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Papo de Teatro com Lúcia Carvalho

Publicado em: 16/05/2011 |

Lúcia Carvalho é cronista e dramaturga

 

 

Como surgiu o seu amor pelo teatro?

O primeiro amor foi pela dramaturgia, pela ideia de escrever. O teatro era algo subentendido, eu queria criar tramas. Escrevi minha primeira peça quando tinha 11 anos. Era uma peça sobre um assassinato, uma coisa completamente sem pé nem cabeça, afinal eu era criança. Não sei por que escrevi sobre aquele tema, mas lembro que adorei o resultado. Achei mágica a ideia de criar outros mundos e inventar personagens, e escrevia espontaneamente, transformando em teatro todos os assuntos ao meu redor. Só muitos anos depois escrevi uma peça no formato certo, completa, que realmente podia ser encenada.

 

Lembra da primeira peça a que assistiu? 

Era do Nelson Rodrigues, “Bonitinha, Mas Ordinária”. Mas não lembro quem eram os atores ou quem dirigia.

 

 

 

Um espetáculo que mudou o seu modo de ver o teatro.

Foi o “Trate-me Leão”, com o grupo Asdrúbal Trouxe o Trombone. Sou da geração deles. Acho que assisti umas cinco vezes. Eu adoro comédias e achei o máximo morrer de rir no teatro.

 

Um espetáculo que mudou a sua vida.

A montagem de “Macunaíma” do Antunes Filho. Eu era adolescente, adorei.

 

Você teve algum padrinho no teatro? Se sim, quem? 

Sim. E acho que foi maior de todos, o Paulo Autran. Um dia mandei uma peça recém-escrita pelo correio para um monte de gente, atores, diretores, produtores, e uma dessas pessoas era o Paulo Autran. Uma semana depois recebo um telefonema. A voz parecia a do Paulo Autran e era ele mesmo. Falou que leu minha peça, que tinha adorado, mas que, se eu permitisse, ele gostaria de dar uma opinião sobre o final. A partir dai reescrevi essa peça diversas vezes, sempre enviando as versões pelo correio e aguardando seus simpáticos telefonemas. O Paulo foi para mim um grande professor de dramaturgia durante uns dois anos. Mandei muitos textos para ele, nos falamos muito, nos conhecemos ao vivo. Não que ele tenha me colocado dentro do teatro. Ele me ensinou a escrever através da ótica do ator, mostrou que teatro precisa de boas personagens, porque isso é tudo no teatro. É, acho que o Paulo foi um grande padrinho mesmo.

 

Já saiu no meio de um espetáculo? Por quê?

Já. Era um espetáculo muito ruim. Ninguém é obrigado a assistir coisas que não dizem nada. O engraçado era que o teatro tinha aquelas fileiras compridas, impossíveis de sair, vi que não havia ninguém sentado atrás de mim, fui pulando as poltronas até o fundo do teatro. E fugi. 

 

Teatro ou cinema? Por quê?

Os dois são legais, mas gosto mais de teatro. 

 

Cite um espetáculo do qual você gostaria de ter participado. E por quê? 

Adoraria ter feito um trabalho com o querido Alberto Guzik. 

 

Já assistiu mais de uma vez a um mesmo espetáculo? E por quê? 

Algumas comédias inteligentes e bem-humoradas. Me acho meio maluca fazendo isso, mas já aconteceu.

 

Qual dramaturgo brasileiro você mais admira? E estrangeiro? Explique. 

O Nelson Rodrigues, claro. Mas tem muita gente que gosto, como a Leilah Assumpção, a Marta Góes, a Consuelo de Castro. Quanto aos estrangeiros, gosto do Federico Garcia Lorca. Acho os textos dele fortíssimos, me comovem.

 

Qual companhia brasileira você mais admira?

Não sei responder. Gosto dos resultados, não desse ou aquele grupo. 

 

Existe um artista ou grupo de teatro do qual você acompanhe todos os trabalhos? 

Acho que acompanho o Ivam Cabral. Sou seguidora dele há anos. Além de grande ator, é uma pessoa generosíssima. Não é só comigo, é com todo mundo, e gente assim como ele a gente cuida muito cuidado pra não quebrar.

 

Qual gênero teatral você mais aprecia?

Comédia. Apesar de ser um gênero difícil.

 

Em qual lugar da plateia você gosta de sentar? Por quê? Qual o pior lugar em que você já se sentou em um teatro? 

Sempre no meio. O pior lugar é atrás de gente muito alta e que não colabora, se abaixando. Já escrevi até uma crônica no meu blog sobre isso, pois fui assistir a uma peça e não consegui sequer entender a história por causa de um homem cabeçudo que se sentou na minha frente. A crônica está aqui: http://frankamente.blogspot.com/2005/06/o-cabea-de-jarra.html

 

Fale sobre o melhor e o pior espaço teatral que você já foi ou já trabalhou?

Não existe isso. Quem quer fazer teatro faz teatro em qualquer lugar. O que falta é boa vontade. Espetáculos se adaptam. É preciso boa vontade diante do que você tem. 

 

Existe peça ruim ou o encenador é que se equivocou? 

Existem peças ruins e encenadores ruins. Existem também atores ruins, dramaturgos ruins, diretores ruins, produtores ruins, bilheteiros ruins, iluminadores ruins e até vendedores de balas ruins. Ou não?

 

Como seria, onde se passaria e com quem seria o espetáculo dos seus sonhos?

Eu gosto de escrever, tenho prazer nesse processo interno. Meu sonho é nunca parar de sentir o prazer que tenho em escrever. Em vez de pensar nesse espetáculo, prefiro deixar a vida trazê-lo.

 

Cite um cenário surpreendente. 

Gostei muito do cenário de uma peça do Felipe Hirsch, “Avenida Dropsie”, sobre a obra de Will Eisner. 

 

Cite uma iluminação surpreendente. 

Não sei responder. Vejo sempre todo conjunto, e me atenho muito ao texto.

 

Cite um ator que surpreendeu suas expectativas.

O Luis Melo, no espetáculo “Cão Coisa e Coisa Homem”. Fiquei completamente fascinada pelo ator/personagem. Fiquei tão impressionada que esperei ele sair do teatro para cumprimentá-lo.

 

O que não é teatro?

Acho que depende de cada um. Para mim, é quando eu não fico totalmente envolvida com o que acontece no palco.

 

A ideia de que tudo é válido na arte cabe no teatro?

Claro que sim. O teatro é apenas uma forma de expressão do artista. O que importa é o que você tem a dizer.

 

Na era da tecnologia, qual é o futuro do teatro?

Teatro sempre vai ser teatro. A tecnologia ajuda, facilita, melhora, mas nada supera a mágica que envolve assistir um ator representando num palco.

 

Em sua biblioteca não podem faltar quais peças de teatro? 

Gosto de ler boas histórias, não importa o formato, se é teatro ou literatura. 

 

Cite um diretor (a), um autor (a) e um ator/atriz que você admira. 

Elias Andreato, Plínio Marcos, Irene Ravache.

 

Qual o papel da sua vida?

Apenas contar histórias.

 

Uma pergunta para William Shakespeare, Nelson Rodrigues, Bertold Brecht ou algum outro autor ou personalidade teatral que você admire.

Nelson, qual a história que você não escreveu?

 

O teatro está vivo?

Ah. O teatro sempre renasce na hora que alguém escreve.