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OPINIÃO | "Até onde o humor pode ir", por Ygor Petter

Publicado em: 01/11/2016 |

Até onde o humor pode ir
 
por Ygor Petter*
 
Quem conta “piadas” que ultrapassam o limite do bom gosto diz ser adepto do politicamente incorreto. Censura é algo detestável. Mas não pode ser confundida com a proibição de usar meios de massa que possuem atenção pública para a apologia à discriminação étnica, à homofobia, à xenofobia e a preconceitos e intolerâncias, que é o que algumas piadas fazem.
 
Particularmente, considero ruim quando humoristas fazem comentários ofensivos ou preconceituosos em meios de comunicação de massa sob a justificativa de liberdade de expressão.
 
 
Diversos casos nos últimos anos evidenciaram os conflitos entre a liberdade de expressão e a proteção de direitos de grupos ou indivíduos. Mensagens transmitidas em livros, filmes, programas de TV, publicações na internet e falas de humoristas fizeram com que negros, homossexuais, mulheres e outras minorias se sentissem ofendidos. Houve casos que pararam o mundo, como o ataque terrorista à sede do jornal satírico Charlie Hebdo, após charges e caricaturas sobre o profeta Maomé serem publicadas no jornal. 
 
Outro caso notório foi o uso da técnica de blackface na peça “A Mulher do Trem”, que integra o repertório do grupo Os Fofos Encenam. Na ocasião, a apresentação foi cancelada, dando lugar a um debate sobre a técnica e a representação do negro no teatro.
 
Rafinha Bastos é um exemplo impossível de não ser mencionado. Humorista polêmico, já teve de responder por muitos processos judiciais em resposta a suas piadas de mau gosto e infelizes, envolvendo temas sensíveis como o do estupro. 
 
Esse tipo de humor, pesado e desrespeitoso, é desprezível. O humor que invade, ofende, fere, difama, constrange, violenta a dignidade alheia e ultrapassa os limites do outro não é válido, não é engraçado e não pode servir para o entretenimento. O erro está em individualizar, em personificar o alvo da comédia, da piada. 
 

É válido rir, fazer graça, denunciar o que está errado, criar situações irreverentes. O humor mais fiel vale quando é livre de qualquer amarra e limitação. Mas deve-se estar livre mantendo algum compromisso ético e justo. 

 

*Ygor Petter é aprendiz do Curso Regular de Humor e é bolsista do Programa Kairós
**A opinião de aprendizes em colunas de opinião não reflete, necessariamente, a opinião da SP Escola de Teatro enquanto instituição

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