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Papo de Teatro com Eliana Fonseca

Publicado em: 24/10/2011 |

Eliana Fonseca é atriz e cineasta
 

Como surgiu o seu amor pelo teatro?
Meu pai era de circo teatro. Aos 8 anos, comecei a fazer espetáculos de caridade, alguns números de palhaço com ele e apresentações na escola e igreja do bairro.

 

Lembra da primeira peça a que assistiu? Como foi?
 Foi “Missa Leiga”. Lembro que em determinado momento, quando perguntaram à plateia se deviam ou não crucificar Cristo, meu pai se levantou e fez uma bela defesa. Foi uma lição de teatro e ética.

 

Um espetáculo que mudou o seu modo de ver o teatro.
 Muitos, mas posso citar: “Macunaíma”, do Antunes Filho, e “Artaud”, com Rubens Correia

 

Um espetáculo que mudou a sua vida.
Todo bom espetáculo muda um pouco a nossa vida, a nossa apreensão das coisas, seja como plateia, diretor ou atriz. Mas acho que o “O Gosto da Própria Carne” se destaca dos demais. Aprendi coisas como atriz e vivenciei coisas como ser humano que carrego até hoje.

 

Você teve algum padrinho no teatro? Se sim, quem?
 Tenho pessoas com as quais aprendi muito. Meu pai, Lage, Elias Andreatto, Marcio Aurélio, Maria Alice Vergueiro, Pascoal da Conceição, entre muitos outros.

 

Já saiu no meio de um espetáculo? Por quê?
 Não. Sou contra sair do teatro. Quando você entra faz um pacto com o artista de que vai até o fim, aconteça o que acontecer. Mas uma vez tive uma crise de riso por causa da Patricia Gaspar e tivemos que nos separar na plateia.

Teatro ou cinema? Por quê?
 Os dois. Para mim é igual perguntar de quem eu gosto mais do meu pai ou da minha mãe.

 

Cite um espetáculo do qual você gostaria de ter participado. E por quê?
“A Gaivota”, da Cia. dos Atores, direção de Enrique Diaz.  Me deu muito tesão. Quase pulei em cena. A forma, as palavras ditas, a energia dos atores… Adoro o Enrique Diaz. Adoraria poder trabalhar com ele um dia.

 

Já assistiu mais de uma vez a um mesmo espetáculo? E por quê?

Várias vezes. Por puro deleite, pra entender algo que não entendi, pra observar o trabalho de algum amigo, pra apreciar o trabalho de algum ator ou diretor.

 

Qual dramaturgo brasileiro você mais admira? E estrangeiro? Explique.
Amo Nelson Rodrigues. Gosto das palavras como são ditas. Não conheço a obra de ninguém tão a fundo, mas estudei e aprecio Tchecov.

 

Qual companhia brasileira você mais admira?
Muitas. Parlapatões, Cia. dos Atores, Grupo Tapa, esse grupo que trabalha com o Jô Bilac, a turma do Felipe Hirsch… Aff… tantos e por motivos tão diferentes, mas todos pelo amor evidente ao teatro.

 

Existe um artista ou grupo de teatro do qual você acompanhe todos os trabalhos?
Faço questão de não perder nada de meus amigos: Clara Carvalho, Elias Andreatto, Patricia Gaspar, Raul Barretto e vejo tudo do Antunes Filho.

 

Qual gênero teatral você mais aprecia?
Gosto de bom teatro. Seja pra se descabelar, rir, chorar…  aquele que me faz sentir viva.

 

Em qual lugar da plateia você gosta de sentar? Por quê? Qual o pior lugar em que você já se sentou em um teatro?
Gosto da terceira fileira bem no meio. Sou míope e muito atrás não enxergo bem; mais na frente não consigo apreciar o desenho cênico.

 

Fale sobre o melhor e o pior espaço teatral que você já foi ou já trabalhou?
Isso é muito relativo. Já vi espetáculos maravilhosos em bibocas e vice- versa.

 

Existe peça ruim ou o encenador é que se equivocou?
Claro que existe peça ruim, equívocos do encenador, do ator, dos técnicos… Somos humanos!

 

Como seria, onde se passaria e com quem seria o espetáculo dos seus sonhos?
Dependeria muito da verba, de onde eu vivo, por quem estou apaixonada, se estaria viva ou morta, tantas coisas…

 

Cite um cenário surpreendente.
O cenário de Daniela Thomas para “Pterodáctilos”.

 

Cite uma iluminação surpreendente.
Muitas do Beto Bruel e me lembro também da luz daquele espetáculo “Descoberta das Américas”, como bem especial.

 

Cite um ator que surpreendeu suas expectativas.
Elias Andreatto sempre me surpreende, por mais que eu o conheça.

 

O que não é teatro?
Cinema e TV.

 

A ideia de que tudo é válido na arte cabe no teatro?
A ideia de que tudo é valido cabe na vida, desde que se tenha bastante certeza do que vamos experimentar e se queremos correr riscos.
 

Na era da tecnologia, qual é o futuro do teatro?
Se transformar em pequenos guetos, onde espetáculos requintados serão exibidos a espectadores refinados.

 

Em sua biblioteca não podem faltar quais peças de teatro?
Nelson Rodrigues e Beckett.

 

Cite um diretor (a), um autor (a) e um ator/atriz que você admira.

Felipe Hirsch, Jô Bilac e Clara Carvalho.

 

Qual o papel da sua vida?
Acreditar e ter fé nos homens.

 

Uma pergunta para William Shakespeare, Nelson Rodrigues, Bertold Brecht ou algum outro autor ou personalidade teatral que você admire.
Pode ser pra qualquer autor: “Faz um papel pra mim?”

 

O teatro está vivo?
Acho que sim, pelo menos não me lembro de ter lido nada contrário nos obituários.