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Papo de Teatro com Eloisa Helena

Publicado em: 07/02/2011 |

Eloisa Elena é atriz

 

Como surgiu o seu amor pelo teatro?
Na escola, na 7ª série, quando entrei em um curso livre de teatro amador. Depois do primeiro ensaio fiquei apaixonada.
 

Lembra da primeira peça a que assistiu? Como foi?
Assisti a algumas na infância, muito poucas, não me lembro. O primeiro espetáculo que me marcou foi uma montagem de “Fim de Jogo”, dirigida pelo Eid Ribeiro, em Belo Horizonte.
 

Qual foi a última montagem que você viu?
“Donka”, do grupo suíço Teatro Sunil.
 

Um espetáculo que mudou o seu modo de ver o teatro.
Não diria apenas um. A cada momento sou muito tocada por algum espetáculo, de formas e por razões distintas. “Meu Tio, o Iauaretê”, com o Cacá Carvalho; uma trilogia grega, que assisti há uns 20 anos em um Festival de Teatro em São Paulo; “Romeu e Julieta”, do Grupo Galpão;        “Les Éphémères”, do Théâtre du Soleil e mais recentemente o “Donka”, do Teatro Sunil.
 

Um espetáculo que mudou a sua vida.    
Meus olhos, cabeça e coração vão sendo mudados por vários espetáculos, a cada dia.
 

Você teve algum padrinho no teatro? Se sim, quem?
Não tive.
 

Já saiu no meio de um espetáculo? Por quê?
Sim. Porque era muito ruim…
 

Teatro ou cinema? Por quê?
O teatro é a minha casa, o cinema e a música me inspiram.
 

Cite um espetáculo do qual você gostaria de ter participado. E por quê?
“Les Éphémères”, do Théâtre du Soleil. É o encontro de excelentes artistas. Direção, texto e encenação primorosos e uma experiência do exercício teatral completo. Teatro para mim está além da cena ou da função artística. É um exercício de vida, que inclui tudo, varrer o palco, carregar o cenário, servir biscoitos ao público… Ali existia uma entrega e uma generosidade que gostaria de experimentar. Também gosto de espetáculos em que vejo uma equipe inteira e apropriada do todo, criando, se divertindo, com qualidade e se sentindo “dona” do espetáculo. Senti isto em “Ensaio.Hamlet”, dirigido pelo Enrique Diaz, por exemplo, e ai dá vontade de estar lá, jogando com eles.
 

Já assistiu mais de uma vez a um mesmo espetáculo? E por quê?
Vários. Espetáculos de amigos ou que eu tenha algum envolvimento pessoal. Mas o que mais assisti foi o “Caixa Mágica”. Estive lá em quase todas as apresentações.
 

Qual dramaturgo brasileiro você mais admira? E estrangeiro? Explique.
Não tenho um dramaturgo predileto. Os textos me pegam em diferentes momentos da minha vida.
 

Qual companhia brasileira você mais admira?
Cia. dos Atores.
 

Existe um grupo ou companhia de teatro que você acompanhe todos os trabalhos?
Vários. Gosto de acompanhar o trabalho dos amigos e de alguns grupos que admiro, como Os Fofos Encenam, Companhia do Feijão, Galpão, Cia. dos Atores, Grupo 3, Grupo Corpo, Cia. Teatro Balagan…
 

Qual gênero teatral você mais aprecia?
O bem realizado, que arrisca, que não faz piada fácil para agradar à platéia.
 

Qual lugar da plateia você costuma sentar?
Onde dá. E de preferência com boa visibilidade.
 

Qual o pior lugar em que você já se sentou em um teatro?
Na lateral do Sesc Anchieta, em uma peça que o cenário limitava a visão lateral.
 

Fale sobre o melhor e o pior espaço teatral que você já foi ou já trabalhou?
O melhor é aquele onde as pessoas que estão lá, técnicos, donos ou administradores, conhecem as especificidades do teatro e colocam isto em primeiro plano. Onde você encontra parceria, preocupação com qualidade. O pior é aquele onde você precisa pedir licença pra fazer teatro, aquele espaço cujo foco principal é a locação ou preencher a pauta com programação, então o que menos importa é a qualidade. Você encontra pessoas despreparadas, burocracia e má vontade… Enfim, um espaço de teatro que não sabe o que é teatro.
 

