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Papo de Teatro com Bete Coelho

Publicado em: 29/11/2010 |

Bete Coelho é diretora de teatro e atriz.

Como surgiu o seu amor pelo teatro? 

 

Tenho a impressão de que o amor em si nunca foi revelado ou descoberto numa circunstância ou data específica. Ele sempre se manifesta, misteriosamente, quando menos se espera, no constante aprimoramento do exercício teatral.

  

Lembra da primeira peça a que assistiu? Como foi? 

Jamais esqueceria. Foi uma experiência traumática. Aos cinco anos de idade, me levaram para ver “Liderato, o Rato que Era Líder”. Eu chorava e berrava querendo fugir daquele lugar escuro e povoado por monstros – aqueles ratões transfigurados.

  

Qual foi a última montagem que você viu? 

“O Inverno da Luz Vermelha”, direção Monique Gardenberg e Michele Matalon.

  

Um espetáculo que mudou o seu modo de ver o teatro. 

“Macunaíma”, com direção de Antunes Filho. Vi em Belo Horizonte quando eu era adolescente, sem saber que alguns anos depois, faria parte do elenco.

  

Um espetáculo que mudou a sua vida. 

“Um Processo”, dirigido por Gerald Thomas e, mais recentemente, “Cacilda!”, dirigido por Zé Celso Martinez Corrêa.

  

Você teve algum padrinho no teatro? Se sim, quem? 

Muito dos diretores e parceiros teatrais com quem trabalhei, de alguma maneira me apadrinharam, no sentido de alterar, inquietar, acrescentar e enriquecer, não só o meu repertório, como a vida.

 

Já saiu no meio de um espetáculo? Por quê? 

Sim. Uma estória vergonhosa. Há muito tempo atrás, no Rio de Janeiro, Gerald Thomas, eu e o elenco da peça que ensaiávamos, que incluía Maria Alice Vergueiro, Vera Holtz e Luís Damasceno, fomos assistir a uma peça muito bem indicada por um crítico carioca. A peça era encenada numa pequena sala com apenas uma fileira de cadeiras dispostas nas paredes. Resumindo, tivemos uma ridícula crise de riso no meio da apresentação. Obviamente, nossa reação não estava relacionada à peça, mas a situação com a qual nos deflagramos. A mínima troca de olhares foi o suficiente para que nós caíssemos numa desesperada risada. Ao ver Maria Alice abrir a bolsa e se enfiar dentro dela para tentar disfarçar, eu peguei a minha própria, atravessei a sala no meio dos atores e me retirei. Dias depois, saiu uma nota no jornal, muito justa, esculhambando com todos nós.

  

Teatro ou cinema? Por quê? 

Teatro. Por razões óbvias.

 

 Cite um espetáculo do qual você gostaria de ter participado. E por quê? 

“Dogville”, de Lars Von Trier. É uma encenação matemática, brilhante e com ótimos atores.

  

Já assistiu mais de uma vez a um mesmo espetáculo? E por quê? 

Sim. Por motivos diversos. 

 

Qual dramaturgo brasileiro você mais admira? E estrangeiro? Explique. 

São vários. Mas os eternos e “unânimes” são Nelson Rodrigues e Shakespeare.

 

 Qual companhia brasileira você mais admira? 

O Teatro Brasileiro de Comédia (TBC). 

 

Existe um grupo ou companhia de teatro que  você acompanhe todos os trabalhos? 

Sempre vejo as montagens do Oficina e do Antunes Filho.

  

Qual gênero teatral você mais aprecia? 

Não tenho predileções por gênero, apesar de ter uma quedinha por tragédias. 

 

Qual lugar da plateia você costuma sentar? Por quê? Qual o pior lugar em que você já se sentou em um teatro?

No meio da plateia. Quinta ou sexta fileira, de onde se pode abarcar toda a montagem sem perder as nuances de interpretação dos atores.

Os piores lugares são nas extremas laterais, pois em alguns teatros se perde parcialmente a visibilidade.

  

Fale sobre o melhor e o pior espaço teatral que você já foi ou já trabalhou? 

Várias salas em Nova York são muito desconfortáveis por causa da economia do espaço dos assentos.

 

Tenho uma predileção afetiva por alguns espaços, tais como:

Sesc Anchieta, Teatro Municipal de São Paulo, Teatro Oficina, Palácio das Artes, em Belo Horizonte, La Mama, em Nova York, Teatro São Pedro, em Porto Alegre, Teatro Eva Herz e Teatro São Pedro, em São Paulo. 

 

Já assistiu a alguma peça documentada em vídeo? O que acha do formato? 

Assisti, faz pouco tempo, no cinema, à exibição de “Os Sertões – O Homem 2”, feito em vídeo HD. Como não tinha visto no teatro, me surpreendeu que a linguagem teatral estivesse garantida na sensibilidade dos cortes e da direção, que estavam em consonância com o tempo e a respiração da encenação e dos atores. No caso, Gabriel Fernandes, responsável também pela edição, é um cineasta apaixonado por teatro e com vasta experiência no diálogo cinema-teatro.

 

Existe peça ruim ou o encenador é que se equivocou?  

Existem ambos.

  

Como seria, onde se passaria e com quem seria o espetáculo dos seus sonhos? 

Está sendo. “O Terceiro Sinal”, de Otávio Frias Filho, no Sesc Ipiranga. Exatamente o que eu queria, como eu sonhava e com quem queria.

  

Cite um cenário  surpreendente. 

Quase todos da Daniela Thomas.

  

Cite uma iluminação  surpreendente. 

Quase todas do Gerald Thomas.

  

Cite um ator que surpreendeu suas expectativas. 

Sem dúvida alguma, Ricardo Bittencourt.

  

O que não é teatro? 

A imitação da vida. 

 

A ideia de que tudo é válido na arte cabe no teatro? 

A ideia de que tudo é válido, não cabe na arte, no teatro, nem na vida. “Tudo vale a pena, quando a alma não é pequena.”

  

Na era da tecnologia, qual é o futuro do teatro? 

Retornar cada vez mais às suas origens.

  

O teatro é uma ação política? Por quê? 

“Existir” é uma ação política.

  

Quando a estética se destaca mais do que o texto e os atores? 

Seria melhor um equilíbrio. Provavelmente alguma coisa está errada. Ou o texto ou a direção dos atores ou os dois ou a estética; ou os três.

  

Em sua biblioteca não podem faltar quais peças de teatro? 

Aquela coleçãozinha vermelha: “Teatro Vivo”, da Abril. Mas tá na hora de uma nova coleção, né?! Tão boa quanto essa.

 

  

Cite um diretor (a), um autor (a) e um ator/atriz que você admira. 

Impossível apenas um; impossível citar muitos, correndo o risco de esquecer algum.

  

Qual o papel da sua vida? 

Todos que me propus a fazer e espero que os muitos outros que farei.

  

O teatro está vivo? 

O teatro está vivo enquanto o “homem” estiver.