie Koltès.

Um espetáculo que mudou o seu modo de ver teatro foi…
“Trilogia Antiga”, do Andrei Serban.

Você teve algum padrinho no teatro? 
Não. Sempre tive de me virar. Em vez de padrinhos, a vida me deu parceiros.

Já saiu no meio de um espetáculo? 
Não, nunca. Por menos que eu goste, nunca depreciaria o trabalho de quem está em cena. Quem vive de teatro sabe o que isso significa.

Teatro ou cinema? 
Não dá para ter preferência. São dois veículos totalmente diferentes, seja na sua natureza, seja no tipo de trabalho que se desempenha. Mas é no palco que eu me sinto em casa.

Cite um espetáculo do qual você gostaria de ter participado. E por quê? 
Queria ter feito “Melodrama”, da Cia. Dos Atores, com direção do Enrique Diaz. Um elenco fabuloso e um dos melhores espetáculos que eu já vi.

Já assistiu mais de uma vez a um mesmo espetáculo? E por quê? 
Várias vezes. Acho que o que eu mais vi foi “Clitemnestra”, com direção do Antônio Araújo. Sete vezes.

Qual dramaturgo brasileiro você mais admira? E estrangeiro?
De coração? Eu não saberia escolher apenas um, seja entre os brasileiros, seja entre os estrangeiros. São muitos, e todos muito bons. Como preferir entre Ibsen e Bernard-Marie Koltès? Como preferir entre Nelson Rodrigues e Rafael Primot? São estilos diferentes, momentos diferentes. O autor que eu mais montei, por exemplo, foi Mário Viana, que é um grande comediógrafo, tem uma escrita única. Agora estou trabalhando com o Franz Keppler, que tem uma outra pegada. E ambos são sensacionais.

Qual companhia brasileira você mais admira?
Também seria injusto escolher só uma, pra quem tem tanta coisa boa: Latão, Galpão, Satyros, Club Noir, cada uma numa linguagem, numa vertente. Tudo é teatro.


Existe um artista ou grupo de teatro que você acompanhe todos os trabalhos?
Eu tento ver TUDO o que a Denise Weinberg faz. E é claro que às vezes não dá.

Qual gênero teatral você mais aprecia? 
Não tenho nenhuma predileção. Quando escolho um texto, tem a ver com o momento da vida. Já fiz comédia e drama. Gosto dos dois.


Em qual lugar da plateia você gosta de sentar? Qual o pior lugar em que você já se sentou em um teatro?
Do meio para trás, pra ter uma noção do todo e ao mesmo tempo estar próximo dos atores. O pior lugar é sempre o canto da primeira fileira.

Existe peça ruim ou o encenador é que se equivocou? 
Ser ruim ou não é uma questão de gosto e, muitas vezes, de julgamentos pré-estabelecidos.  Eu não acredito em um tipo de teatro como o certo – nem o meu! É uma questão de gostar de fazer o que se faz e ver até onde isso se comunica com o público. Quem tem de gostar de uma peça é o espectador. Eu me divirto tanto com uma peça que faça navegar pelo rio Tietê como com uma comédia de costumes francesa. A manifestação teatral existe independentemente de um estilo de fazer.

Como seria, onde se passaria e com quem seria o espetáculo dos seus sonhos?
Nesse momento, seria no CCBB, com texto do Franz Keppler e direção do Nelson Baskerville. E se chamaria “Cortex”.

Cite um cenário surpreendente.
J. C. Serroni, “Vereda da Salvação”, direção Antunes Filho.

Cite uma Iluminação surpreendente. 

Domingos Quintiliano, em “A Noite Antes da Floresta”.

Cite um ator que surpreendeu suas expectativas.
Alex Gruli.

O que não é teatro? 

O que não fala ao Homem.

A ideia de que tudo é válido na arte cabe no teatro? 
O teatro serve de espelho pro Homem. Tudo que é espelho é válido.


Na era da tecnologia, qual é o futuro do teatro? 
O teatro sobrevive até hoje porque é artesanal e coletivo, sempre. Não importa o quanto evolui a tecnologia, ainda se compra o vaso de argila feito à mão. Somos artesãos.

Em sua biblioteca, não podem faltar quais peças de teatro?
Eu não abro mão do Brecht.

Cite um diretor (a), um autor (a) e um ator/atriz que você admira.
Leo Moreira, Franz Keppler, Lee Thailor e Ester Laccava.

Qual o papel da sua vida?
O que eu estiver fazendo. Sempre.

Uma pergunta para William Shakespeare, Nelson Rodrigues, Bertold Brecht ou algum outro autor ou personalidade teatral que você admire.

Para Bertolt Brecht: “É verdade que você tinha pau grande?”.

O teatro está vivo?
Nunca esteve tão vivo. E nunca foi tão necessário.