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Papo de Teatro com Marta Góes

Publicado em: 04/06/2012 |







Marta Góes é jornalista e escritora
 


Como surgiu o seu amor pelo teatro?
Na infância aos 9 anos, assistindo a “O Cavalinho Azul” e a “Pluft, o Fantasminha”, no Teatro Tablado, de Maria Clara Machado. E também à montagem do musical “My Fair Lady”, com Paulo Autran e Bibi Ferreira, no Rio. Em todos, senti um deslumbramento gigantesco.


Lembra da primeira peça a que assistiu? Como foi?
“O Cavalinho Azul”, no Teatro Tablado. Eu tinha 9 anos e, como disse na pergunta anterior, senti um deslumbramento infinito.

Um espetáculo que mudou o seu modo de ver o teatro foi…
Os melhores espetáculos sempre nos fazem mudar um pouquinho, pelo menos, a maneira de ver o teatro. “Macunaíma”, do Antunes Filho; “A Mão na Luva”, do Oduvaldo Vianna Filho; “Apareceu a Margarida”, do Roberto Atayde; “Fim de Jogo”, de Samuel Beckett, montada para o Rubens Rusche; “A Última Gravação de Krappe”, de Beckett, por Bob Wilson; “Os Sete Afluentes do Rio Ota”, por Monique Gardenberg; “The Far Side of the Moon”, de Robert Lepage; as montagens de Henrique Dias com A Companhia dos Atores, os espetáculos de Aderbal Freire-Filho (“O Que Diz Molero” e “O Púcaro Búlgaro”, por exemplo). Eu poderia passar meses me lembrando de todas as montagens que mudaram meu modo de ver o teatro…

Um espetáculo que mudou a sua vida.
Alguns espetáculos mudaram minha vida. “Um Porto para Elizabeth Bishop”, lindamente dirigido José Possi Neto e interpretado por Regina Braga divulgou meu nome e me abriu portas preciosas. “Prepare seus Pés para o Verão”, produzido por Celso Curi no Espaço Off e dirigido por Gecla Sampaio, me lançou como autora; “Réveillon”, de Flávio Márcio, me fez frequentar diariamente os bastidores de uma peça de sucesso (pelo ponto de vista de namorada de um dos atores, o escritor Mário Prata, que fazia um pequeno papel na montagem).

Você teve algum padrinho no teatro?
Muitos… e bons. Celso Curi, Regina Braga, Fauzi Arap… Todos os artistas que se debruçam sobre o que um autor escreve tornam-se, de certa maneira, seus padrinhos no teatro. Assim, são também meus padrinhos José Possi Neto, Patrícia Gasppar, Fábio Namatame, Grace Giannoukas, Elias Andreato, Helô Cintra, João Paulo Lorenzón e tantos outros.

Já saiu no meio de um espetáculo?
Já tive vontade de sair em muitos, mas não me lembro de ter saído. Isso exige mais do que desagrado, exige o desejo de ofender.

Teatro ou cinema?
Teatro e cinema. São complementares, não são excludentes.

Qual dramaturgo brasileiro você mais admira? E estrangeiro?
Sou péssima de rankings, mas acho meio indiscutível que Nelson Rodrigues é o maior autor brasileiro e que Shakespeare é o maior autor ever. Um pela audácia da forma e pela argúcia do retrato do Brasil que sua obra exprime; Shakespeare, pela majestade da obra.


Qual companhia brasileira você mais admira?
Companhia é a mesma coisa que grupo, não? Não conheço mais todas as companhias. Mas me ocorrem a Companhia dos Atores, a Sutil Companhia de Teatro, a companhia do Marcio Aurelio, cujo nome não lembro (nota da redação: o nome do grupo é Companhia Razões Inversas), o Teatro Galpão, o Folias, Os Fofos Encenam…


Existe um artista ou grupo de teatro que você acompanhe todos os trabalhos?

Muitos. Não perco espetáculos com atores como Marco Nanini, Elias Andreato, Fernanda Montenegro, Andrea Beltrão, Irene Ravache, Regina Braga, Patrícia Gasppar e muitos outros; peças de diretores que citei nas perguntas anteriores; peças de autores como Fauzi Arap, Maria Adelaide Amaral, Naum Alves de Sousa, Mário Viana, Sérgio Roveri, Dib Carneiro Neto, Pedro Bríscio, Daniela Pereira de Carvalho…


Qual gênero teatral você mais aprecia?

Não escolho as peças por gênero, mas pelo alcance do voo ou pela precisão da mira que elas têm.


Em qual lugar da plateia você gosta de se sentar? Qual o pior lugar em que você já se sentou em um teatro?

Prefiro os lugares que todo mundo prefere: centrais e próximos do palco, mas não próximos demais. O pior lugar foi um onde eu não me sentei: dava direito apenas a assistir de pé. Foi uma peça do David Mammet, em Londres.


Existe peça ruim ou o encenador é que se equivocou?

Existe peça péssima e existe encenador equivocado. E só quem, às vezes, tem poder de reverter os danos que eles produzem é o bom ator. O bom ator compensa tudo.


Como seria, onde se passaria e com quem seria o espetáculo dos seus sonhos?

Se eu soubesse, escreveria imediatamente.


Cite um cenário surpreendente.

Os de Daniela Thomas sempre são.

Cite uma iluminação surpreendente.

A luz das montagens de Antunes Filho; do Felipe Hirsch…


Cite um ator que surpreendeu suas expectativas.
Todos os bons atores surpreendem nossas expectativas.

O que não é teatro?

O que não pode ser encenado.

A ideia de que tudo é válido na arte cabe no teatro?
Tudo o que funciona como espetáculo teatral é valido no teatro.

Na era da tecnologia, qual é o futuro do teatro?
Ficar cada vez mais precioso por não ser virtual, mas presencial; por ser único e irreproduzível.


Em sua biblioteca não podem faltar quais peças de teatro?

Em minha biblioteca faltam infinitas peças.


Cite um diretor (a), um autor (a) e um ator/atriz que você admira.

Como já respondi anteriormente, os atores Marco Nanini, Elias Andreato, Fernanda Montenegro, Andrea Beltrão, Irene Ravache, Regina Braga, Patrícia Gasppar e muitos outros…


O teatro está vivo?
Um teatro lotado é a melhor afirmação de vitalidade. E São Paulo está cheio de peças com plateias lotadas.