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O saber popular e o curso de humor

Publicado em: 05/07/2010 |

Por Raul Barretto, Coordenador do Curso de Humor da SP Escola de Teatro

“Palhaços revelam que não somos o que pensamos que somos. Ao rir de um tolo desses que se esborracha de bunda no chão, nós estamos rindo dos animais que fingimos não ser.”
Hugo Possolo em seu livro “Palhaço Bomba”
Ao ler a proposta da SP Escola de Teatro, encontramos os Cursos de Atuação, Cenografia e Figurino, Direção, Dramaturgia, Iluminação, Sonoplastia, Técnicas de Palco. Uau! Que beleza, tudo certo! Tudo contemplado. SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco. Faltava a deformação, e por isso deixo para o final o Curso de Humor. Precisávamos da piada pronta.
Para quê? Para rirmos da nossa empáfia e pretensão, da nossa ousadia pensada e germinada ao longo de dois longos anos de reuniões e discussões. Para mostrar nossa anarquia e nossa loucura. E claro, para provocar. E uma vez instituído o Curso de Humor, óbvio que teríamos que levar esta ideia a sério. E levamos. E nossa máxima é artista formando artista.  Portanto, teríamos que trazer para esta Escola um bando de palhaços para serem Professores! Não é espetacular? No sentido estrito da palavra? Palhaços formando palhaços, professores deformando seres humanos. Mas um palhaço vai ensinar o quê? O palhaço é a representação do fracassado, do desajustado. Dá para levar isso a sério?
Contra o reacionarismo e a caretice vigente, a alegria como agente de transformação. Formar um artista pleno que entenda o significado da arte e seu poder de interferência social, histórica e política, não buscando o aplauso unânime, mas talvez a vaia raivosa que traga no final um riso transformador. Tortas de creme na cara dos tristonhos e também na dos bobos-alegres. Queremos formar demolidores, guerrilheiros entrincheirados com suas bengalas metralhando lágrimas ou pétalas que queimem.  Ao invés de causas justas, bermudas largas. Acreditamos naquele riso que ao final aponte ao menos uma ponta de esperança.
Um Curso que abrigue e ensine este imenso saber popular do Humor, de enorme potencial, com características brasileiras muito próprias, que englobe mais que uma ou outra forma de propiciar o riso. Que contemple a tradição secular da farsa e da arte dos palhaços, vinculando ao aprendizado novas proposições do fazer teatral e da comicidade, como os espetáculos de improvisações ou de comediantes desprovidos de personagens que atuam em diálogo direto com o público.
Uma Escola que esteja totalmente sintonizada com o seu tempo, abrindo espaço para que seus alunos expressem novas tendências e oferecendo-lhes uma sólida base de conhecimento já tradicional, porém, ainda não sistematizado, o que nos instiga a propor uma missão adicional de organizar um inédito centro de referência no ensino e na execução do Humor.
Muitas tarefas, muitos desafios, talvez muitas utopias, sujeitas ao riso, ao escárnio. Mas o que são erros e acertos, alegrias e tristezas? A todos, no final, estará sempre reservada a eterna gargalhada, o riso inextinguível de nossa caveira divertindo-se, sobretudo, com nossa pretensa seriedade. Ride em paz.

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