EN | ES

Papo de Teatro com Flavio Graff

Publicado em: 23/04/2012 |

Flavio Graff é diretor, dramaturgo, ator, músico, cenógrafo, figurinista e produtor

 

 

Como surgiu o seu amor pelo teatro?

No fazer, no pensar e repensar o teatro. Em compartilhar criações com artistas geniais, como os parceiros históricos Jefferson Miranda e Ronald Teixeira. 

 

Lembra da primeira peça a que assistiu?

Não. 

 

Um espetáculo que mudou o seu modo de ver o teatro.

“The Flash and the Crash Days”, de Gerald Thomas, com Fernanda Montenegro e Fernanda Torres.

 

Um espetáculo que mudou a sua vida.

“Deve Haver Algum Sentido em Mim que Basta”, da Cia. Teatro Autônomo

 

Você teve algum padrinho no teatro?

Não.

 

Já saiu no meio de um espetáculo?

Sim, por tédio. Teatro nas suas convenções, em geral, é muito chato.

 

Teatro ou cinema? 

No que há entre o cinema e o teatro. Na relação do entre há a possibilidade do inusitado, do infundado abrindo campo para outras perspectivas, reflexões, olhares, percepções. Estar entre, estar na fronteira, no desconhecido, no risco, diante do abismo, isto me interessa.

 

Cite um espetáculo do qual você gostaria de ter participado.

“Time Rocker”, do Bob Wilson e Lou Reed. Fantástico! As músicas e as imagens são o trabalho de dois poetas! 

 

Já assistiu mais de uma vez a um mesmo espetáculo?

Sim, quando os faço ou quando são arrebatadores, quando oferecem oportunidade de aprofundamento no que se frui.

 

Qual dramaturgo brasileiro você mais admira? E estrangeiro? 

Sem preferências. Acho que o modelo dramatúrgico tem uma mesmice enfadonha, até mesmo no que se pretende contemporâneo. Há um aprisionamento ao modelo.

 

Qual companhia brasileira você mais admira?

Cia. Teatro Autônomo.

 

Existe um artista ou grupo de teatro do qual você acompanhe todos os trabalhos?

Não. Meus ídolos provocativos e inspiradores são de outras áreas.

 

Qual gênero teatral você mais aprecia?

Electropoprockoperamusical.

 

Em qual lugar da plateia você gosta de sentar? Qual o pior lugar em que você já se sentou em um teatro?

É sempre bom poder estar no lugar da experiência, onde é possível estar desperto, se descobrindo. O lugar apartado e distanciado instaurado pelo teatro à italiana é tedioso demais, burguês demais, me dá sono. As possibilidades de integração entre espaço e corpo espectatorial inaugurado pelas artes plásticas foram fundamentais para criar uma nova categoria de espectadores, o criador.

 

Fale sobre o melhor e o pior espaço teatral que você já foi ou já trabalhou?

O melhor espaço é aquele que você consegue tirar o melhor proveito, e o pior é aquele em que você não consegue dialogar com ele. As dificuldades não são obstáculos, são estímulos. Há de se tirar grandes partidos delas e estabelecer as relações para onde se está, para onde se quer ir. 

 

Existe peça ruim ou o encenador é que se equivocou? 

Existe tudo, peça ruim, texto ruim, encenador ruim. Existe espaço pra tudo, mas é tentando ser que se consegue ser alguma coisa. Essa ideia de julgamento, bom ou ruim, faz parte de um olhar da crítica burguesa. Tudo é uma experiência. Errando se aprende a acertar.

 

Como seria, onde se passaria e com quem seria o espetáculo dos seus sonhos?

Os sonhos são para ser realizados, portanto realizo-os. Hoje tenho o privilégio de apresentar o “Cartas de Amor – Electropoprockoperamusical”, um sonho batalhado por sete anos. 

Ainda nesse ano de 2012, já estreio novo projeto, que é a sua continuidade.

 

Cite um cenário surpreendente.

Fernando Mello da Costa para “Minh’Alma é Imortal”, de 1996. Uma parede dividindo em dois o espaço teatral. Duas cenas, dois públicos simultâneos.

 

Cite uma iluminação surpreendente.

Renato Machado, “Deve Haver Algum Sentido em Mim que Basta”, de 2004. Uma caixa de luz envolvendo toda a audiência.

 

Cite um ator que surpreendeu suas expectativas.

Antonio Banderas, em “A Pele que Habito”.

 

O que não é teatro?

O teatro ou a ideia que se tem do teatro.

 

A ideia de que tudo é válido na arte cabe no teatro?

Não acho que tudo seja válido na arte.

 

Na era da tecnologia, qual é o futuro do teatro?

A tecnologia.

 

Em sua biblioteca não podem faltar quais peças de teatro?

Na minha biblioteca tem muitos livros de artes plásticas, arquitetura e moda. 

 

Cite um diretor (a), um autor (a) e um ator/atriz que você admira.

No teatro, Jefferson Miranda, o diretor mais genial com quem já trabalhei. No cinema, Federico Fellini, com quem adoraria ter trabalhado. Marcello Mastroianni. Gisele Fróes, uma presença arrebatadora.

 

Qual o papel da sua vida?

O de artista.

 

Uma pergunta para William Shakespeare, Nelson Rodrigues, Bertold Brecht ou algum outro autor ou personalidade teatral que você admire. 

Para Shakespeare, se ele descobriu o que há mais entre o céu e a Terra.

 

O teatro está vivo?

Nós estamos provisoriamente vivos.