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Papo de Teatro com Aglaia Pusch

Publicado em: 26/03/2012 |

Aglaia Pusch é atriz, educadora e dramaterapeuta

 

 

Como surgiu o seu amor pelo teatro? 

Quando criança, meus pais me levavam muito ao teatro, concertos e óperas. Aos 9 anos, assisti à ópera “Flauta Mágica”, de Mozart, aí fiquei totalmente apaixonada pela história, pela música, pelo cenário e figurino. Desde então, tive vontade de fazer parte do que eu assistia. Então, comecei a participar do teatro na escola.


Um espetáculo que mudou sua vida.

Um espetáculo que mudou minha vida e o meu modo de ver o teatro foi “Macunaíma”, dirigido por Antunes Filho. Acho que assisti quatro vezes na época.

 

Você teve algum padrinho no teatro?

Não.

 

Já saiu no meio de um espetáculo? Qual?

Eu já saí algumas vezes no meio do espetáculo, porque não aguentava a altura do som ou porque achei a montagem horrível, mas hoje tento não sair por respeito ao teatro.

 

Teatro ou cinema?

Eu adoro cinema e teatro, mas um pouco mais o teatro, porque ele é vivo. Ele acontece na sua frente, nunca é igual, é um mistério. Adoro acompanhar outras companhias, ver, sentir, me emocionar, aprender, criticar e elogiar.

 

Cite um espetáculo do qual você gostaria de ter participado.

Existem vários espetáculos dos quais gostei muito e que também tive vontade de ter participado. Vou citar alguns: “Concílio do Amor”, direção de Gabriel Villela; “Nossa Cidade” e “Raposas do Café”, montagens do Tapa; “Áulis“, direção de Elias Andreato; e “Paraíso Zona Norte” e “Gilgamesh”, direção de Antunes Filho.

 

Já assitiu mais de uma vez a um mesmo espetáculo?

Muitas vezes. Assisto várias vezes a um espetáculo quando gosto, sempre aprendo muito, tem tantos aspectos para se observar e aprender. Observar os atores, ver a reação do público, ouvir o texto, reparar na direção, etc.

 

Qual dramaturgo brasileiro você mais admira? E estrangeiro?

Dramaturgos brasileiros: admiro Nelson Rodrigues, Marcelo Romangnoli, Newton Moreno, entre outros. O primeiro é um clássico, tem histórias emocionantes e os outros dois têm histórias contemporâneas.

Dramaturgos estrangeiros: admiro Shakespeare, Brecht, Ibsen e muitos outros, porque eles são universais, têm muito conteúdo e muita sabedoria.

Contemporâneos estrangeiros: admiro Lutz Hübner (Alemanha) e Ad de Bont (Holanda), porque eles contam histórias de vida com muito humor, dramaticidade e conteúdo. Eles também fazem sonhar e têm muito jeito para escrever para crianças e jovens.

 

Qual companhia brasileira você mais admira?

Eu adoro o trabalho de Antunes Filho, do Grupo Galpão, do Marcio Aurelio, do Enrique Diaz e de muitos outros.

 

Existe um artista ou grupo de teatro do qual você acompanhe todos os trabalhos?

Eu acompanho vários grupos de teatro e também assisto a quase todos os trabalhos deles,  porque eu gosto e/ou porque são da área infanto-juvenil, da qual eu também faço parte.

Alguns deles são: Antunes Filho, Gabriel Villela, Marcio Aurelio, São Jorge de Variedades, Meninas do Conto, Vento Forte, Sobrevento, Vagalum Tum Tum, Teatro da Vertigem. De fora do Brasil, acompanho o Grips Theater Berlin e o Schnawl Theater Mannheim.

 

Qual gênero teatral você mais aprecia? 

Tragicomédia.

 

Em qual lugar da plateia você gosta de sentar?

Eu gosto de me sentar próximo ao palco para entrar na energia dos atores.

 

Existe peça ruim ou o encenador é que se equivocou?

Existem as duas possibilidades: peça ruim e encenador equivocado.

 

Cite um cenário surpreendente.

A de “Paraíso Zona Norte”, cenografia de J. C. Serroni; e a de “Raposa do Café”, do Tapa.

