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Papo de Teatro com Gilberto Gawronski

Publicado em: 06/08/2012 |

Gilberto Gawronski é ator e diretor

Como surgiu o seu amor pelo teatro?
Sempre gostei muito do fazer teatral. Desde criança. Eu me lembro de fazer parte de uma montagem de “A Bela Adormecida”, na qual fazia o príncipe, aos 5 anos. O teatro estudantil, quando levava as montagens em que fazíamos para orfanatos e asilos, me dimensionou o poder que a palavra encenada pode ter.

Houve algum espetáculo que mudou a sua vida?
Eu me lembro da sensação que tive ao assistir “Escuta, Zé”, um espetáculo com a Marilena Ansaldi. Tive uma compreensão de mim mesmo na minha adolescência. Foi incrível. Saí outro do teatro.

Você teve algum padrinho no teatro?
Minha galharufa foi dada pela Dercy Gonçalves. As portas do teatro profissional me foram abertas pelo Naum Alves de Souza. A direção teatral, com enfoque no cuidado como o ator, me foi muito estimulada pela Marieta Severo, quando fazia assistência de direção na peça “Sonata de Outono”, de Yukio Mishima. O processo colaborativo de pesquisa foi algo muito marcante, gerado pela parceria com Luiz Antonio Martinez Corrêa no espetáculo Theatro Muzical Brasileiro.

Já saiu no meio de um espetáculo?
Nunca.

Teatro ou cinema?
Os dois. Não são opostos, se complementam.

Cite um espetáculo do qual você gostaria de ter participado. E por quê?
São tantos. Sempre que vejo uma trupe em perfeita sintonia, fico louco para fazer parte dela. Quando vi pela primeira vez a montagem “A Aurora da Minha Vida”, fiquei louco pra fazer parte daquela turma. Pouco tempo depois, fiz um teste para fazer parte do elenco e acabei conseguindo.

Já assistiu mais de uma vez a um mesmo espetáculo? E por quê?
Tem vezes que assistimos a uma peça e pensamos em alguém, que depois levamos parao teatro. Mas não costumo muito assistir mais de uma vez a uma peça. A própria memória me faz revisitar o espetáculo.

Qual dramaturgo brasileiro você mais admira? E estrangeiro?
Trabalhei muitos anos a escrita do Caio Fernando Abreu e nunca tive a sensação que o material estivesse esgotado. Foram 15 anos fazendo “A Dama da Noite”, e sempre tinha algo novo para descobrir nas suas palavras, na carpintaria do seu escrever. Bernard Marie Koltês, de quem encenei “Na Solidão dos Campos de Algodão”, também me fascina pela mesma potencialidade. É inesgotável o mergulho que a situação e o linguajar que ele propõe oferecem ao ator.

Qual companhia brasileira você mais admira?
Todas. Manter-se em companhia, num mundo ideologicamente tão individualista, em si, já é admirável.

Existe um artista ou grupo de teatro que você acompanhe todos os trabalhos?
Gosto de ver os trabalhos da Renata Sorrah. Descobri vários autores que me interessaram muito acompanhando a sua carreira. Não consigo ver tudo o que ela faz, mas sempre fico curioso, pensando o que a Renata vai aprontar agora… Dina Sfat também me despertava essa curiosidade.

Qual gênero teatral você mais aprecia?
Drama.

Em qual lugar da plateia você gosta de sentar? Qual o pior lugar em que você já se sentou em um teatro?
Gosto de sentar na frente, perto dos atores. Em dança, mais no meio, se possível no balcão, para ver melhor o conjunto do movimento. Alguns teatros oferecem obstáculos arquitetônicos para o espectador, o que é revoltante.

Existe peça ruim ou o encenador é que se equivocou?
Não vou ao teatro para julgar um trabalho. Posso ser eu, como espectador, que estava vendo a peça errada naquele dia.

Como seria, onde se passaria e com quem seria o espetáculo dos seus sonhos?

Um espetáculo com tamanha força social e política, que fizesse as pessoas repensarem a sua conduta. Não necessariamente mudar, mas se questionar.

Cite uma Iluminação surpreendente.
A que Paulo César Medeiros criou para “Na Solidão dos Campos de Algodão”. Uma única lâmpada iluminava a cena. Simplicidade e requinte na potência máxima.

Cite um cenário surpreendente.
O que criei para “Por Uma Vida um Pouco Menos Ordinária”. Meu próprio trabalho me surpreendeu. Criou um jogo cênico muito bom de ver.

Cite um ator que surpreendeu as suas expectativas
Adoro ver o Ricardo Blat em cena. Seus mergulhos são surpreendentes.

O que não é teatro?
O que não é feito com a voz da paixão.

A ideia de que tudo é válido na arte cabe no teatro?
Não é válido em lugar nenhum. Arte é um lugar de muita responsabilidade.

Na era da tecnologia, qual é o futuro do teatro?
O futuro dirá, mas acho que ele sempre estará por aí, com seus recursos simples, mas com uma sofisticação que nenhuma tecnologia conseguiu alcançar.

Em sua biblioteca não podem faltar quais peças de teatro?
Shakespeare, que tem sempre uma peça com uma situação dramática que me propicia uma reflexão sobre o momento que estou vivendo.

Qual o papel da sua vida?
Ser eu mesmo, o que é papel bem complicado (risos).

O teatro está vivo?
Sim. E tomara que em você que me lê.