Já assistiu a alguma peça documentada em vídeo? O que acha do formato?
Sim. Mas teatro não foi feito para vídeo. Não em uma gravação chapada, com a câmera parada, como normalmente se faz. Quando vejo em vídeo fico pensando o quão legal aquilo deveria ser ao vivo.
 

Existe peça ruim ou o encenador é que se equivocou?
Uma encenação pode salvar um texto fraco, ou acabar com um texto bom, mas o diretor é um elemento importante, não o único. Não acho que o encenador seja o único responsável pelo resultado de um trabalho.
 

Como seria, onde se passaria e com quem seria o espetáculo dos seus sonhos?
Com o tempo necessário para a criação, sem problemas de produção, viajando por várias cidades do Brasil e do mundo e com uma equipe de pessoas competentes, criativas e muito queridas. Gosto de fazer teatro com bons profissionais, mas principalmente com boas pessoas.
 

Cite um cenário surpreendente.
“Sacromaquia”, do Márcio Medina.
 

Cite uma iluminação surpreendente.
A mistura da luz, que era linda, com o uso de vídeo em “Sombrero”, do Phillipe Decouflé.
 

Cite um ator que surpreendeu suas expectativas.
Não me lembro.
 

O que não é teatro?
Aquilo que ignora o que para mim é a essência do teatro: uma pessoa contando uma história para outra. Dentro deste princípio básico, valem muitas outras coisas.
 

Que texto você foi ler depois de ter assistido a sua encenação?
“Antígona”, logo que comecei a fazer teatro.
 

A ideia de que tudo é válido na arte cabe no teatro?
Não. Aliás, acho que não cabe em nenhuma arte.
 

Na era da tecnologia, qual é o futuro do teatro?
Existir no futuro. O teatro já passou por tantas transformações ao longo da história e vai se encontrando junto com o todo. Com certeza a tecnologia passará a criar possibilidades e recursos  muito amplos e até impensáveis neste momento, assim como deve ter sido quando se inventou a lâmpada,  ou com o surgimento do cinema, da televisão. O teatro vai se recriando, como o homem.
 

O teatro é uma ação política? Por quê?
Toda ação é política. A arte é política porque é sempre a defesa de uma ideia, de uma estética, de um olhar sobre algo, e isto é político.
 

Quando a estética se destaca mais do que o texto e os atores?
Quando o encenador acha que está fazendo artes plásticas, não teatro.
 

Qual encenação lhe vem à memória agora? Alguma cena específica?
A Fernandona (Fernanda Montenegro), sentada em uma cadeira, me fazendo rir e chorar como Simone de Beauvoir. O máximo extraído do mínimo.
 

Em sua biblioteca não podem faltar quais peças de teatro?
Não retenho muitos livros. Muitas coisas que li foram emprestadas e também já doei ou emprestei várias que eu tinha.
 

Cite um diretor (a), um autor (a) e um ator/atriz que você admira.
Um diretor com quem eu gostaria de trabalhar: Enrique Diaz.  E, por mais óbvio que seja, ainda quero montar uma tragédia carioca do Nelson Rodrigues.
 

Qual o papel da sua vida?
Gostaria que não fosse assim, mas sempre encaro uma personagem nova com muito medo, admiração, curiosidade, insegurança. Então a da vida é a da vez.
 

Uma pergunta para William Shakespeare, Nelson Rodrigues, Bertold Brecht ou algum outro autor ou personalidade teatral que você admire.
Para Shakespeare: Como era manter um grupo teatral, sobreviver de teatro, precisar agradar à Rainha? Quais eram suas inseguranças e prioridades? Você tinha ideia de que o que produzia era algo que ultrapassaria os séculos?
 

O teatro está vivo?
Claro, eu vivo dele.
 

Foto: Bob Sousa