 

Cite uma iluminação surpreendente.

A iluminação de Max Keller em “Paraíso Zona Norte”, e a de Wagner Freire para a peça “Com o Rei na Barriga”, direção de Amauri Falseti.

 

Cite um ator que surpreendeu suas expectativas.

Eucir de Souza. Já trabalhei com ele num espetáculo há 10 anos e acho que ele vem crescendo sempre. Cada vez é uma surpresa.

 

A ideia de que tudo é válido na arte cabe no teatro?

Acho que a ideia de que tudo é válido na arte cabe no teatro, desde que seja feita com uma intenção/objetivo, produzida com seriedade, e que tenha um significado para o artista que faz. Por que não?

 

Na era da tecnologia, qual é o futuro do teatro?

O teatro continua com o seu papel importantíssimo: é algo vivo, do momento, uma obra de arte se for feito com seriedade. Acho que ele vai ser procurado sempre. Ele tem a possibilidade de transformar as pessoas. Acredito que a procura de algo mais pessoal, ao vivo, vai ser cada vez maior. Na minha experiência de muitos anos com jovens e crianças, uma vivência teatral é fundamental no desenvolvimento de um ser humano. Essa vivência de se comunicar fisicamente, intelectualmente e artisticamente num processo de encenação, em um ambiente onde todos são “iguais”, é transformadora e é saudável. 

 

Em sua biblioteca não podem faltar quais peças de teatro?

Na minha biblioteca de teatro não podem faltar, entre outras peças, “Sonho de uma Noite de Verão”, “A Tempestade” e “Hamlet”, de Shakespeare; “Aquele que Diz Sim, Aquele que Diz Não”, “Mãe Coragem” e “Santa Joana dos Matadouros”, de Bertold Brecht; “Casa de Bonecas” e “Peer Gynt”, de Ibsen; “Vestido de Noiva” e “Os Sete Gatinhos”, de Nelson Rodrigues; “O Doente Imaginário”, de Molière; “Fatzer” e “Hamletmachine”, de Heiner Müller; “Nossa Cidade”, de  Thornton Wilder; “A Visita da Velha Senhora”, de Dürrenmatt; “Enfim o Paraíso” e “Raposas do Café”, de Antônio Bivar; “Jardim das Cerejeiras”, de Tchecov; “Pedreira das Almas”, de Jorge de Andrade; “O Balcão”, de Jean Genet; “Coração de um Boxeador” e “Dom Quixote”, de Lutz Hübner; “Linie 1”, de Volker Ludwig; “Balada de Garuma” e “A Filha do Rei dos Canalhas”, de Ad de Bont; “Na Arca às Oito”, de Ulrich Hub; ”Momo”, de Michael Ende; textos dos Irmãos Grimm e várias adaptações de contos de fadas, entre muitos outros.

 

Cite um diretor, um autor e uma ator/atriz que você admira.

Diretores que admiro: Peter Brook, Ariane Mnouchkine, Kazuo Ohno, Peter Stein, Andrea Gronemeyer e muitos outros.

 

Qual o papel da sua vida?

Eu não tenho um papel da minha vida, para mim sempre é muito importante achar alguma coisa que me faça simpatizar com a personagem que vou fazer. Recentemente gostei de fazer a Ama de “Dom Quixote”.

 

Uma pergunta para William Shakespeare.

Shakespeare, você escreve as coisas mais belas para o teatro. Como você as escreveria para crianças?

 

O teatro está vivo?

Eu acho que o teatro está muito vivo. Falo isto pelo meu dia a dia aqui no teatro Paidéia. Cito alguns exemplos:

 

– Toda semana temos bastante público para ver os espetáculos.

– No VI Festival Internacional Paidéia de Teatro para a Infância e Juventude: Uma Janela para a Utopia, muitas vezes as atividades ficaram lotadas e várias pessoas não conseguiram ingressos.

– Temos listas enormes de espera de jovens que querem participar da Vivência Teatral que os atores da Paidéia administram. Em 2011, tivemos 102 alunos.

– Os nossos contatos com outras companhias de teatro no mundo (Turquia, Alemanha, Suíça, Dinamarca, Holanda, Itália, Bélgica, França) também nos mostram que o teatro está muito vivo.